Vingança
O imortal e a morte... Estranha combinação.
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¤ Aquele olhar estava submerso num preto fosco, e tão sem vida eles se tornavam distantes e misteriosos. Não havia nada de solicito nas feições daquela titânide, a cor da maçã era algo inexistente para habitar aqueles traços pequeninos e de firmeza inabalável. "Quem era ela?", deveria ter se perguntado Hypérion, no momento em que havia sido pego pelo feitiço indefensável lançado por aquela "mulher". Não sentira raiva, pois esta não existia em seu cerne. Mas aquela brincadeirinha deveria ter resposta, ela deveria levar a espada que corta as trevas, subjugando-a à uma indubitável submissão. Assim, ela saberia que encarar o titã mais próximo de Cronos, era algo longe de suas funções.
E brandindo a espada, o silencioso local foi oprimido pelo rangir metálico em conjunto com o serpentear ligeiríssimo dos raios lançados por Céos. Uma mistura que provocara um eco agudo, cujas trevas tremeram àquela estonteante demonstração de poder... Contudo, toda aquela junção não parecera obter êxito.
A frieza que cingia o semblante imaculado da traidora não mudara, e as palavras, intrépidas e fulminantes, dançaram no ar. Mas, naquele mesmo instante, em harmonia com suas palavras, mesmo sendo uma energia diferente, uma luz plácida tingiu a escuridão e a força dos ataques de Hypérion e de Céos cederam à ascensão luminosa desencadeada de origem ignota...
"Esse é o dia em que nosso senhor temia e ansiava... O dia de nossa destruição e aprisionamento... Pelas próprias mãos de seu filho." O regente de toda aquela energia era o próprio Zeus, filho de Cronos... Se via paz em seu semblante e voz, e seu espírito estava implacável, até amedrontador, caro leitor. Algo que Hypérion não compreendeu. ¤
- CÉOS! - Naquele turbilhão de luz, a calma era impossível e o raciocínio era preenchido pela imagem de Céos caindo, seu querido Céos, que sempre estava ao seu lado. Tentara estender a mão, tentara defendê-lo, tentara suspirar, mas tudo falhara, e o castelo de aço que era a sua mente e poder, sucumbiu, transformando-se em papel.
A espada deslizou no ar, zunindo, enquanto o sol negro batizava a luz num encontro disforme. Em todo aquele fulgor e magnitude, o sol negro não conseguiu macular a nobre essência de Zeus, que tão trepidante, destruiu o que vinha a sua frente... E não só isso...
- Seu Maldito, lhe mostrarei o poder do sol negro, a extensão inabalável que destrói a própria morte... - O vozeirão fez ressoar a poesia da morte, a frase que antecedeu o primeiro e único ato de Hypérion, mas aquele que deixaria uma das maiores mazelas num corpo frágil, corpo de mulher. Por mais incrível que fosse, o seu alvo não era Zeus, mas a própria Mnemôsine, a traidora, a sórdida usurpadora de conhecimentos alheios. - ... EBONY VÓRTEX! -
Ele mirou e ascendência de sua cosmo-energia foi impetuosa naquele instante, mais sublime e voraz que qualquer vez que à utilizara para seus propósitos. Ele queria destruir um traidor, não vencer uma luta qualquer. Primeiro deveria eliminar aquela que tinha enganado-os, e mesmo sendo jogado ao tártaro, iria feliz... Já que conseguira tirar o fado de seus ombros. ¤
- Arrghhhh! - ¤ O turbilhão negro, criava uma explosão momentânea no cenário, acalorando os recantos invisíveis, criando uma movimentação de rochas, poeira e vento e as palavras contra Zeus foram uma distração rápida, pois ele só queria aquela pequena fração de milésimos para acertá-la e deixar-lhe a ferida, à qual não cicatrizaria nem tão cedo.
- Eu vou, mais você irá junto, e quando retornar à vida - pois sei que voltará -, lembrará desse dia. - O olhar avermelhara-se, cujo carmesin era puro sangue, e a face assemelhava-se à dela em toda a sua imponência na hora da traição, da demagogia de poder livrar-se dos ataques de ambos, por ter humilhado-os.
E Zeus, vendo que a titânide ficara ferida, não teve remorso nem de um nem de outro e os puniu, mandando-os ao tártaro com sua rajada mítica e mortífera: o poderoso raio de Zeus.
