A menina e o cavalo "Petiço"
Era uma vez uma menina de oito anos. Ela era muito bonita! Tinha o corpo razoavelmente esbelto, porte altivo, pele clara, olhos amendoados que buscavam permanentemente o horizonte azul cingidos por nuvens brancas feitas de chumaços de algodão, tinha cabelos escuros, ondulados e longos, costumava deixá-los sempre presos com duas belas tranças, prendendo-as com fitas coloridas no alto da sua cabeça. Realçando sua singela beleza juvenil.
Personalidade forte, inteligente, aprendia tudo com muita facilidade. Dominava perfeitamente o idioma italiano, nasceu no Brasil, mas foi criada por imigrantes europeus que só se comunicavam naquela língua. Fato esse que ocasionou muita dificuldade em sua alfabetização na língua portuguesa. Foi aprendendo aos poucos, estudou até o segundo ano primário, e isso foi o suficiente para aprender um pouco e retirar-se da escola. Não tinha muito tempo disponível para estudar. Naquela época as crianças faziam conforme era possível em seus lares. E a menina ficou órfã aos três anos de idade e fora adotada como filha por seus avós, que tinham uma família bem grande, mesmo assim, acolheram-na com amor, ela era uma criança muito especial e todos a adoravam. Foi muito bem acolhida naquele lar. Aos poucos ela foi se ajustando, aprendendo tudo com facilidade, gostava de fazer as atividades com seus avós e tios. Eram sua família e ajudava-os muito com sua agilidade e alegria.
Eles moravam no Sul do Brasil, numa cidade do interior gaúcho, numa bonita fazenda, com plantações de milho, mandioca e outras culturas típicas da região, criações de animais e muitas árvores frutíferas e exuberantes pastagens naturais. Os capinzais se alongavam até á altura dos joelhos dos gados que ali vicejavam.
Desde muito pequena trabalhava na roça e também nos afazeres de casa como responsável pela comida dos trabalhadores e familiares, alimentava as criações e os animais domésticos, puxava água das sangas para abastecer o consumo de todas as necessidades da casa. Do amanhecer ao anoitecer, ela não parava para descansar, esse era seu lar e gostava do lugar onde morava. Aprendeu muito sobre as plantas ornamentais, frutíferas e medicinais, quanto a cozinhar preparava deliciosos pratos não importando a quantidade e para quem fosse.
Na fazenda tinha um grande pomar com muitas diversidades de frutas e um jardim com magnificas plantas ornamentais, ela adorava comer as frutas debaixo das árvores, com cascas e sementes até seu limite de satisfação. Subia nas árvores e comia até não aguentar mais. Em especial as uvas das parreiras imensas, com uma diversidade de uvas inigualáveis. Foram mudas trazidas da Itália por seus avós. Eram as suas preferidas. Degustava num segundo, cachos e mais cachos das saborosas uvas. Também aproveitava as festanças dos finais de semana nas comunidades junto com seus avós. Ele, seu avô paterno, sendo o gaiteiro das festas, levava ela sempre junto para os bailes e festas das comunidades onde tinham as reuniões dos colonos e fazendeiros da região.
E o tempo foi passando e a menina foi crescendo e se aperfeiçoando cada vez mais em todos os seus afazeres na fazenda. E como ela tinha muitos, e não dava conta de tudo sozinha, seu avô resolveu dar um cavalo para ela. Que apareceu enigmaticamente na fazenda, sem ninguém saber de quem era e por que aquele lindo cavalo foi parar justamente naquele lugar. Perguntaram por toda redondeza e não era de ninguém. Então seu avô resolveu presentear a menina. Que o adorou e imediatamente, batizando-o com o nome de “Petiço”.
Um ágil e elegante cavalo de cor branca, com as crinas um tanto enegrecidas e um galopar suave e harmônico a desfilar pela vastidão da planície,
sua longa cauda perpendiculava ligeiramente acariciando a parte anterior de suas pernas musculosas. Era tempestuoso e temperamental. Segundo ela, ele só obedecia aos seus chamados e às suas ordens de comando. Em especial quando era para montaria. Apenas ela conseguia montá-lo. Um simples assovio e o Petiço vinha correndo ao seu encontro. Faziam muitas peripécias juntos. Quando das muitas chuvas, os riachos transbordavam e alagavam as ruelas e os pontilhões por onde tinham que passar. Petiço era um dos maiores aliados da menina nessas ocasiões. Ele, com seu tropel ágil e tranquilo, saltitava com ela em seu lombo, segurando apenas nas suas crinas. Sem nenhum tropeço, iam adiante num trote só... Era uma alegria ter seu amigo e ajudante para as horas de dificuldade nos afazeres pela fazenda.
Numa ocasião, seu avô tentou encilhá-lo para puxar a carroça. Quem disse que o animal andou? Simplesmente empacou! Não teve carinho ou chicoteada que o fizesse andar. Várias tentativas inúteis. A mesma coisa aconteceu quando ele tentou fazê-lo arar a terra para o plantio. Foi um alarde só. O Petiço permaneceu totalmente parado. Inerte, relinchava e não se mexia...
