SILENT HILL - 1 - O RITUAL DE SAMAEL - Cap. 1
Porque haverá um tempo em que o deus do paraíso nos tirará da escuridão e dos tormentos que nos afligem.
Capítulo 1 - Bem-vindo a Silent Hill
A cabeça de Harry Mason doía forte. Aos poucos ele foi recuperando os sentidos e, com esforço, abriu os olhos. As suas grandes e pesadas mãos passando das têmporas à nuca, numa tentativa de colocar a consciência em ordens; tudo estava confuso e impreciso. O que houve?, tentava se recordar, mas suas tentativas de forçar o cérebro fazia com que sua cabeça doesse ainda mais. Deu um leve impulso no corpo, mas, assim como sua cabeça, todo ele estava dolorido; fez cara feia. Quando suas pupilas, finalmente, conseguiram focar o cenário em sua volta, todo seu corpo estremeceu, deixando de lado suas dores musculares, um desespero tomou conta dele e o calor do pânico percorria lhe o corpo, seu instinto o deixará em alerta; estava em uma área desconhecida e ameaçadora. Tudo estava escuro, apenas um foco de luz incomodada os olhos de Harry. Era o farol de um carro. Estou no meu carro, conseguirá associar, voltando a colocar a mão na cabeça. O que houve?, voltará a se perguntar. Deu mais uma olhada em volta, apenas com o que seu corpo permitia virar o pescoço. Um acidente, constatou. O carro, um Jeepe, estava levemente inclinado, as rodas dianteiras quase foram arrancadas e o veículo por pouco não batera em um penhasco rochoso. Graças a deus estou bem... acho, pensou Harry. Mas, assim que ele olhou para o banco do passageiro, seu coração disparou. Cheryl!, gritou. O banco estava vazio. Sua filha, que ali estava antes do acidente, sumira.
Cheryl!, gritou mais uma vez. Ele estava preso pelo cinto de segurança e a lataria dianteira do carro prendia suas pernas. Esticou o pescoço para olhar mais uma vez ao banco do carona: vazio! Apenas um caderno escolar rabisco com um desenho da sua filha estava nele. Ele fez um movimento mais brusco e conseguirá livrar suas pernas, depois, soltou o cinto que o prendia e saiu cambaleando do carro, ainda estava tonto por causa do acidente.
- Cheryl! - ele gritava. Deu uma volta completa no veículo que agora piscava os faróis destruídos. Nada de encontrar a criança. - Aonde você foi? Cheryl!
Numa tentativa esperançosa, porém quase inexistente, ele caminho até a porta do banco do carona, a abriu: o banco realmente estava vazio. Pegou o caderno com o desenho de um ursinho feito por Cheryl. Engoliu à seco. O que aconteceu com você? Onde está? Harry deu um giro em volta de seu próprio corpo, a fim de avistar algo, era quase impossível, uma névoa branca, quase acinzentada, cobria toda a região onde estava. Mal conseguia ver 5 metros de distância. Porém, pode constatar que estava na estrada de uma colina: às suas costas, ficava o rochedo a perder de vista para cima, à frente, o penhasco que fazia sua labirintite atacar só em pensar a altura em que estava (graças a deus meu carro não caíra ali). A sua direta ficava a estrada por onde, supostamente, teria vindo antes do acidente. E a sua esquerda, a continuação da estrada, que fazia uma leve curva delicada, se perdendo entre o nevoeiro que a engolia de mansinho.
Foi então que, forçando a vista, Mason notara uma silhueta pequena naquela direção da estrada.
- Cheryl!
