O B é de Bissexualidade


- Teve notícias do Renan? – Leo perguntou, ao vê-la entrar no carro. Marine balançou a cabeça em um não. – Estou preocupado.

- Eu também. Não tenho mais mentiras para contar para a minha tia.

- Ela me ligou perguntando se eu tinha encontrado Renan.

- Ele vai aparecer logo.

- Eu espero que sim.

No caminho, os dois conversaram sobre o futuro e seus respectivos planos. Naquele momento nenhum deu conta de como os caminhos não se entrelaçavam. Embora falassem do futuro, viviam o presente. Leo a buscou na faculdade e juntos foram ao shopping, depois almoçaram uma pizza no primeiro lugar que conversaram sem brigas. Parecia que tudo tinha acontecido há muitos anos, mas nem fazia tanto tempo assim. No início da madrugada estavam no sofá da casa de Marine, apaixonados demais para perceberem o mundo ao redor deles. No dia seguinte, pela manhã, a realidade empurrou a menina Fleming ao seu terrível passado. Ela tinha contas a prestar com o passado.

- Que merda! – Exclamou, sentindo a mão de Leo pressionar a sua cintura. Cerrou os olhos, olhando na direção da porta de sua casa e xingando mentalmente quem a chamava insistentemente às 8 da manhã.

- O que foi amor? – Ouviu Leo perguntar, sonolento. Ela deu um meio sorriso com o carinho em suas palavras.

- Estão me chamando na porta.

- Ah, vamos fingir que não tem ninguém... – E a puxou para um abraço. – Está muito frio para socializarmos tão cedo.

- Concordo, mas pode ser importante. – Ela deu um selinho leve nos lábios dele e saiu enrolada em uma coberta rumo a porta de sua casa. Por causa do sono, teve certa dificuldade em reconhecer a pessoa parada em frente a sua residência. A cada passo as formas físicas da outra pessoa ficavam mais claras, até que Marine parou no meio do caminho. A outra pessoa sorriu, dando uma leve arqueada na sobrancelha, satisfeita com o que via.

- Leah?

- E aí, Marine Fleming! Quanto tempo...


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“Ela tem os mesmos olhos dele” – Constatou, vendo Leah comer uma batata na lanchonete próximo a casa dela. “Mas os do Finn tinham uma pureza incrível.”

- Você está tão linda. – Ouviu a ruiva dizer, acordando assim, de seus pensamentos. – Sério!

- Obrigada, mas você não precisava dizer ao Leonardo que já namoramos. – Ela optou por não se preocupar de imediato com a reação do rapaz. Estava curiosa com a visita inesperada de Leah.

- Eu pensei que ele soubesse que você era bissexual!

- Eu não sou bissexual, Leah.

- Será que se eu te dar um beijo na boca agora não vou te excitar? – Marine sentiu o olhar da senhora da mesa ao lado queimá-la.

- Cala a boca.

As duas sorriram com a velha cumplicidade de duas mulheres que se conheciam muito bem.

- Eu não quero acreditar que aquele homem sem sal é o motivo de você ter ficado brava com a minha visita. – Leah segurou a mão dela. – Vocês namoram?

- Não, mas estamos enrolados.

- Eu sou mais eu. – E deu de ombros, convencida.

- E eu era muito mais o seu irmão até você me perturbar. – Esbravejei, tirando a minha mão da dela. – O que faz aqui, Leah?

- Eu vim numa missão muito séria, mas antes quero matar a saudade.

- Não.

- Credo, Nina! Pelos velhos tempos... – Ela sentiu quando Leah passou o pé por sua perna. – Foi divertido, vai!

- Foi, mas você mentiu para mim!

- Eu era apaixonada por você.

- E eu era apaixonada pelo Finn! Você se aproveitou disso e também, repito, mentiu para mim! – Leah levantou, puxou a cadeira e sentou-se ao lado da ex-namorada. – Eu não gosto de lembrar disso.

- Eu sei, eu sei... Me desculpe. – As palavras foram ditas no pé de seu ouvido e a reação foi um arrepio inesperado. Marine se assustou com a resposta de seu corpo diante do contato. – Hum...

A mão de Leah passou pela perna da outra, acariciando-a de leve. Um beijo foi depositado em sua orelha.

- É, você não é bissexual não. – Ela riu, vitoriosa. Marine bufou, com raiva. Além de ter que explicar a Leo sobre a ex-namorada, teria que lidar com a chama adormecida da bissexualidade a queimando novamente. – Eu vim aqui porque recebi um tipo de missão.

- Me atormentar?

- Nem preciso, você ainda tem atração por mim.

- Leah!

- Ai, tá bom! Toda vez que eu passava em sua antiga casa via um homem muito estranho parado em frente, quase sempre no período da noite. Um dia eu resolvi parar também, mas para perguntar se ele queria alguma coisa.

- E aí?

- Era um homem assustador, Marine. Não de aparência, mas o jeito dele, sabe? – A morena concordou. – Dizendo coisas desconexas sobre você e sua família.

- Ele se identificou?

Então toda a expressão provocadora e divertida da garota ruiva mudou. Ela abriu a boca duas vezes, sem saber como responder à pergunta de Marine.