A menina, silenciosamente, adorava que seu amigo “Petiço” não obedecesse e que fosse submetido aos trabalhos mais forçados. Afinal, ele fora dado para ela. Então: como mágica, ela simplesmente assoviava e o danado corria ao seu encontro. Seu avô não se conformava com a afronta do animal. No dia seguinte, tentava novamente pô-lo na carroça, e nada. E assim fez sucessivas vezes até que desistiu e deixou-o só para os comandos da menina.
Porém, houve uma ocasião em que ela precisou dele altas horas da noite para salvar um animal que estava sofrendo um ataque de outros animais ferozes. Chamou-o, chamou-o... E nada! Na outra noite, a mesma coisa. Então começou a observá-lo. E havia um período da noite em que nem mesmo ao chamado dela o danado do cavalo aparecia. Foi aí que ela começou a prestar atenção e percebeu algo estranho no comportamento do “Petiço”, naquele período da noite. Ele apenas desaparecia. Não deixava nem rasto. Sumia mata adentro... Então; depois disso independentemente dos acontecimentos começou a perceber que era o momento de ela também dormir e descansar e voltava para seu precioso sono. Nem mesmo o amigo estaria atento aos seus chamados.
No amanhecer lá estava ele, lépido e saltitante, faceiro! Ao menor chamado dela vinha correndo e abaixava-se para que ela pudesse pular encima dele e saiam voando pelas estradas, pulando muros de taipas e sangas... Ele saltava como um grande e galante corredor. Nada era empecilho para suas trajetórias. Faziam tudo que era para fazer sem nenhum contratempo. Eram amigos verdadeiros para tudo que tivessem que enfrentar.
Mas durante à noite... Quem pega o Petiço? Ninguém. Ele desaparecia...
Dizem... Que ele era um cavalo encantado! Que veio parar naquele lugar, onde morava aquela bela menina, que fora adotada pelos seus avós, justamente para ser seu amigo e ajudá-la em tudo que fosse preciso, para ser seu amigo e amenizar qualquer sofrimento que por ventura ela visse sofrer. Por ela ser uma menina órfã e desde tão pequena ter que ficar aos cuidados de outras pessoas e não a de seus queridos pais.
Os “anjos”, ao pedido “deles”, que haviam morrido quando ela nasceu, pediram que fosse enviado para ela, um amigo bem especial e ajudá-la em tudo que fosse necessário para ela ser mais feliz e não sentir tanto a falta deles...
Dizem...
Produção texto: Miriam Carmignan
Era uma vez uma menina de oito anos. Ela era muito bonita! Tinha o corpo razoavelmente esbelto, porte altivo, pele clara, olhos amendoados que buscavam permanentemente o horizonte azul cingidos por nuvens brancas feitas de chumaços de algodão, tinha cabelos escuros, ondulados e longos, costumava deixá-los sempre presos com duas belas tranças, prendendo-as com fitas coloridas no alto da sua cabeça. Realçando sua singela beleza juvenil.
Personalidade forte, inteligente, aprendia tudo com muita facilidade. Dominava perfeitamente o idioma italiano, nasceu no Brasil, mas foi criada por imigrantes europeus que só se comunicavam naquela língua. Fato esse que ocasionou muita dificuldade em sua alfabetização na língua portuguesa. Foi aprendendo aos poucos, estudou até o segundo ano primário, e isso foi o suficiente para aprender um pouco e retirar-se da escola. Não tinha muito tempo disponível para estudar. Naquela época as crianças faziam conforme era possível em seus lares. E a menina ficou órfã aos três anos de idade e fora adotada como filha por seus avós, que tinham uma família bem grande, mesmo assim, acolheram-na com amor, ela era uma criança muito especial e todos a adoravam. Foi muito bem acolhida naquele lar. Aos poucos ela foi se ajustando, aprendendo tudo com facilidade, gostava de fazer as atividades com seus avós e tios. Eram sua família e ajudava-os muito com sua agilidade e alegria.
Eles moravam no Sul do Brasil, numa cidade do interior gaúcho, numa bonita fazenda, com plantações de milho, mandioca e outras culturas típicas da região, criações de animais e muitas árvores frutíferas e exuberantes pastagens naturais. Os capinzais se alongavam até á altura dos joelhos dos gados que ali vicejavam.
Desde muito pequena trabalhava na roça e também nos afazeres de casa como responsável pela comida dos trabalhadores e familiares, alimentava as criações e os animais domésticos, puxava água das sangas para abastecer o consumo de todas as necessidades da casa. Do amanhecer ao anoitecer, ela não parava para descansar, esse era seu lar e gostava do lugar onde morava. Aprendeu muito sobre as plantas ornamentais, frutíferas e medicinais, quanto a cozinhar preparava deliciosos pratos não importando a quantidade e para quem fosse.
