A lenda do fio vermelho (Akai Ito)
Com a revelação sobre Cristina, a amizade de Leo e Marine fortalecera ainda mais. Passavam os dias e horas juntos. Aprenderam a compreender os defeitos um do outro, tornando a relação tranquila e leve.
- Eu odeio cachoeira, piscina e praia, sério. – Eles se olharam. – Mas a que você me levou é muito boa! – Leonardo sorriu. Era um sábado monótono quando o rapaz bateu na porta da casa vizinha e convidou Marine para ir a cachoeira. Ela aceitou sem pensar duas vezes.
Os dois passaram pelo corredor da casa dele, molhados e pingando água pelo chão. Marine pegou uma toalha que encontrou no banheiro e os dois seguiram até o quarto dele.
- Ei. – Se virou para olhá-la. Ficou sem-graça ao ver a garota só de toalha. – Vou sair do quarto para voc...
- Para! – Ela o interrompeu, revirando os olhos. – Você me viu de calcinha e sutiã. Só quero secar o corpo!
- Ok. - O rapaz ficou de costas quando notou que ela iria tirar o sutiã. Ouviu uma risadinha feminina. – É legal a sua tatuagem. Você criou a história?
- Não! Só ilustrei e pedi para o tatuador fazer em mim. – Ela sentou ao lado dele. - É uma lenda japonesa. Akai Ito.
- Ficou ótima.
- Você nunca a viu inteira.
O silêncio que reinou no quarto do rapaz foi misterioso, porém, necessário. Os dois se olharam por algum tempo, mas não conseguiam falar nada um ao outro.
A ousadia de Marine foi uma surpresa, principalmente para ela mesma. O corpo feminino se deitou na cama.
- Deixa eu te contar a história? - Leo se deitou ao lado dela. – A lenda se chama Akai Ito, popularmente conhecida pelo nome “A lenda do fio vermelho”.
Marine segurou a mão de Leo para guia-lo. A história se iniciava nos braços dela, passando pela região dos seios, barriga e terminava nas coxas, quase no joelho.
- Akai Ito significa “Fio Vermelho”, teve origem na China, durante o Período Hokuso. Segundo a lenda chinesa, a divindade a cargo do “fio” do destino, acredita-se ser Yuè Xià (muitas vezes abreviado para “Yuelao”), um antigo deus lunar “casamenteiro”. Ele é representado por um velho, conhecido como o “deus do amor e do casamento”, e aparece somente sob o luar. Dizem que vive na lua ou no “Yue Ming” (mundo obscuro, equivalente ao “Hades” da mitologia grega). Sendo este deus, o responsável por colocar o fio do destino nos humanos.
A cada trecho contado Marine guiava a mão de Leo para um local do corpo.
- A lenda chinesa original diz que quando uma pessoa nasce os deuses amarram um fio vermelho (invisível para os humanos) nos tornozelos dos homens e mulheres que estão destinados a ser a alma gêmea um do outro.
À essa altura, a mão de Leonardo encontrava-se na altura da barriga feminina. A pele dela se arrepiara com o toque.
- A pessoa com quem estamos fadados a passar o resto da nossa vida, não importando a situação. – Ela o olhou por um longo tempo, depois desviou, voltando sua atenção para a história. Ela guiou a mão dele para sua coxa. Na tatuagem, um casal encontrava-se após uma tempestade desenhada próximo a barriga.
- Acredita-se, que quanto mais longo for o fio, mais longe e tristes as pessoas destinadas estão e vice-versa. Quanto mais curto for o fio, mais perto e mais felizes as pessoas destinadas estão.
A história chegara ao fim na coxa, com o casal unido pelo fio vermelho.
- De acordo com a crença não importa quantos relacionamentos tenhamos, pois só viveremos a “experiência do verdadeiro amor” com a pessoa que estiver na outra ponta do Fio Vermelho.
Os dois estavam muito próximos. A mão de Leo continuava firmemente na coxa de Marine. Ela então se deu conta que estava seminua na cama de um homem, e acabara de notar que esse mesmo homem a atraia de uma forma inexplicável.
- É uma bobagem, não é? – Perguntou, desviando o olhar para o teto. Leo acordara de seu transe.
- O que?
– Essa lenda.
- Não, claro que não. É linda. E no seu corpo então...
Marine sorriu. Queria estar envergonhada consigo mesma por estar ali seminua, mas não conseguia. Não quando Leo a enfeitiçava com seu olhar. A mão dele, dessa vez sozinha, foi para sua barriga.
- Essa foi a tatuagem mais legal que eu já vi. – Marine guiou a mão dele até seus seios. O silêncio que houve naquele quarto foi extremamente cumplice, assim como as carícias. Ele observou as reações femininas ao seu toque e não pode acreditar que aquilo realmente acontecia. “Isso só pode ser alguma piada, ela deve estar me zoando.” – Pensou, mas não conseguia parar. Afastou o cabelo dela e deixou um beijo em seu pescoço. O cheiro que vinha de Marine o deixou enlouquecido.
Leo puxou Marine ao seu encontro. Os dois se olharam, ainda não compreendiam o que era aquilo, mas sabiam que precisavam descobrir. Ele jogou o cabelo dela para o lado, deixando o pescoço a mostra. Trilhou uma linha de beijos, alternando entre sugadas leves, arrancando gemidos de Marine. A mão livre escorregou até a calcinha dela.
Ofegante, Marine encostou sua testa na dele. Os olhos azulados estavam entregues aos olhos castanhos. E os lábios dela também queriam se entregar aos dele.
- Isso é uma loucura, Marine.
- Eu sei. – Ela roçou os lábios aos dele, que resistiu ao desejo de beija-la. – Isso é errado.
- Nós somos amigos. – Lembrou, sugando o lábio inferior dela.
- Sim.
Agora Leo, sentado na cama com Marine em seu colo, queria desesperadamente que ela o parasse.
O que os corpos não conseguiram, a ligação no telefone de Leo fez. No visor do celular o nome de Renan piscava.
- É o Renan. – Avisou. E sua expressão automaticamente mudou.
“É claro que ele ia ligar. Eu tinha que ser lembrado que estou me pegando com a prima do meu melhor amigo, que por sinal, tem algo com ela.”
Foi a perfeita quebra do clima que Leo tanto pediu.
- Sim, ela está aqui. Nossa, mas você é um burro mesmo hein. Ok, ela já vai. Tchau!
Marine se vestia em silêncio. Estava com raiva de como Leo reagira normal enquanto todo o seu corpo parecia entrar em erupção.
- Renan perdeu a chave de casa. Ele está te esperando.
- Ah.
- Marine...
- Esquece Leo. Eu já esqueci isso.