Telshine - Parte 2
Eles levaram dez minutos para chegar à praia. A praia é grande, tem pelo menos um quilômetro de extensão. As ondas são pequenas e caminham vagarosamente por sobre a areia. Como era uma manhã de quinta-feira, haviam apenas algumas poucas pessoas deliciando-se com a calma do lugar. Em sua maioria, turistas, que não perdem um minuto sequer para ver as belezas que aquela natureza oferece.
–E aí, o que a gente tem que fazer? – Alex perguntou, quando chegavam perto de seu destino.
–Bem, segundo a apostila, temos de fazer um mapa da caverna, a estratigrafia, classificação da caverna, reconhecimento dos tipos de rochas, essas coisas básicas.
–Essas coisas chatas, você quer dizer – Alex estava entediado.
A caverna a ser explorada por eles encontra-se no extremo norte da praia, em meio aos rochedos, e parece não ter nada de diferente, apesar de sua entrada estreita e interior extremamente escuro.
–Vai na frente – disse Alex, olhando de canto para a caverna.
–Deixa de ser medroso – disse Albert, debochando dele –. É uma caverna costeira, não existe nada além de caramujos aí dentro.
–Não é isso, é que... eu... eu quero aproveitar meus últimos segundos de civilização e luz do dia – Alex parecia um ator de tragédia grega.
–Vamos logo – Albert empurrou o amigo pra entrada da caverna –, nós não vamos ficar aí dentro mais do que algumas horas, e temos lanternas e baterias de sobra.
–Se eu me perder e morrer dentro dessa caverna, eu volto pra te assombrar – riu Alex, enquanto entrava na caverna e era seguido por Albert, que também ria, enquanto ligava as lanternas.
–Você devia é estudar teatro, seria um uso perfeito para todo esse teu drama.
A entrada da caverna é um tanto estreita, mas só nos primeiros metros, pois a passagem se alarga à medida que se aprofunda. A caverna de Grantlink tem uma passagem arredondada e quase toda lisa, que vai para baixo, em direção à cidade.
–Alex, você já notou algo anormal? – Albert perguntou, tocando a parede da caverna com a mão.
–Sim, eu já notei. Olha só o tamanho do nosso trabalho! – brincou Alex.
–É sério – o amigo impôs a voz.
–O que?
–Toque as paredes.
Alex tocou a parede da caverna com os dedos e seu sorriso de deboche foi aos poucos sendo trocado por uma cara de espanto e confusão.
–Beleza que eu não sou um gênio, mas elas não deviam estar molhadas?
–Molhadas não, úmidas. Todas as cavernas naturais são formadas à partir de fissuras microscópicas em rochas, quase sempre, calcárias, por onde a água se infiltra e começa a escavar a rocha.
–Ah bom,... agora traduza.
–Uma caverna natural tem, por obrigação, que ser úmida, entre outras coisas, é claro.
–Você está quase chegando lá – Alex fez uma cara de esforço.
–Essa caverna só pode ser artificial.
Alex parou e apontou a lanterna para o fundo da caverna, olhou por alguns instantes, virou-se novamente para Albert e falou:
–Está querendo dizer que essa caverna foi feita por alguém?
–É o que está parecendo.
–Mas o Sr. Somerset disse que não existem cavernas artificiais em Telshine. Eu juro que não dormi naquela aula. Ou pelo menos eu acho que não...
–O que é mais estranho, pois esta caverna foi catalogada e tem até um nome.
–Vai ver é um daqueles fenômenos raros que o Sr. Somerset não nos explicou de propósito, só para nos ferrar.
–Não... ele não faria isso, e, além do mais, eu já li vários livros sobre cavernas e nunca vi nada que falasse de algo semelhante em uma caverna natural litorânea.
–O jeito é continuar andando e vendo tudo para poder, no mínimo, começar a resolver a apostila ou o professor vai nos estrangular.
Eles se aprofundaram pelo caminho da caverna, que vai sempre para baixo, retirando amostras, comparando anotações e tentando completar os questionários da apostila. Eles caminharam cerca de 1 km pela caverna, observando à esmo, sem encontrar nenhum ser vivo, bifurcações, estalactites, estalagmites ou qualquer traço de água.
–Essa caverna está passando de fora do normal para realmente esquisita, nós não encontramos nada além de escuridão. Que horas são agora? – perguntou Albert.
Alex olhou em seu relógio e respondeu desanimado:
–São duas e quinze, e, por causa dessa droga de caverna sem nada, eu não consegui completar nem um décimo do trabalho. E o pior de tudo é que eu estou louco PA sair daqui e comer alguma coisa.
–Espera aí que eu trouxe algo pra comermos – Albert abriu sua mochila, retirou um pacote de salgadinhos e uma lata de refrigerante e atirou para Alex, e pegou uma barra de chocolate e um refrigerante para si – Vamos sentar e comer, a minha barriga já está roncando também.
–Você não esquece nada! – Alex alegrou-se – É o meu herói.
Os dois comeram e riram, enquanto contavam e relembravam suas aventuras, por, mais ou menos, uns 20 minutos, Já reabastecidos, levantaram e continuaram com as tarefas.
–Ah, como é bom se sentir cheio de energia – Alex esticou os braços, feliz, depois mudou o tom – Pena que essa energia vai ser gasta inutilmente.
–Isso não é inútil – Albert o repreendeu –, vale um terço da nota final.
–Que seja. De qualquer jeito, vamos continuar logo com essa inutilidade não tão inútil.
Alex apanhou sua pá de retirada de amostras, andou alguns passos caverna adentro, virou-se para a parede e, com um pouco de força, a golpeou. Sua pá se partiu, com um som metálico, em três pedaços, restando apenas o cabo na mão do dono, que, com espanto e perplexidade, olhava, hora para o instrumento, hora para o lugar que acabara de atingir.
Furioso, ele soltou:
–Era só o que me faltava! Já não basta a porcaria de tempo que nós temos de sobra?
–Como é que você conseguiu fazer isso? Essa parede nem é tão dura... Espera um pouco.
Albert se aproximou de onde o amigo havia acertado, olhou por alguns instantes, a tocou e então, muito espantado, virou-se para Alex:
–Essa parede é de ferro maciço, mas é... é impossível, isso não tem...