Nada de bom acontece após às 2 da manhã


Leo e Marine chegaram na festa 1h30 depois, devido ao trânsito da região. O carro foi guardado na garagem e Log os recepcionou, animado e bastante alterado. Abraçou Leo com um longo abraço apertado e elogiou Marine incontáveis vezes “finalmente tu arrumou uma garota que além de muito gata parece bacana pra caramba”, nenhum dos dois o corrigiu, mas trocaram olhares significativos. Os três foram para a cozinha farta de bebida e comida e tiveram que saber desviar da quantidade de pessoas bêbadas que iam e voltavam.

- E aí? – Leo perguntou, apontando para as bebidas.

- O que você me recomenda? – Ela perguntou, encostando-se na geladeira para dar espaço a um casal gay que passava aos risos.

- Olha, eu curto uma boa caipirinha de frutas.

- Eu aceito.

Leo passou um copo de caipirinha de maracujá para ela, que prontamente experimentou.

- Gostou?

- Muito!

Os dois saíram da cozinha com copos na mão e transitaram pela festa, meio sem rumo, tentando se encontrar em meio aquele monte de pessoas desconhecidas. Quando passavam pelo corredor, Log puxou Leo para uma conversa de canto e Marine seguiu até a garagem onde fora guardado o carro. Ela viu uma cadeira parada no canto e franziu o cenho, mas não se prendeu aquele mero detalhe.

- EI GATA, BORA DANÇAR? – Ouviu Log chamar. Leo, ao lado do amigo, sorriu.

- Vamos!

Ela deu mais um gole na caipirinha, que desceu quadrada em sua garganta. Era uma péssima dançarina.

(...)

Parte dos convidados da festa já se encontravam bêbados e jogados aos cantos da casa. Marine passou pela cozinha e viu um casal dormindo em cima da mesa. No banheiro uma garota abraçada a privada como se fosse um namorado. Viu Log aos beijos com uma garota de cabelo vermelho e ao mesmo tempo agarrar outra de cabelos escuros. Ela demorou cerca de 5 minutos para encontrar Leo na garagem, sentado na cadeira. Ele mexia no celular, despreocupadamente. Marine cerrou os olhos, meio bêbada para ter certeza que não via errado.

- Olha você aí! – Ela exclamou, com a voz mole. Leo a olhou, rindo. Sabia que a prima de Renan estava bêbada. – Eu AMEI, essa festa!

- Percebi! Você até dançou funk.

- Funk é muito bom! Eu amei o funk!

Marine tropeçou em seus próprios pés, mas Leo a salvou segurando-a em seu colo.

- Ei, você está bem? – O rapaz perguntou, preocupado. – Marine?

Ela tocou o rosto dele em silêncio, passou os dedos pelos lábios carnudos. Como era de se esperar, a atmosfera do ar mudou e a garagem da casa de Log parecia um universo particular.

- Posso dançar para você?

Leo a olhou por algum tempo, em silêncio. Sentia-se levemente alcoolizado e totalmente atraído pela magnitude feminina ali presente. Não queria fugir.

- Pode.

- Coloca aí no seu celular Foster The People – Pumped Up Kicks.

- Por que essa?

- Eu sempre achei a batida dessa música feita para dançar para alguém que você deseja muito.

Leo procurou a música no aplicativo do aparelho e colocou para rolar. O que estava prestes a acontecer seria uma verdadeira reviravolta na vida deles. Nenhum dos dois estavam realmente prontos para aquilo, mas todo o álcool falou por eles. E todo o desejo de um pelo outro falou através do álcool.

- Fecha os olhos. – Marine pediu, com um sorriso torto. O rapaz obedeceu. Ele segurou na cadeira quando sentiu a língua gelada dela passando por seu pescoço. Como o início da música era lento, ela o provocou com carícias no pescoço e conforme agitava, o corpo feminino se movimentava de forma sensual. O instigando, chamando para ele. Fazendo Leonardo se questionar quanto a sua resistência. Marine era um enigma que o fazia ter vontade de desvendá-la.

Ela sentou em seu colo, mas de costas para ele. As mãos masculinas foram para a cintura feminina tão bem feita e suave. Ele queria mais. No refrão da música Marine voltou a ficar em pé, mas sem se afastar. Leo a puxou pela blusa e impulsivamente a beijou. Por um momento a garota teve certeza que não haveria resistência da parte dele, mas quando acabou a música o beijo também foi parado.

- Você sabe o quanto isso é errado, não sabe?

