Aos 18



Por meses Marine dedica boa parte de seu tempo estudando para o vestibular e também participando das aulas do curso técnico de Design. Tanta dedicação tem seu resultado: ela é aprovada com 100% para a faculdade federal de Brasília. Sérgio, orgulhoso, presenteia a filha com dinheiro para ela escolher algo de seu agrado.

Marine escolhe uma tatuagem, mas diferente das tatuagens convencionais, ela leva ao tatuador uma arte criada por ela mesma, baseada na lenda chinesa “Akai Ito” ou “Fio Vermelho”. Raul, já velho conhecido de Marine encara aquilo com um desafio. São 5 sessões de 5 horas no estúdio do rapaz. O resultado é perfeito. A tatuagem iniciava abaixo da axila direita, passava pela costela, trilhava pela barriga, tomava toda a perna esquerda e se finalizava no pé da garota. Era uma história contada em seu corpo.

- Raul, você é um artista! – Marine elogia, vendo-se no espelho. – Ficou perfeita!

- Imagina, Mari. – Desde que Finn a trouxe ao estúdio de Raul, ele sempre a chamara assim. – Sua arte ficou maravilhosa, muito bem desenhada!

- Eu volto, hein?

- Eu torço para isso!

(...)

Meses passam e Marine logo está habituada a faculdade e aos seus cursos. Ela continua passando com sua psicóloga, que a elogia pela dedicação, mas pergunta se a garota ainda pensa em amar. Timidamente, a filha de Sérgio Fleming responde “o amor não é para mim”.

É chegado o natal. Mais uma vez Marine e o pai viajam a São Paulo para passarem juntos com Lana e Renan. O novo encontro entre os primos, dessa vez é distante e um tanto frio. O rapaz está acompanhado da namorada Cris, e Marine faz o possível para se manter longe dele.

Durante a festa, Eduardo, o meio-irmão de Renan aparece e fica ao lado dela, tornando a noite menos solitária. Após a meia noite, depois que Eduardo vai embora e toda a agitação da casa de Lana diminui, Marine vai para o quintal sozinha para ouvir música e olhar as estrelas do céu paulistano. Nostálgica, relembra de Finneas e chora em silêncio. Ela ouve uma risadinha sarcástica ao seu lado e se recompõe rapidamente. Renan tira um isqueiro do bolso e acende um cigarro. Definitivamente em nada lembrava o garoto que era no último encontro entre eles.

- O que está fazendo aqui? – Pergunta Marine, fungando.

- Vim fumar aqui fora. Minha mãe não gosta que eu fume dentro de casa.

- Ah.

- E também estou irritado. Cristina foi embora.

Marine não queria conversar com Renan, mas sabia que ele queria falar.

- Por que?

- Por sua causa. - Ela o olhou, confusa. – Minha mãe soltou uma piadinha bem medíocre sobre nós dois e ela tirou suas próprias conclusões. Além, claro, dela achar você vulgar e metida.

A última frase arrancou um riso de Marine. Renan a observou de soslaio. Ela não era mais a menina envergonhada que só pertencia a ele. Era uma mulher. Tinha virado uma linda mulher. A atração que sentia pela prima não havia mudado, como imaginara ao vê-la chega de manhã em sua casa. Perguntou-se mentalmente se algum dia superaria Marine.

- Eu sou bastante vulgar. - Comentou, irônica.

- Eu sei.

Fumou mais uma vez o cigarro, perdido em seus próprios pensamentos. Não conseguia sentir vontade ir atrás de Cristina, queria estar ali e com Marine. Virou de lado, de modo que agora podia observar melhor a prima.

Os cabelos negros estavam presos em um longo rabo de cavalo. Tinha tatuagens que a faziam parecer moderna e descolada, um piercing no septo que a deixava com um ar ainda mais “alternativo”. Agora usava maquiagem, não era mais a sua menininha. A jardineira jeans que usava evidenciava suas curvas. E Renan não conseguia deixar de olha-la.

- O que foi? – Ela também o olhava. A velha conexão voltava a se ativar, como sempre acontecia quando estavam juntos.

- Você pode usar quanta maquiagem for, tatuar o corpo quantas vezes quiser, ter vários piercing’s, mas ainda continuará sendo aquela mesma menina estranha e solitária que gostava de ler livros numa festa cheia de crianças normais.

- Tentando me ofender para sentir prazer. Sério, Renan?

- Foi o seu namorado que te ensinou isso aí? – Ele apontou para ela, com desprezo. Marine começava a sentir raiva da imaturidade de Renan. – Ah, e eu lamento pela sua perda. Não deve ser fácil perder a única pessoa que conseguiu te amar.

- Cresce, garoto! – Esbravejou, o empurrando.

Ela se afastou para sair dali, mas não foi muito longe. Renan a agarrou pelo cabelo, e sem calcular sua força ou pensar na defesa de Marine, os dois caíram na grama do quintal.

- Ficou nervosinha...

- Você é ridículo, sabia? – Ela estava por cima dele. Os cabelos caídos para o lado esquerdo, a boca entreaberta, respirando rápido. Ele conseguia sentir o coração dela batendo muito forte.

- Você quer me beijar.

- Não quero.

- Eu não estou perguntando.

- E eu estou dizendo que não quero.

- Dane-se, eu quero te beijar.

Beijaram-se imediatamente. Marine nem se deu ao trabalho de resistir. Queria. Sabia que queria. Sabia que era inevitável. E sabia o quanto se pertenciam de forma tão inexplicável quanto improvável. Passaram memórias pela cabeça dele, já faziam muitos anos que viviam isso. O que tinham construído talvez fosse uma história às avessas. Não tinha amor, não tinha carinho, mas tinha uma química, uma posse, uma reciprocidade só deles. Algo que Renan não sabia como categorizar. E nem sabia quando ou como faria acabar. Nem sabia se queria que acabasse.

Passaram a madrugada conversando, se beijando e rindo um com o outro. Ela contou de suas histórias e Renan riu. Ele contou das histórias e do namoro complicado e Marine entendeu. Era dela ouvir e compreender. Antes de amanhecer, quando o sono começava a vence-los, Renan teve algum tipo de choque de realidade. Olhou a garota dormindo em seus braços e constatou que sentia algo por Marine. E algo sentimental. Algo que poderia interferir em seus sentimentos por Cristina.

Deixou Marine dormindo sozinha na grama. Não podia arriscar sentir algo. Não por ela. – “Pelo o amor de Deus, ela é minha prima e é a maior idiota que eu já conheci.” – Dissera a si mesmo, com raiva. – “Eu só posso estar ficando louco.”

E mais uma vez evitou se despedir de Marine, que desolada, prometeu a si mesma que nunca mais se permitiria acreditar em Renan.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 01/05/2018
Reeditado em 04/06/2023
Código do texto: T6324442
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.