A amizade


- Ei, acorda. – Ela sentiu lábios macios tocando sua orelha e se remexeu na cama, dengosa. – Marine...

Identificou a voz de Leonardo e abriu os olhos, lentamente. O cheiro dele despertou os sentidos femininos e a lembrou do que realmente acontecerá e da situação em que estavam. Encrespou-se na mesma hora.

- O que está fazendo aqui?

- Você não vai para a aula hoje? – Perguntou, calmamente. Parecia jogar um campo minado com Marine.

- Hoje a minha aula é a tarde. E eu vou sozinha.

- Marine...

- Não fala “Marine”, como se eu fosse uma criança teimosa.

- Se você não é uma criança teimosa está se comportando como fosse.

- Sim, eu me comportando como uma criança e você sendo um tremendo de um mentiroso!

- Mentiroso? Sério?

- Sim! – Ele revira os olhos e respira fundo. – Não revira os olhos para mim!

- Aquilo não deveria ter acontecido, Marine! Nós somos amigos.

- Foi tão ruim?

Para não socar nenhum objeto a frente, ele fecha o punho e o coloca na boca. Nada o irritava mais do que falar e não ser compreendido. Ela sentou-se na cama, de braços cruzados. Vestia uma camisa clara, que enaltecia e valorizava as curvas de seu corpo. Lembrou da noite de sexo no carro dele, do cheiro dela e de como ela o olhava apaixonadamente.

- Não, Marine! Não é esse o ponto a ser discutido aqui. Você tem um rolo com o Renan.. – Ele a viu abrir a boca para protestar. – Me deixa terminar! Esse seu rolo com Renan é algo completamente mal resolvido e estranho! Eu não estarei no meio disso. – Baixou a cabeça. – Não de novo.

- É impressionante como você prefere usar essa desculpa sempre, não é?

- MARINE! - O grito dele a assustou. Arrependido de sua ação, ele a segurou calmamente pelos ombros. – Por favor, me compreende! - Quase completamente deitado na cama, tentou um novo método para fazê-la compreender. – Eu não estou usando nenhuma desculpa. Não quero que deixemos de ser amigos. – Ela não o ouvia mais. Sabia como Leo era capaz de estragar um momento por sempre falar demais. Mirou os lábios dele ali tão próximos aos dela. – Sexo as vezes estraga tudo entre duas pessoas, mesmo que tenha sido diferente. Você entende?

Ele percebeu o olhar dela. Era um olhar de quem não estava mais ali dentro de uma discussão sobre sexo, sentimentos e conflitos. Leonardo percebeu o desejo no olhar dela e acabou se calando.

- Entendo. – Ela respondeu, depois de algum tempo. Selou os lábios aos dele, atrevida. A mão foi para o pescoço, os dedos entraram nos cabelos e o puxou para um beijo. Ele nem teve como negar ou fugir. Marine era uma realidade. O que sentiam um pelo o outro era era verdadeiro. Os braços que antes tentavam afastá-la, agora queriam senti-la. – Como é que você pode fugir disso? – Perguntou no pé da orelha dele. A voz cálida o arrepiou por completo.

Quando percebeu, parte de seu corpo estava deitado sob o dela. E não era o suficiente para Marine.

- Por que você está fazendo isso comigo? – Ele se ajeitou, voltando a ficar sentado na cama, mas Marine não desistiu. – Meu Deus, Marine... – Sentou no colo dele, amarrando as pernas em sua cintura. – Para. – Ela beijou sua bochecha, depois o nariz. Ele riu, fugindo dos carinhos dela. A mão foi para a cintura, tomando um caminho mais perigoso. - Eu estou atrasado para ir ao trabalho. – Em resposta, ela deixou a alça da camisola cair. – Não!

Ela o empurrou na cama, dominou as mãos dele o beijou, à força. Só parou quando não viu mais resistência. Leo fechou os olhos e a segurou pela cintura com muita força. A ponto de se descontrolar, ele puxou Marine pelos cabelos.

- Olha para mim! – Ela obedeceu. - Eu quero muito transar com você. Eu quero transar com você pelo resto da minha medíocre vida. Estou completamente louco para arrancar a sua roupa e fazer de você minha, mas não vou!

- Você tem certeza?

- Tenho.

Ela balançou a cabeça, assentindo, e saiu de cima dele. Leonardo sentou na cama e depois se levantou, saindo do quarto em silêncio. E graças a isso, o restante do dia de Marine não poderia ter sido pior.

Não conseguiu se concentrar nas aulas e precisou sair para ir ao banheiro chorar de 1 em 1 hora. Na última vez em que saiu, chorou tanto que perdeu o ar. Não podia mais voltar.

- Ei. – Ela viu uma figura feminina parar ao seu lado. – Está tudo bem?

- Sim. Não está vendo? Estou ótima! – A garota sentou-se ao lado dela. – Apaixonada por uma pessoa que é completamente obscura e que não quer sentir nada por mim, embora ele sinta! Estou ótima!

- E por que ele não quer sentir?

- Ele já foi destruído emocionalmente. Eu também fui destruída emocionalmente e mesmo assim faria qualquer coisa para ele parar de resistir ao que sente por mim. Sabe o que ele me disse? – Ela limpou as lágrimas que a impediam de enxergar a outra corretamente. – Que não será o meu herói! Eu nunca quis que ele fosse meu herói. Nunca vou ser salva. É impossível se salvar de si mesma!

A estranha fez algo que Marine não esperava.

Simplesmente a abraçou. Não era um abraço qualquer. A empatia da outra fez com que Marine não tivesse medo de chorar e contar tudo que a afligia. Desde a morte da irmã ao que sentia por Leonardo. Era o início de uma nova amizade.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/07/2019
Reeditado em 19/08/2023
Código do texto: T6690612
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