- Sim, ele se identificou. Era o assassino da sua irmã, Mariana.

Marine congelou naquele momento. Leah tocou seu ombro, suavemente, pois temia o descontrole diante de sua revelação.

- Como você tem coragem de brincar com isso, Leah? – Forçou-se a ficar de pé, mesmo sentindo todos os seus músculos tremerem como uma gelatina. – Esse assunto me machuca profundamente e você... – Ela balançou a cabeça várias vezes, em negativa, depois, correu para a saída.

Leah deixou o dinheiro do lanche na mesa e correu em direção a ex-namorada.

- Marine! Eu jamais brincaria com esse assunto, pelo o amor de Deus! – Ao alcança-la, prendeu Marine em seus braços. – Jamais gastaria o que gastei de Brasília até São Paulo para te zoar, Nina. Eu sei que você me vê como uma psicopata, mas me preocupo com seus sentimentos. – Ela segurou o rosto delicado, admirando os olhos azulados e chorosos. – Eu tenho como provar. - Ela mexeu no bolso e tirou um pedaço de papel. – Ele disse que era para eu vir até São Paulo te procurar e entregar isso. O homem vai se entregar, mas disse que antes precisa te ver.

Marine segurou o papel, abrindo-o bem devagar.

“Eu a espero em Brasília. Lembre-se que sua paz de espirito depende disso.”

- Isso é mentira. – Marine murmurou, olhando para o papel.

- Não é. Ele deu detalhes sobre você e sua irmã pequenas, inclusive, me mostrou uma foto.

Ela olhou para Leah sem saber como realmente reagir ao que acontecia. Leah não brincaria dessa forma com ela. Mas e se fosse uma armação? E se o homem a matasse da mesma forma que matou Mariana? Ela tinha muitas perguntas, mas somente o assassino de sua irmã poderia dar as respostas.

- Nina, você não precisa ir.

- Eu preciso.

(...)

Leo andava de um lado para o outro na sala de sua casa, sentia-se traído, enciumado e com raiva.

“Ela é minha ex-namorada, uai!” – As palavras da garota ruiva martelavam em sua cabeça. Como Marine não contara isso? O que mais ela escondia?

- Por que diabos aquela ruiva tem que ser tão bonita? Será que eu não posso ter um momento de paz com Marine que algo acontece para nos atrapalhar?

Ele sentou no sofá, ainda irritado demais com o que presenciara na casa de Marine. Olhou o celular, sem muito interesse até que a mensagem de Missaire apareceu no visor, chamando a sua atenção.

“Ei, saudades! Preciso te contar... o Renan está aqui, mas não quer falar com vocês no momento. Tranquilize a Marine e a mãe dele. Prometo te contar tudo depois, beijos!”

“Oi Miss! Que bom que ele está com você, creio que não poderia estar em melhor companhia. Estou com muitas saudades dos dois.

Leo mandou uma mensagem para a mãe de Renan, mas não para Marine. Com ela, a conversa seria ao vivo.

- Dane-se, eu vou beber!

Seguiu para a cozinha, pegou uma garrafa de vodka e bebeu o dia todo. Não passaria por toda aquela situação sóbrio.

No início da noite, acordou com Marine o chamando desesperadamente. Com muito esforço, abriu os olhos e viu que estava no banheiro.

- Leo!

- Oi... - Ela o deitou em seu colo. – Eu estou bem.

- Dá para você parar de ser orgulhoso uma vez na sua vida? Encontro você desmaiado de tão bêbado e agarrado a uma garrafa de vodka para te ouvir dizer “estou bem”?

- Desculpe, você esperava ouvir o que? Um “eu sou bissexual, Leo”?

- Eu não sou bissexual, Leo.

- Ah, não! Eu que devo ser. – Ele tentou se sentar, mas não conseguiu. O enjoo o impedia.

- E que diferença faz a minha sexualidade?

- Diferença nenhuma, Marine. Assim como as coisas que você não me conta. Não tem diferença alguma.

Ela tentou ajudá-lo a se levantar, mas Leo a afastou rudemente, seguindo para a cozinha.

- Leo... Por favor, não vamos brigar por causa disso. Eu preciso te falar uma coisa.

Leo sabia que suas reações eram exageradas e que o álcool falava por ele, mas não conseguia se conter.

- Vai me falar o que? Não me diga que descobriu agora que não sente mais nada por mim e prefere ficar com a ruiva?

- Para, Leonardo! Você está sendo ridículo!

- Pelo menos você tem bom gosto para mulher. – Continuou, a ignorando. – Já para homem, sinceramente...

Marine também não se conteve. Nervosa, deu um tapa no rosto dele.

- Você é um idiota. Um idiota que sempre estraga tudo! É extremamente difícil sentir qualquer coisa por você!

- Deve ser mais fácil sentir pela Leah!

Ela o empurrou com raiva e saiu da casa dele, furiosa. Seguiu para sua casa, trêmula e foi até seu quarto. Pegou algumas roupas, jogou tudo na sua mochila e ligou para Leah.

“Oi Nina!”

- Vamos para Brasília agora!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 08/09/2019
Reeditado em 09/06/2022
Código do texto: T6739944
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