Ele caminhou até a direção da silhueta, queria correr, mas seu corpo não permitira, ainda se recuperava do acidente que teve. Gritou o nome da sua filha mais uma vez. Mas a silhueta apenas se afastará. Ele caminhou mais, fez a pequena curva da estrada. Perderá a silhueta de vista, droga! Mas era evidente que, quem quer que fosse, e esperava que fosse sua filha, essa pessoa teria apenas uma opção que era seguir em diante da estrada. Ele tentou acelerar os passos. Aos poucos, a visão de uma grande placa surgia grandiosa entre a estrada e o penhasco. Sua atenção, além de seguir a estrada para ver onde poderia ter ido o dono da silhueta, estava agora concentrada na enorme placa que surgia lenta a sua vista, estava pendurada em madeira já corroída, a placa também era de madeira verde desgastadas, nela, em letras retas, douradas e grandes, Mason pode ler os dizeres:
"WELCOME TO SILENT HILL" - Bem-Vindo a Silent Hill.
Mason caminha a passos largos pela estrada que dá acesso a cidade de Silent Hill, a névoa parece se intensificar cada vez mais, o que fez com que sua visão fique ainda mais prejudicada. Ele acelera os passos, o som de suas botas pisando no asfalto é agora o único barulho que ele escuta: toc toc, toc toc, toc toc. Não conseguia mais ver nada a sua frente, a nevoa cobriu tudo, perdera a silhueta que seguia, mas sem dúvida ainda estava no caminho certo, pois a estrada ainda era única.
Foi então que Mason chegara a um cruzamento, a cidade, enfim, aparecera em sua volta: uma larga rua de duas mãos que se perdia de vista, outra rua com as mesmas proporções cruzava esta que agora Mason estava, ambas estavam sujas e com as faixas de sinalizações de tinta branca desgastadas. Toda a cidade parecia bem simples, seus postes de ferro e vidro em cima estavam todos apagados, mas também pudera, ainda era dia claro. À direita de Mason, casinhas, quase todas pintadas de verde musgo ou marrom claro, com toldos também das mesmas cores, todas com dois andares. À esquerda, por onde cruzava a outra rua, as casas tinham janelas maiores, provavelmente eram prédio comerciais. Toda a calçada era feita de paralelepípedos de tijolos vermelhos e ziguezagueavam em curvas simples. Ele notou que todas as casas estavam com luzes apagadas, tudo estava escuro em seus interiores, ou pelo menos assim percebia, mas não tinha muita certeza, uma vez que a neblina nada poderia lhe dar de certeza com o que seus olhos tentavam ver. Alguns carros estavam estacionados nos acostamentos das ruas, a esquerda um fusca vermelho, a direita um Ford anos 80, mais adiantes outros carros também estavam parados, mas não conseguia ver quais modelos eram.
- Cheryl, onde você pode estar? - ele olhou em volta, não ouvia se quer um barulho, nada se movia ali. - Estranho, está tudo quieto, muito quieto. Este lugar parece uma cidade fantasma.
Mason, acelerou os passou pelas ruas de Silent Hill, conforme mais adentrava nela, percebia que as ruas estavam sujas, toda a cidade parecia estar realmente abandonada, o que ele achou estranho. A névoa que cobria todo o lugar ficara mais densa e mais acinzentada, pequenos flocos parecidos com neve caiam do céu, mas ele sabia que neve não era, pois não estava frio, provavelmente cinzas, mas cinzas do que, ele se perguntava.
Ele percorreu uma rua silenciosa, até que ouviu outros passos que não eram os seus, ecoava distante, porém ele teve certeza que os ouvira. Sim, havia passos por ali e ele avistara, provavelmente, a mesma silhueta da estrada, mas agora, com a névoa acinzentada, era ainda mais difícil distingui quem poderia ser: - Espero ser Cheryl, pensava. Ele seguiu a silhueta, virou uma rua e, do outro lado da rua, em frente a uma pequenina casa, com escadas de madeira e uma árvore na frente, ele pode avistar melhor a perfil: parecia ser de uma criança, sim, talvez a mesma que ele seguira desde a estrada, ainda não tinha a certeza. Ele semicerrou os olhos para poder ver melhor, caso a mal visibilidade não estivesse o atrapalhando, ele podia ver uma menininha, usando um uniforme escolar em tecido xadrez azul ou verde, com cabelos escuros e curtos que cobriam quase toda a face, usava um sapatinho rasteiro e carregava, entre seus braços, algo que poderia ser um caderno ou um livro.
