Estrelas



- “Aqui Jaz Karen Vergueiro Jardim, mãe, profissional e mulher maravilhosa.” – Ela respirou fundo. Era como ver Karen ali, muito mais jovem, sentada. – Oi mãe!

Bárbara ajoelhou-se ao lado do túmulo da mãe. Fazia um dia bonito de sol no Rio de Janeiro. Eu fiquei alguns metros atrás, apenas observando. Adiei esse momento o quanto pude, mas ela insistia que não era justo não poder visitar o túmulo da mãe. E como é que se diz “não” para uma adolescente de 14 anos?

- Eu não sei como é ter você perto, mas muitas vezes te sinto em meus sonhos. Sinto sua presença. Parece que você está sempre perto, tentando me proteger. Já chorei muito pensando que não é justo você ter morrido quando eu nasci. Não devia ser assim as coisas, não é?

Um aperto em meu peito me fez ter certeza do quanto eu não estava preparada para aquilo tudo.

- Eu queria dizer que eu te amo, mãe. Eu te amo muito. E olha, o meu pai tem sido muito bom para mim. Desde sempre. Ele faz de tudo por mim. Até deixou de namorar por minha causa.

- Bárbara!

Ela me olhou, sorrindo.

- Desculpa, mãe. Então... Eu espero que você esteja bem. E lamento muito não ter você por perto. Ter fotos suas é muito legal, mas fico imaginando como é receber um abraço seu naqueles dias difíceis que meus professores aplicam provas surpresas. – Foi a minha vez de respirar fundo, para evitar o nó que se formava em minha garganta. - Pai?

- Oi, filha. – Ela me olhou, serenamente.

– A minha mãe é uma estrela, não é?

- É sim. Uma linda estrela.

Me ajoelhei ao lado dela e passei a mão pelo concreto gelado que me separava de Karen. Uma brisa leve passou por nós, refrescando e tornando aquele momento estranhamente confortável.

- Quando eu era criança você sempre me dizia que a estrela mais brilhante no céu era a minha mãe olhando para mim.

- Isso mesmo.

- Você acha que estrelas se perdem?

- Não. – Me passou brevemente pela cabeça a primeira vez que vi Karen, depois passou Isabela. As minhas estrelas. Eu era a prova viva que elas jamais se perderam de mim. Até mesmo Karen quando se foi deixou Bárbara, que também é a minha estrela. – Estrela como a da sua mãe nunca se perde, nunca deixa de brilhar. Ela sempre vai olhar por nós. A estrela da sua mãe é para todo o sempre.

- Obrigada, pai.

Ela sorriu daquele modo meio torto e sereno, como o da mãe. Era por esse sorriso que eu me mantinha forte e vivo. Era por esse sorriso que abri mão de todas as outras coisas do mundo. Era por esse sorriso que eu jamais deixaria de contar histórias sobre mães que viram estrelas que brilham no céu.

E estrelas nunca se perdem.
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Finalizei!!!

Lost Stars não é uma história de verdade, mas tem o nome de pessoas de verdade. Pessoas que inclusive, já não estão mais juntas. Não era para ser uma história feliz, daquelas que o casal termina junto. Era para ser algum tipo de realidade meio que alternativa. Um ensinamento. Quantas vezes já deixamos nosso orgulho de lado pessoa amada? Quantas vezes o que não foi dito impediu um casal de ficar junto? E Karen? Quantas vezes já não vivemos ao lado de uma Karen? Isabela's, com certeza já fomos ou conhecemos algumas.

Espero que tenham gostado. Era para ser um conto curto, mas feito de coração.

Eu sempre volto contando mais uma história que vem de repente. Tchau!
Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 11/11/2017
Reeditado em 07/02/2020
Código do texto: T6169020
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