Os olhos de Luiza Cap 6

O Fantasma

Otávio ficou estagnado com a reação da nova vizinha, os outros vizinhos que se mudaram anteriormente os trataram tão bem quando Lúcia foi lhes levar o bolo, agradeceram, convidaram para entrar, foram muito receptivos, então o menino comparou tais reações.

No outro dia a rotina se estabelecia, Juca foi para o trabalho, Otávio para escola e Lúcia ficou na lida de casa.

Logo o menino voltou da escola, almoçou, ajudou a mãe, fez as tarefas escolares e foi brincar em frente a sua casa como de costume.

O menino parou um tempo e começou a olhar para a casa da frente, foi quando de repente viu um vulto que passou na janela e não se parecia nada com a mulher que estava morando lá, a estatura era bem menor.

Otávio ficou assustado e ao mesmo tempo surpreso, pois, quem haveria de ser aquela pessoa? Ou melhor, aquela criança?

Tomou coragem, bateu na porta da vizinha, ouviu passos vindo em direção a ele, seu coração pulsava como tambor agitado, foi quando a própria abriu a porta e perguntou:

- O que foi dessa vez?

O menino deu uma engasgada e balbuciou.

- A-a senhora mo-ora sozinha? Que-quer dizer alguém mora com a senhora?

A mulher ficou furiosa e disse:

- Mais era só o que me faltava, um piralho me bisbilhotando, olha aqui garoto eu moro sozinha ouviu, sozinha. Se você viu mais alguém aqui com certeza é um fantasma. E não quero que você venha aqui me incomodar, você não é bem vindo.

Otávio saiu da casa da vizinha pasmo, pálido, e não era por nada que ela havia falado, e sim pelo vulto que vira tão real na janela, que estranho, pensou ele, descendo porta abaixo com os gritos da mulher.

O menino entrou para casa atônito, sua mãe lhe perguntou o que sucedera, mas ele mau conseguia dizer sequer uma palavra. Correu para o quarto, fechou a porta, ficou pensando agora na reação da vizinha e porque ela ficou tão brava quando ele perguntou se mais alguém morava na casa.

Foi para janela do seu quarto e olhou para janela da vizinha, reparou que ela havia fechado todas as janelas da casa e tapado com cortinas, reparou também que eram cortinas escuras, dificultando assim a visão dentro da casa dela.

Naquela noite Otávio sonhou que a nova vizinha o convidou para que ele entrasse na casa. Chegando lá a porta abriu sozinha, ele entrou e não havia ninguém na porta, mas de súbito viu um vulto na cozinha, ele foi caminhando lentamente, quando chegou na cozinha havia uma criança virada de costas e ele falou:

- Olá, você mora aqui, qual é seu nome?

Quando a criança virou de frente, não tinha rosto, apenas um breu. Otávio saiu correndo em direção a porta, mas ela se fechou bruscamente, o menino queria gritar de pavor, mas não saia voz, quando de repente ele acordou gritando socorro.

Os pais de Otávio correram para o quarto do menino, assustados com o grito do filho.

- Filho o que aconteceu? Perguntou o pai ofegante.

- Papai, eu tive um pesadelo, foi horrível.

- Calma meu amor, foi só um sonho.

Disse a mãe com voz doce.

- Mamãe vai ficar aqui , até você dormir de novo.

Otávio se aconchegou nos braços de sua mãe, e dormiu novamente, dessa vez foi um sono tranquilo e sereno.

Na manhã seguinte ele acordou, observando que sua mãe não estava mais em sua cama, então sentiu um cheirinho gostoso de café vindo da cozinha, e também um cheiro de fubá torrado que era o que ele mais gostava, café com fubá torrado e bolo.

- Vem tomar café meu filho, "que saco vazio não para em pé".

- Bença mãe, bença pai.

Era de costume o menino pedir bença todos os dias. Otávio estava feliz, não estava mais assustado com o que sonhara, estava bem.