- Aquela é Cheryl?
A criança então corre e, mais uma vez se perde entre o nevoeiro. Nervoso e ansioso, Mason também dispara a correr, mas agora só ouve seus passos ecoarem no asfalto frio da cidade silenciosa.
- Aonde você vai? - ele gritou quando já se aproximava da criança. - Hei… espere… pare – ele falou, assim que a criança começara a correr de novo.
Ao segui-la, Mason chegou a um beco, cercado por casinhas com cercado velho de madeira. No beco, vários tambores de lixos cheiravam mal, pequenas portas de metal roliças estavam tortas nas saídas das casas, seus telhados eram desgastados e pareciam estarem podres pelo tempo. Ele continuou a correr pelo beco atrás da criança, os toc toc, toc toc, toc toc, que faziam seus sapatos pareciam agora uma eternidade, num beco sem fim e melancólico. Com a pouca visibilidade, mais a velocidade em que se encontrava, ele quase dá de cara em um muro baixo de tijolos, que separava o fundo de um pequeno prédio também de tijolos e desgastados, como tudo ali parecia estar. A princípio, ele pensara estar sem saída, mas ouvira um barulho de portão de ferro vindo do seu lado esquerdo: o beco ali continuava. Ele seguiu.
De fato, ali, havia um baixo portão de ferro corroído, com os uma placa que dizia “Cuidado com o Cão”. Estava destravada, Mason passou por ele e quase caiu para trás com o que encontrara do outro lado: no chão, bem em frente ao portão, havia um corpo estraçalhado, estava tão desfigurado e ensanguentado, que Mason não pode distinguir se era de um humano ou algum bicho grande. Ele colocou a mão na boca, uma ânsia de vômito tomou conta dele. O cheiro de sangue e carniça era forte, mas nem um simples mosquito rondava o cadáver, parecia que nem mesmo eles queriam ficar naquela cidade. Mason começa a imaginar que poderia ser o corpo do cachorro do qual a placa pedia para ter cuidado, ou assim tentava se tranquilizar. Ao lado do corpo, na parede, muito sangue espichado, parecia que tinham estourado aquele ser vivo.
O beco estava mais escuro do que quando Mason entrou nele, agora ele era dividido entre as baixas casas e altos prédios envelhecidos e sujos. Latas de lixo estavam espalhadas, sujeira por toda parte. Mason estava ofegante, respirava fundo pelo cansaço da corrida que dera até ali. Não avistara mais a menininha, decidiu prosseguir o vasculho ali no beco, a menina não poderia ter ido para outro lugar, certeza. Tentou esquecer o corpo mutilado que estava ali no chão, e seguiu por um corredor ainda mais estreito até então. Desceu quatro degraus e virou à direita, ele estava entre dois prédios abandonados, era possível ver suas tubulações de água e esgoto, tudo fedia. Ele acelerou o passo, queria sair dali o mais rápido possível, só queria achar logo a criança, aquele lugar era repulsivo e nojento.
Virou novamente à esquerda e encontrou outro portão de ferro, também estava destrancado. Assim que ele passou pelo portão, e ouviu seu agourento barulho de ferro enferrujado, tudo começou a ficar escuro, era como se o dia, de repente, tivesse anoitecido.
- Isso é estranho. Está escurecendo – pensou ele alto. Olhou para o pulso, mas notou que estava sem relógio, não podia saber que horas eram, mas em nenhum lugar anoitecia assim de uma hora para outra, a não ser em Silent Hill, pensou.
Tudo agora era breu, ele não conseguia ver nada a sua frente, o prédio tampava quaisquer chances de iluminação natural da lua, e ali no beco não havia nenhuma fonte de luz. Ele então lembrou que tinha uma caixa de fósforos nos bolsos, mesmo não fumando mais, ele ainda não perdera o costume de ter carregar consigo uma caixinha ou um isqueiro qualquer.
