Para sempre Isabela
10 anos depois
- Pelo o amor de deus, papai! Eu tenho 10 anos, pra que lancheira?
- Mas você gostava tanto dela, Bá...
- Com 6 anos, sim.
- Eu acho que estou ficando velho mesmo.
- Ah, não! – A pequena criatura que agora batia na altura da minha cintura me abraçou, carinhosa. – Eu te amo.
- Também amo você, pretinha.
Bárbara, aos 10 anos de idade, parecia uma miniatura da mãe. Pele morena, os cabelos cacheados e volumosos. Os traços do rosto eram meus, mas todo o restante pertencia a Karen.
- Hoje é a apresentação da professora nova.
- É verdade, você me falou. – Passei a mochila para ela. – Se comporte, ok? E sua avó vai te buscar. Preciso resolver algumas coisas no trabalho.
- Sempre!
(...)
Às cinco da tarde eu estava na porta da escola de Bárbara. Avistei ela ao lado de uma moça de cabelos castanhos, usava óculos de armação quadrada, o que deixava moderna, mas respeitosa. Conforme eu me aproximava, também relembrava. Minha filha acenou ao me ver. E a moça não se virou de imediato, pois sabia o que acontecia ali. Ela sabia até mais do que eu o que realmente acontecia ali.
Minhas pernas não me obedeciam, tentei forçar o andar, fazer com que aquele reencontro fosse só mais uma coisa entre as milhares de coisas que me aconteceram desde que ela se foi, mas não foi possível. Bárbara correu até a minha direção e me abraçou.
- Oi, pai! Vem conhecer a minha professora! – E inerte ao que acontecia ali, a pequena criatura me puxou.
De início foi estranho revê-la. Parecia que muito tempo tinha se passado, depois fui me recordando de tudo o que vivemos, de como nosso passado era turbulento e do ponto final que não tivemos.
- Oi. – Isabela estendeu a mão e eu aceitei.
Torci tanto para que a antiga corrente elétrica que nos unia não existisse mais, porém, seguia firme. Ela me olhou com seus incríveis e agora maduros olhos castanhos. Havia serenidade e paz. Havia respeito.
- Olá.
Ouvimos Bárbara falar, sem muita atenção, de como Isabela era uma professora incrível e já a adorava.
- Vem, pai! Eu quero tomar sorvete! – E fui puxado por minha filha. – Tchau professora, até amanhã!
- Tchau...
Entramos no carro com Bárbara falando avidamente sobre as aulas e de como estava animada. Assim seguiu até a sorveteria e também a até a nossa chegada em casa. Tentei prestar atenção, mas não conseguia, não com o retorno de Isabela acontecendo ali diante dos meus olhos.
Liguei para Jorge, a fim de buscar respostas. E como esperado, ele já sabia do retorno, mas não me falou pois achava que não me interessava. Não era para interessar. Honestamente, não tenho a menor ideia do porquê me sinto ansioso.
“- Você tem certeza que quer mesmo ir até ela?” – Jorge me perguntou, surpreso. “- Leo...”
- Me passa o endereço.
“– Certo... É na Rua...”
(...)
30 minutos depois lá estava eu na porta do prédio dela. Me lembrei de alguns anos atrás, quando a deixei na porta do prédio. Ela era apenas uma garota que não me dava muita bola, mas achava alguma graça em mim. Desci do carro, inseguro e segui até a entrada. O porteiro pediu minha identificação, chamou Isabela no interfone e ela surpreendentemente permitiu a minha entrada. Subi até o 8º andar e antes mesmo da porta do elevador abrir totalmente, vi sua figura parada ali, me esperando.
- Não fala nada. – Ela pediu, antes de me beijar, desesperada. Doeu dentro de mim lembrar como tudo com ela era único, desde o sofrimento ao mais profundo sentimento de amor. Eu a segurei pela cintura, correspondendo, sentindo, marcando e guardando. Entramos em seu apartamento, ela fechou a porta, sem deixar de me beijar. Paramos em seu sofá e nos amamos por incontáveis e incansáveis horas.
Terminamos no chão, antes do sol nascer. Ela me olhou com os olhos pesados, devido a todo cansaço. Tocou meu rosto suavemente e selou nossos lábios. Disse aquela frase que eu quis ouvir tantas vezes. Tantas e tantas vezes, para quem sabe, nos salvar do fim.
Histórias de amor as vezes são assim, não acontecem quando você está ali e se acha pronto, o coração batendo loucamente pela pessoa. Ela é o seu universo, você é o universo dela. Mas acontecem ou podem acontecer quando você se torna uma pessoa madura, os sentimentos crescem junto com você. Você aprende a respeitar o tempo e a consequência das coisas
- Eu te amo tanto, Leonardo.