Amor à primeira revista
Foi o Sesinho que meu coração conquistou. Praticamente sem rivais por perto, foi amor por certo. Eram mensais as suas edições, e um gosto indescritível ver papai chegando da fábrica de tecidos sobraçando a revistinha. E não era só eu não o beneficiário daquela benesse, alcançada até sem prece. Mas a prece vinha depois.
Eu é que talvez fosse o mais demonstrativo da perrada. Comprazia-me sobremaneira ver, ler, escrutinizar a revistinha por inteira. As aventuras do gato Champagnat eram seguidas com a devoção dum penitente. Até a saudação do Vovô Felício, lida por último, ficava interessante.
Uma vez, no ano de 56, trouxeram uma viagem pelo mundo, por meio das bonecas representativas de cada país ou região. Apaixonei-me pela do Tirol. Mas só dialogava com ela sob o lençol.
E a vez que visitando com a tia Rita a casa de Dona Iria, diretora da escola, vi um seu guarda-louça abarrotado - mas trancado - de Sesinhos. Completinho. Via-se pelo vidro aquela maravilha, cobiça de meus sentidos unidos.
Não sei se ousei pedir pra ver ao menos as capas. Acho que não. Dona Iria não se compadeceu de meu olhar mendigo. Nada. Visita acabada e aquela vontade danada. E ainda diziam que ela era uma fada...