Na fazenda tinha um grande pomar com muitas diversidades de frutas e um jardim com magnificas plantas ornamentais, ela adorava comer as frutas debaixo das árvores, com cascas e sementes até seu limite de satisfação. Subia nas árvores e comia até não aguentar mais. Em especial as uvas das parreiras imensas, com uma diversidade de uvas inigualáveis. Foram mudas trazidas da Itália por seus avós. Eram as suas preferidas. Degustava num segundo, cachos e mais cachos das saborosas uvas. Também aproveitava as festanças dos finais de semana nas comunidades junto com seus avós. Ele, seu avô paterno, sendo o gaiteiro das festas, levava ela sempre junto para os bailes e festas das comunidades onde tinham as reuniões dos colonos e fazendeiros da região.
E o tempo foi passando e a menina foi crescendo e se aperfeiçoando cada vez mais em todos os seus afazeres na fazenda. E como ela tinha muitos, e não dava conta de tudo sozinha, seu avô resolveu dar um cavalo para ela. Que apareceu enigmaticamente na fazenda, sem ninguém saber de quem era e por que aquele lindo cavalo foi parar justamente naquele lugar. Perguntaram por toda redondeza e não era de ninguém. Então seu avô resolveu presentear a menina. Que o adorou e imediatamente, batizando-o com o nome de “Petiço”.
Um ágil e elegante cavalo de cor branca, com as crinas um tanto enegrecidas e um galopar suave e harmônico a desfilar pela vastidão da planície,
sua longa cauda perpendiculava ligeiramente acariciando a parte anterior de suas pernas musculosas. Era tempestuoso e temperamental. Segundo ela, ele só obedecia aos seus chamados e às suas ordens de comando. Em especial quando era para montaria. Apenas ela conseguia montá-lo. Um simples assovio e o Petiço vinha correndo ao seu encontro. Faziam muitas peripécias juntos. Quando das muitas chuvas, os riachos transbordavam e alagavam as ruelas e os pontilhões por onde tinham que passar. Petiço era um dos maiores aliados da menina nessas ocasiões. Ele, com seu tropel ágil e tranquilo, saltitava com ela em seu lombo, segurando apenas nas suas crinas. Sem nenhum tropeço, iam adiante num trote só... Era uma alegria ter seu amigo e ajudante para as horas de dificuldade nos afazeres pela fazenda.
Numa ocasião, seu avô tentou encilhá-lo para puxar a carroça. Quem disse que o animal andou? Simplesmente empacou! Não teve carinho ou chicoteada que o fizesse andar. Várias tentativas inúteis. A mesma coisa aconteceu quando ele tentou fazê-lo arar a terra para o plantio. Foi um alarde só. O Petiço permaneceu totalmente parado. Inerte, relinchava e não se mexia...
A menina, silenciosamente, adorava que seu amigo “Petiço” não obedecesse e que fosse submetido aos trabalhos mais forçados. Afinal, ele fora dado para ela. Então: como mágica, ela simplesmente assoviava e o danado corria ao seu encontro. Seu avô não se conformava com a afronta do animal. No dia seguinte, tentava novamente pô-lo na carroça, e nada. E assim fez sucessivas vezes até que desistiu e deixou-o só para os comandos da menina.
Porém, houve uma ocasião em que ela precisou dele altas horas da noite para salvar um animal que estava sofrendo um ataque de outros animais ferozes. Chamou-o, chamou-o... E nada! Na outra noite, a mesma coisa. Então começou a observá-lo. E havia um período da noite em que nem mesmo ao chamado dela o danado do cavalo aparecia. Foi aí que ela começou a prestar atenção e percebeu algo estranho no comportamento do “Petiço”, naquele período da noite. Ele apenas desaparecia. Não deixava nem rasto. Sumia mata adentro... Então; depois disso independentemente dos acontecimentos começou a perceber que era o momento de ela também dormir e descansar e voltava para seu precioso sono. Nem mesmo o amigo estaria atento aos seus chamados.
No amanhecer lá estava ele, lépido e saltitante, faceiro! Ao menor chamado dela vinha correndo e abaixava-se para que ela pudesse pular encima dele e saiam voando pelas estradas, pulando muros de taipas e sangas... Ele saltava como um grande e galante corredor. Nada era empecilho para suas trajetórias. Faziam tudo que era para fazer sem nenhum contratempo. Eram amigos verdadeiros para tudo que tivessem que enfrentar.
Mas durante à noite... Quem pega o Petiço? Ninguém. Ele desaparecia...
Dizem... Que ele era um cavalo encantado! Que veio parar naquele lugar, onde morava aquela bela menina, que fora adotada pelos seus avós, justamente para ser seu amigo e ajudá-la em tudo que fosse preciso, para ser seu amigo e amenizar qualquer sofrimento que por ventura ela visse sofrer. Por ela ser uma menina órfã e desde tão pequena ter que ficar aos cuidados de outras pessoas e não a de seus queridos pais.
Os “anjos”, ao pedido “deles”, que haviam morrido quando ela nasceu, pediram que fosse enviado para ela, um amigo bem especial e ajudá-la em tudo que fosse necessário para ela ser mais feliz e não sentir tanto a falta deles...
Dizem...
Produção texto: Miriam Carmignan