- Para com isso, sério! – Sentou-se no colo dele novamente. – Olha para mim. Você quer isso! Eu também quero... Muito.

- Marine... - Ela segurou o rosto dele, que tentou afastá-la sutilmente. – Não. É melhor não.

- É incrível como você tem medo de magoar o Renan, não é?

- É porque eu não quero estar no meio de um rolo de novo.

- Eu não sou um rolo dele!

- Ah, não? – A pergunta dele cheia de sarcasmo irritou a garota profundamente. Marine saiu do colo dele, com raiva. – Você tem um rolo com ele, Marine! Eu não sei qual é a sua dificuldade em aceitar isso!

Ela não o respondeu. Estava bêbada demais para brigar e o corpo tremia, mas não sabia definir se era de desejo ou de raiva. Abriu a porta do carro dele e entrou. Viu Leo sair da garagem e voltar alguns minutos depois com um cigarro entre os lábios. Pensou, com raiva o quanto ele era atraente.

Fechou os olhos por alguns minutos e nem se deu conta da presença dele ao seu lado, tempo depois. Havia cochilado no banco do carro.

- Ei...? – Ela abriu os olhos, sonolenta. – Vamos dormir?

- Vamos.

- Vou deitar o banco do carro. Não tem espaço lá dentro, vamos dormir aqui mesmo.

- Tá bem.

Leo deitou o banco do carro, tirou uma sacola em que tinha 2 travesseiros e uma coberta fina. Ajeitou Marine, que já voltara a cochilar. Pegou-se, novamente, observando o quanto ela era bonita e sentiu um aperto no peito. Sabia que tinha tomado a atitude certa em não ter transando com ela, embora seu real desejo fosse domá-la ali mesmo. Enfim deitou sem se importar com o frio ou o desconforto.

Ela virou para ele e deitou em seus braços. Era pequena e delicada. Leo queria protege-la. Não só protegê-la. Queria salvar Marine de qualquer coisa que trouxesse dor a ela. Queria, se possível, nunca mais deixa-la sofrer de novo. Perdido em seus próprios pensamentos, não notou quando ela deitou o corpo por cima do dele e jogou a coberta por cima dos dois.

- O que você... – Ela forçou um beijo nele e segurou suas mãos, para que ele não a impedisse novamente. – Mari...

- Cala a boca, sério. Cala a boca.

Leo lutou contra ele mesmo por alguns minutos, cansado demais para continuar, se entregou ao beijo. Ela só o soltou quando notou que não havia mais resistência alguma. O beijo dela era selvagem e doce.

- Marine... 

- Oi...? – A mão dele segurava o seu cabelo. – Por favor, de novo não.

Ele revirou os olhos, sorrindo. Olhou para ela, inebriado e até apaixonado. Não sabia se era aquele amor passional ou físico, só sabia que naquele momento se encontrava muito apaixonado por Marine. Sabia que precisava senti-la. Marine sorriu e passou a língua pelos lábios, ainda muito bêbada e igualmente apaixonada por Leo. Ambos não sabiam definir qual tipo de paixão era.

Ela tirou a própria blusa, segurou a mão dele, guiando por seus seios. Deixou que ele conhecesse o seu corpo de uma forma que nunca permitiu antes. Nem com seu primeiro e único namorado. Com Finn, o sexo era romântico como num livro de romance entre jovens, meio abstrato. Com Leonardo fora maduro, intenso e extremamente apaixonante. Era vivo. Ele a olhava do modo que Marine sempre quisera ser vista. Diferente do sexo com Renan, cheio de atração sexual vazia. Sexo por sexo.

Dormiram abraçados, pernas entrelaçadas e mãos unidas. Já não podiam ser somente amigos. Marine sabia. Já Leo nunca admitiria.

No dia seguinte acordou sozinha dentro do carro. Leo apareceu alguns minutos depois, arrumado e completamente diferente da pessoa que fora no dia anterior. Entrou no carro, mas no banco da frente. Mal a olhou.

- Bom dia. – Ele deu uma sacola para ela. Dentro tinha uma escova, pasta de dentes e uma toalha de rosto. – Escova os dentes no tanque. Nós precisamos ir embora.

Marine não o respondeu. Colocou a sacola ao seu lado e procurou suas roupas. Vestiu-se em silêncio. Percebeu quando Leo a olhou pelo espelho do carro e logo o viu desviar.

Ela saiu do carro, foi até o tanque, escovou os dentes, lavou o rosto e voltou.

- O que você tem?

- Só quero ir para casa.

