SONHOS
Imagine se todos os nossos desejos se realizassem? Se tudo que pensamos sempre passasse para fora do papel? Se por menor que fosse o desejo ele se cumprisse? Você pode até estar pensando que essa seria a situação melhor que poderia existir! Porém já tenho um pensamento diferente desse, prefiro nem imaginar uma situação dessas! Seria bom? Sim, seria! Seria ruim? Sim! Aposto que também seria! Os sonhos são projetos que nossa mente faz para satisfazer os desejos do deu dono. Sonhos são bons? Sim, são maravilhosos! Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Mas precisamos compreender que sonhos não são desejos superficiais. Sonhos são bússolas do coração, são projetos de vida. Augusto Cury disse que os sonhos são como vento, você os sente, mas não sabe de onde eles vieram e nem para onde vão. Eles inspiram o poeta, animam o escritor, arrebatam o estudante, abrem a inteligência do cientista, dão ousadia ao líder. Eles nascem como flores nos terrenos da inteligência e crescem nos vales secretos da mente humana, um lugar que poucos exploram e compreendem. Diferentemente, os sonhos gerados no sono têm grande importância para o desenvolvimento da inteligência. Quando adormecemos, o “eu”, que representa nossa vontade consciente, deixa de atuar logicamente, e, paralelamente, alguns fenômenos inconscientes começam a ler continuamente a memória e produzir idéias, imagens mentais, fantasias e personagens. Assim como os noturnos, os sonhos diurnos não são produzidos apenas pela motivação lógica e inconsciente do “eu”, mas também por fenômenos inconscientes que geram uma usina de emoções e uma fonte de pensamentos.
E o sonho ao qual me refiro é justamente o segundo. Aquele sonho que nos aprisiona, nos comanda, nos consome, nos faz sentir cada vez mais vontade de suprir os desejos, nos dando uma parcela da sensação de como poderia ter sido e nos tornando criaturas insaciáveis no território da emoção. É esse o lado negativo dos sonhos. Esses são reproduções da nossa mente para alcançar aquilo que desejamos. Se na realidade aquilo que desejamos é improvável ou impossível de acontecer, nossa mente, como forma satisfazer nossos desejos e supri-los, torna-os reais nos terrenos insípidos do subconsciente e da razão. Que pena que esses sonhos são passageiros, são momentâneos. E quando acordamos nos deparamos que tudo foi ilusão, produção de arte da nossa própria mente, podendo nos fazer insatisfeitos, infelizes, porém ao mesmo tempo tranqüilos, aliviados por saber que tudo não passou de um sonho.
Hoje, sei a importância deste e a carência de esperanças e expectativas se não existisse. Retorno a dizer que prefiro nem imaginar se todos os sonhos produzidos em nossa mente se realizassem, se concretizassem, onde o poder da mente humana nos levaria, o que poderia acontecer, a que caos a humanidade estaria destinada, ultrapassaria as fronteiras do impossível para dar continuação ao sonho produzido, apenas por satisfação do ego? Talvez, se isso ocorresse, eu não mais existiria, já tivesse me tornado pó à tempos. Felizmente ou, não sei, infelizmente nem tudo que sonhamos executa-se, apesar da vontade traiçoeira de fazê-lo.
Como não há saída, não há solução para incógnita, ou seja, não temos naturalmente a capacidade de torná-los reais, continuamos a sonhar permanentemente, falseando a realidade de uma maneira muito prazerosa e enganando a nós mesmos. Nossa mente! Ah! Traiçoeira! E, paradoxalmente, virtuosa! Há algumas coisas que não se questionam, pois não vamos chegar a lugar algum, não vamos encontrar sempre resposta para tudo, não temos essa capacidade, porém muitos insistem e discutem se sonhos são realmente reais. Não irei abordar com profundidade a temática, pois estaria fugindo do objetivo, a discussão possibilitaria “colocar em campo” outros assuntos, como o conceito de verdade ou mentira. Discursar sobre eles abre a porta de acesso para uma temática relativista e dá-se a possibilidade de penetração no mundo subjetivo, onde determinada tese pode adquirir diferentes faces, interpretações.
Porém, se os sonhos são bons ou não, são reais ou não, isso eu não sei, mas posso até discuti-los. “Só sei que já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido, mas mergulhar no mar do inconsciente e viver o inimaginável, projetado apenas para quem tem sonhos altos!”