Sabia que não seria de muita utilidade palitos de fósforos, mas, no momento, era a única coisa que tinha. Acendeu um palito: - Melhor que nada, falou. Pouca visibilidade apareceu em sua frente, mas foi o suficiente para que seus olhos se acostumasse com a pouca luz e ele conseguisse seguir em frente pelo beco.
Se, por um lado sua visão estava prejudicada, por outro ele tentou aguçar sua audição, tentou ouvir mais passos da garotinha, mas tudo era silêncio e escuridão.
Ele caminhou pelo corredor do beco, que ficava cada vez mais estreito, ficou aos tropeços nas paredes e nas curvas que era preciso dar. Quando teve que virar novamente, topou em uma velha cadeira de rodas que fez um barulho que o arrepiou. O que uma cadeira de rodas estaria fazendo ali? Seria lixo?
Caminhou mais, já estava cansado, ofegante. Mais a frente, outro grande susto: uma maca de hospital apareceu em sua frente. Com o susto, o fósforo se apagou. Trêmulo, ele acendeu outro e todo seu corpo tremeu de medo: a maca hospitalar estava com um corpo coberto com um lençol branco, todo ensanguentado e fedido a podridão. Uma poça de sangue estava no chão, possivelmente alguma ferida do corpo fez com que todo seu sangue se esvaísse pelo chão. Mason estava confuso e amedrontado. O que era tudo aquilo? Sua cabeça começara a doer de novo. Não queria, no momento, se prender a essa maca com o corpo, apesar de que não é sempre que se encontra isso em um beco qualquer.
Agora, por onde andava, percebia que estava pisando em sangue. Em alguns lugares, ainda estava fresco, ele pisava com repulsa. A cada passo, mais e mais sangue. Até que chegou a uma parte em que tudo era sangue, no chão e nas paredes. Tremendo, Mason acendeu outro fósforo, subiu para melhor iluminar, e, assim que o fez, na sua frente, quase que o tocando, uma parede cheia de arames farpados, cobertos de sangue e podridão, pendurava um corpo humano em estado em putrefação. Mason colocou a mão livre na boca; o corpo estava todo ensangüentado, pendurado com os braços abertos, os pés juntos, tal qual a uma crucificação.
- O que é isso? O que está havendo aqui?
Mason começa a se afastar do corpo, andava a leves passos de costas. Estava muito assustado, queria sair dali, mas, assim que se virou para correr, barrou-se com uma criatura estranha: era uma espécie de bebe, deformado, sem boca, sem olhos, com a pele amarela e pegajosa, que andava em sua direção, e o mais incrível: com uma grande faca na mão. Ele tentou se desviar da criatura diabólica. Perdera o fósforo aceso, mas não havia tempo de acender outro, corria batendo nas paredes, com as mãos na frente. Sua vista logo se acostumou com a escuridão, era possível ver um pouco o ambiente. Assim que virou a direita, outra criaturinha, tão asquerosa quando a outra que o seguia, apareceu a sua frente. Agarrou-lhe suas pernas. Mason gritava de pavor, tentava se livrar da criatura. Quando conseguiu, correu o mais que pode, passou pelo corredor ensanguentado. Quando virou mais uma vez, bateu de cara com uma grade de ferro, que antes não estava ali. Estava bloqueada por uma cerca. Mason estava sem saída. Deu meia volta e, assim que ia correr, na sua frente havia quatro das criaturinhas, todas com facas nas mãos, Mason estava bloqueado. Os monstrinhos o cercaram, o agarraram. Ele tentou, mais uma vez, se livrar deles, mas não pode. Levou um golpe de faca, tentava se livrar, nada, tudo estava ficando escuro, estava machucado e apavorado. Não conseguia mais nem gritar. Perdeu as forças. Tudo ficou escuro e caiu.