- Você não respondeu a minha pergunta.

- Eu não tenho nada.

- Eu quero me despedir do Log! – Leo a ignorou, ligando o carro. Marine balançou a cabeça, assentindo. Sentiu o sangue lhe subir ao rosto. – Você está assim só porque transamos, é sério?

- Eu não quero falar sobre isso. – Respondeu, bruscamente.

Ela entendeu o recado, engoliu o nó que se formou em sua garganta e só voltou a ouvir a voz dele quando chegaram em casa.

Leonardo estacionou o carro em frente à casa dela. Uma brisa gelada passou por eles, arrepiando-a totalmente. O silêncio durou alguns minutos.

- Então é assim que você vai agir? – Insistiu Marine. Concentrando-se em manter a voz calma.

- O que aconteceu aqui foi um erro e não irá se repetir.

- Erro? Erro porquê? – Leo abriu a boca para responder, mas Marine o impediu. – Se você falar que é por causa do Renan, eu prefiro que nem abra a boca.

- Nós somos AMIGOS! - Gritou. - E quer você admita ou não, tem algo com o seu primo que é extremamente mal resolvido. Não quero me meter nisso.

Marine baixou a cabeça, em silêncio. Estava acontecendo de novo. Leo negligenciando o que viveram por causa de Renan. Ela teve vontade de dizer que ele era o responsável por não sentir mais nada pelo primo, mas não conseguira.

Abriu a porta do carro, trêmula. Não sabia se queria entrar em casa, mas também não sabia se tinha forças para continuar com aquela conversa. Leo a seguiu e sem falar nada a abraçou por trás.

O cheiro do cabelo dela o perturbou, fazendo com que a segurasse com mais força. Marine se virou rapidamente e o beijou. Os dois encostaram no carro dele, afoitos e desesperados em sentir mais uma vez. Era tão inesperado e puro o desejo que existia ali, que os assustava e fascinava.


- Olha para mim! – Marine pediu, com a voz completamente dominada pelas emoções. Segurou o rosto dele, forçando-o a olhá-la. – Você sente tudo isso, Leonardo! Eu sei que sente!

- Sinto. – Respondeu, serenamente. Os olhos acusavam uma imensa angústia. – Ele beijou a testa dela, totalmente acalentador. Marine quis chorar com tudo o que acontecia ali diante de seus olhos. Tinha se apaixonado por uma pessoa que não queria sentir o mesmo por ela. Mesmo que involuntariamente sentisse.


Empurrou Leo, com raiva. As lágrimas transbordavam seus olhos. Sentia muita raiva dele. Raiva por ele ser uma pessoa completamente maravilhosa e ao mesmo tempo tão obscura. “Por que ele não podia admitir?” – Pensou, magoada. “O que eu tenho de errado?”.

- Eu não posso ficar com você, Marine. Eu fui completamente destruído pela Cristina. E mesmo que estar com você me cause somente coisas boas, nós somos extremamente destrutivos um ao outro. Eu não sou seu herói.

Ela só ouvira a primeira frase, depois tudo virou um emaranhado de palavras e Marine correu para a casa da tia. Cega pelas lágrimas, teve sorte em não cair pelas calçadas.

Só parou quando entrou na sala. Ela se jogou no chão e chorou por horas, até adormecer ali mesmo. Quando acorda, encontra Renan na sala, vendo TV.

- Pensei em te acordar, mas achei bonitinho você dormindo no chão. – Ela engatinhou até o sofá e se jogou, exausta. – Foi ótimo no interior.

- Que bom.

- Minha mãe disse que vai ligar amanhã para conversar contigo.

- Por que?

- Eu disse que você anda cada vez mais esquisita. – Marine revirou os olhos, mas não o respondeu. Não queria conversar. – O que foi?

- Nada, Renan.

- Chego em casa e te encontro deitada no chão. Sério, seja mais criativa. Brigou com seu best friend?

Ela se surpreendeu em como Renan acertava as coisas sem ao menos querer.

- Não é da sua conta.

- Brigaram. Você é provavelmente a única pessoa da face da terra que consegue brigar com alguém como o Leo. Ele é extremamente pacífico.

- Ótimo, aproveita e casa com ele. Vocês se merecem.

Ela saltou do sofá, de repente irritada demais para ter aquela conversa. Não queria conversar, nem lembrar ou falar. Não que houvesse funcionado, pois sonhara justamente com a pessoa que não queria lembrar.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/07/2019
Reeditado em 04/06/2023
Código do texto: T6690534
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