Os olhos de Luiza Cap 14
Uma ideia
Lúcia saiu sem palavras da casa de Inês. Naquela noite o jantar foi muito mais silencioso do que o normal.
Juca quebrou o silêncio perguntando a mulher o que ocorrera. Lúcia deixou Otávio explicar pois o menino era o que mais vicenciara a situação.
O pai de Otávio ficou triste, principalmente porque viveu esta realidade de sofrimento e abandono por parte de seu pai.
Naquela noite Otávio não conseguiu dormir.
Revirava de um lado para o outro. Dessa insônia surgiu uma ideia que poderia mudar a realidade de Luiza.
No outro dia o menino acordou muito cedo:
- Bença mãe.
Lúcia coçou os olhos dizendo:
- Tinha pulga na tua cama pra você acordar bem cedo?
- Nem dormi direito.
De fato os olhos de Otávio estavam bem inchados, mas sua fisionomia estava feliz e pronta para concluir a ideia que matutara a noite toda.
Otávio pensou num plano para reunir toda a vizinhança. O lugar seria no salão da igreja. Quem não poderia faltar era Luiza e Inês.
Então ele foi a biblioteca na hora do recreio.
- Bom dia Otávio, veio pegar mais livros?
- Sabe o que é dona Mirtes, no bairro onde moro, está havendo uma festa, e vai acontecer um bingo, por isso gostaria que escrevesse convites para as pessoas comparecerem.
A senhora olhou para o garoto sem perceber sua real intenção, sentou em frente a máquina datilografia e começou a discorrer.
"Convido a todos para o bingo que será realizado hoje as dezoito horas no salão da igreja."
Dona Mirtes entregou dez folhas na mão de Otávio. O menino beijou a mão da bibliotecária e saiu sorridente.
Na volta para casa ele distribuiu os convites em meio a vizinhança, de certa forma não deu para convidar a todos. Então selecionou aqueles que teriam mais influência em ajudar sua causa.
- Mãe as dezoito horas preciso que vá ao salão da igreja.
- Porque meu filho?
- Quero que me ajude a apresentar Luiza para nossa vizinhança, e assim eles vão poder ajudar a proteger ela e sua mãe.
- Otávio é arriscado, principalmente porque estaremos invadindo a privacidade delas. Não sei se será uma boa ideia.
A dona de casa parou um instante para pensar. Chegou a conclusão que seria bom que Luiza tivesse sim uma vida normal. Poderia ir para escola, brincar com as crianças.
Seria mais saudável assim.
- Tudo bem Otávio, vamos tentar fazer alguma coisa para mudar a realidade delas.
O menino esperou na calçada Inês chegar.
- Boa tarde Otávio, quer entrar?
Ele ficou surpreso com a reação da vizinha e ficou feliz também, de fato isso facilitaria a execução do seu plano.
Os olhos de Luiza sorriram quando viram Otávio, num salto o abraçou dizendo como era bom que ele estivesse ali.
- Otávio esperou Inês se afastar para explicar a Luiza o seu plano, o menino explicou "tim tim por tim tim" o que era pra fazer e qual a intenção. Luiza hesitou, porém não queria mais ficar sozinha e presa naquela casa sem amigos.
De súbito a menina correu desvairada em direção a porta da frente rumo ao salão da igreja recordando as coordenadas que Otávio lhe passara.
Quando Inês percebeu o ocorrido, correu atrás da menina gritando:
- Luiza não faça isso, volta, volta.
Inês parou no meio do caminho se derramando em lágrimas.
Otávio pediu para que ela ficasse calma, confirmava ele que tudo acabaria bem.