Sensível quanto a brisa.
Cachos livres dançando soltos na minha cachola, amontoado de livros já lidos e relidos, chocolate quente e cremoso... É gostoso quando o frio nos faz companhia.
Batom vermelho enfeando a boca carnuda, alma sem enfeite, veja só que deleite!
Caneta preta posicionada na mão direita e um papel em branco implorando rabiscos.
Como ouso pensar em escrever palavras quaisquer naquele nobre papel? Me pergunto ligeiramente. Mas quando percebo me arrisco, e da minha mente saem coisas com sentido.
Sentido-sentir, não sentindo-razão.
No meio das palavras escritas, ouço a chuva caindo singelamente sobre meu telhado e toda a sensação e o cheiro que ela traz consigo combinam com o vapor que ecoa da caneca cheia de chocolate quente, misturam-se então à minha língua e sinto o gosto da felicidade entrando em meu corpo.
Não termino o poema, porque decido sentir a poesia que é estar vivo, saio correndo de roupa e tudo em encontro com a chuva, aproveito a rua vazia para sentir cada pingo tocar minha pele e massagear o meu espírito. As gotinhas escorrem por mim, entram em minha boca, permeiam entre meus dentes e descem junto a minha saliva para o mais íntimo do meu ser.
Sinto-me voar, começo a cantar e a dançar e percebo que tempestades só machucam quem inventa de enfrenta-las, tenho nelas uma fortaleza, aproveito-as, pois sei que passarão.
Sinto-me também, a pessoa mais feliz do mundo, pelo presente que o céu me deu neste fim de tarde triste e chuvoso.