A titânide, com um rasgo do ombro direito até o abdômen, semi-cerrou o olhar de tanta dor, e os olhso foscos adquiriram um brilho de medo, de pavor, enquanto ela fraquejava e caia de joelhos no chão, sendo excomungada pela energia em sua totalidade. ¤
O que era pra ser história, poucos souberam, pois os pergaminhos sobre a existência dos exilados não seria importante para uma humanidade cuja divindade era o próprio rei do Olimpo. E estes, tão antigos e amarelados, permaneceram debaixo dos braços do deus pai, sobre seus olhos de águia, num local que ninguém poderia descobrir, nem mesmo suas hostes mais confiáveis: os deuses; pois a inveja é uma arma que não pode ser bem manuseada, justamente por seguir nossos anseios mais mesquinhos.
O tempo passou... Passou... E parou na época atual. Um regozijo, um suspiro demorado para os titãs, que libertos pela escravidão de um mundo inóspito, agora podiam desfrutar da tranquilidade de voltarem ao mundo.
No âmago, ele sentira o enfurecimento de uma energia, talvez distante por ele ter estado preso, mas iluminava-o mesmo à distãncia: era poderosíssima, mas nada que intimidasse, nada que superasse um titã, nada que chegasse a 1/10 do poder de Zeus, o maldito. E a junção com Céos, até na prisão de pesadelos infinitos, tinha unido-os ainda mais, tanto que, no despertar de Céos e o motivo dele afastar-se, gerara inquietação em Hypérion, que, após minutos, ainda embalsamado pelo enjôo do torpor, abrira os olhos, vendo a escuridão suave das ruínas de sua prisão. ¤
- O dia que previ, finalmente chegou... Seja bem vindo, seja bem vindo ao império dos titãs: a terra que será presenteada aqueles que sofreram por eras num sono eterno; e que agora poderão desfrutar de um despertar cujos sonhos se tornará realidade. - O riso vitorioso deixava para trás todo o labéu que outrora havia adornado os seus iguais e a si mesmo. O desfrute daquele momento fora inesquecível... o que fora previsto há muito, acontecia assim como ele dissera, como todos deveriam saber intrinsecamente.
- O tempo sabe de nosso retorno, pois foi ele mesmo quem zelou pelos nossos corpos e por trazer aquele que nos libertaria, assim como libertaria o nosso rei. A capacidade deste humano é ímpar, admito. Daqui eu sinto que não se assemelha ao poder de um deus... Irei agradecê-lo da minha maneira. - Sussurrava pra si mesmo, e via que a voz voltava ao normal, tão rapidamente quanto um piscar de olhos. o corpo parecia embriagado em êxtase, e a sohma, reluzente e montada à sua destra, o convidava à trajá-la mais uma vez. - Sentiste minha falta?... - Semi-cerrou o olhar. - Eu também senti a sua. -
- [...] Venha e me cubra. - Ordenou com voz baixa, e a sohma o vestiu naquele mesmo instante, obedecendo ao seu sutil comando.
Céos não estava lá, assim como constatara antes mesmo de acordar, pois a ligação entre eles era inacreditável, um elo que jamais perderia-se mesmo que a terra se tornasse pó ou o universo reiniciasse todo o seu ciclo.
E sabendo que cosmo-energias precipitavam-se no lado de fora, dali mesmo, ele pronunciou... - Céos, vejo que voltou mais bonzinho... Não precisaremos defender nossos irmãos, justamente porque iremos eliminar esses ratos de uma só vez, como recompensa de nossa libertação. -
A voz saia de todos os cantos, e não poderia saber a sua origem. Todo o lugar estava embebido naquela demasiada majestade oral. Uma voz grave, imponente, pausada e direta... Até ele aparecer no alto, saindo de uma fenda negra, como um turbilhão semelhante à infinitesimal obra do ebony vórtex, ficando flutuando ali, com sua sohma e sua face coberta totalmente por seu elmo sombrio, o braço direito suspendendo a espada gigante, cuja ponta direcionava-se involuntariamente na direção de todos os presentes - cavaleiros. ¤
- Que inútil demonstração de poder, humano. Que ela se desfaça. - Olhou para aquele que utilizavasse do ar para criar frio, e anulou aquela sutil ascensão de cosmo como se fosse nada, utilizando apenas uma leve emanação de seu próprio cosmo. Não deixou de escutar o que o mesmo rapaz havia dito, e sorriu por dentro. " Então pensam em proteger alguém do próprio grupo. O que aconteceria se ele morresse agora?"