Toques e Palavras - Capítulo 02.

Toques e Palavras.

Capítulo 02 - Lembranças.

Mudanças. A vida é cheia de mudanças, porém o jovem Luan não imaginava que ao se mudar para o novo prédio iria encontrar por lá um vizinho um tanto quanto diferente. Sua primeira impressão de Denis fora achar que o vizinho era um grosso, mas após ter seu apartamento invadido pelo maior ele pôde perceber um cara legal por trás daquela muralha de hostilidade e assim ambos desfrutaram de uma conversa agradável até.

Claro, ainda tinha o fato de seu novo vizinho ser implicante e muito convencido, mas ainda assim era um cara legal e bonito. Afinal, seria mentir dizer que Luan não reparou no físico do maior... Quando a noite caiu e Denis se despediu dizendo já estar muito tarde, Luan aproveitou àquela solidão gostosa que se instalou em seu apartamento para pensar e seus pensamentos giravam em torno de seu vizinho da frente.

Como alguém podia ser tão bonito? Ao menos para Luan o mais velho era o retrato da perfeição. Sim, o jovem veterinário era homossexual e havia se sentido interessado pelo vizinho... Não é como se o fato do maior ser cego atrapalhasse alguma coisa. Muito pelo contrário, isso dava apenas um charme à mais! Denis era realmente um homem belo e Luan ficou reparando em seu corpo durante todo o período em que conversaram. Os músculos avantajados estavam marcados na blusa social azul marinho que o maior usava, a pele levemente bronzeada pelo Sol carioca lhe dava um ar sensual, os cabelos negros e curtos que tinha suas maiores mechas batendo nas orelhas estavam levemente bagunçados, o rosto másculo encantava tanto quanto seu sorriso, a boca carnuda e avermelhada era um convite à tentação, mas eram seus olhos azuis que conseguiram prender Luan... Tinha alguma coisa ali e o menor iria descobrir.

Luan nunca antes havia se sentido tão preso a um homem como se via preso a Denis, e por mais que pareça loucura, afinal ambos se conheciam a somente um dia e fora um dia conturbado. O mais velho tinha algo forte... Uma presença boa e isso fazia Luan querer conhecê-lo com mais afinco! Seria realmente maravilho mergulhar numa nova paixão e assim talvez pudesse esquecer Rodrigo de uma vez. Oh, mas porque estava ainda pensando naquele canalha? Não fazia idéia... Talvez, Rodrigo tenha sido uma peça importante no tabuleiro do grande jogo que era sua vida, mas não iria pensar nele! Não mais, afinal o outro fora embora sem nem ao menos se despedir e... Chega! Sua cabeça iria explodir com tantos pensamentos. O melhor a fazer era ir dormir!

Recolheu os copos de suco e a tigela que usou para saciar a sede de Elvis, e levou-os para cozinha, passou uma água na louça e voltou para a sala com o intuito de trancar sua porta. Afinal, não queria pensar em ninguém entrando sem autorização em sua casa como o outro fizera e ao pensar nisso sorriu... Gargalhou quando notou a capa de sofá levemente roída. Mesmo sendo um presente de sua avó, aquela capa era horrível e agora Luan tinha uma desculpa para jogá-la fora de vez. Agradeceria a Elvis depois!

Trancou seu novo lar e foi para o quarto. Chegando lá, tomou um bom banho na banheira de sua suíte e depois de se vestir com uma roupa leve, recolheu-se e foi dormir. De ínicio ficara pensando em várias coisas novamente, mas logo foi vencido pelo sono e como o dia seguinte seria um Sábado não precisava se preocupar com a hora. Uma noite relaxante de sono era tudo o que mais queria!

– Elvis, pode parar de destruir o que está destruindo! - Denis ordenou ao cachorro que logo largou seu sapato social que antes estava guardado numa sapateira.

– Você é um menino muito levado, Elvis! - disse rindo agora.

Ao ouvir o tom mais leve de seu dono o cachorro se pôs a pular em cima dele e logo ambos já rolavam pelo chão e Denis tinha a face coberta de baba.

– Sem me lamber, rapaz! Vá procurar uma cadela! - dizia aos risos, enquanto fazia carinhos no cachorro. Sempre amou animais! Cachorros então eram sua maior paixão e depois do acidente que sofrera, acabou aceitando bem a idéia de ter um cão guia. Apenas, não sabia que o pequeno Elvis iria crescer tanto e se tornar um cachorro tão bagunceiro! Mas, não trocaria seu fiél amigo por nada neste mundo.

Após o passar dos anos, estava já bem mais conformado com o que acontecera, mas ainda assim uma dor uma muito forte ainda fazia morada em seu peito. Só de pensar que Cristina podia estar ali com ele brincando com Elvis, lágrimas já brotavam em seus olhos... Nunca iria esquecer o sorriso de sua amada, nunca iria esquecer de sua voz doce, nunca iria ficar um dia sem pensar nela, nunca iria deixar de imaginar a face da criança que ela carregava em seu ventre antes de arrancada de si por uma sacanagem do destino.

Não queria, mas se lembrava perfeitamente daquele dia... Talvez, se tivesse sido um pouco mais firme ela ainda estivesse junto de si.

Alguns anos atrás...

A noite havia sido um pouco difícil para si, pois um pesadelo lhe atormentava. Não podia se imaginar longe de sua amada e no sonho ruim era isto o que acontecia... Sonhava com Cristina gritando seu nome e implorando por socorro, mas não conseguia ajudá-la, isto lhe deixava desesperado! Tentava encontrar a morena e corria sem parar por entre uma floresta escura e com árvores assustadoras, ouvir os gritos de sua amada lhe deixava mais agoniado ainda. Sentia-se estranho, com o corpo suado e provavelmente estava ofegante graças à corrida o desespero era tanto que... Por fim acordou!

– Meu amor, está tudo bem! - ouviu a doce e melodiosa voz de Cris - Foi só um pesadelo bobo, amor. - disse acariciando a face do marido.

Denis estava suado e com a respiração descompassada, mas a alegria em ver sua amada foi tanta que sentou-se se súbito na cama e a puxou para um abraço apertado.

– Você está bem, não é? - indagou se afastando somente o suficiente para tomar o rosto da amada em suas mãos.

– Estou sim, meu bem. Você teve um pesadelo, sim? - lhe sorriu doce - Eu e Ana Clara estamos bem! - agora pôs a mão do marido em sua barriga de sete meses para ele sentir a menininha mexendo, ela também queria acalmar o pai.

– Foi um sonho horrível, amor! - disse enquanto fazia carinhos na barriga bonita - Eu não conseguia alcançar você e... - seus olhos ficaram com lágrimas evidentes.

– Shh, está tudo bem. - afirmou - Nada irá me acontecer, mas caso aconteça eu quero que me prometa que será feliz junto de nossa filha. - pediu.

– Não! - praticamente gritou - Não diga algo assim! - implorou. De fato, não podia imaginar algo acontecendo a nenhuma das duas, nem a Cristina e muito menos a Ana Clara.

– Querido, se acalme. Eu só quero que você seja feliz. - disse com um dos seus melhores sorrisos e só com isso Denis já sentiu-se mais leve.

– Eu vou ser muito feliz com vocês duas! - disse e beijou levemente os lábios de Cristina para depois depositar um beijo na barriga avantajada.

– Eu sei, agora vamos levantar e nos arrumar!

– Ah, não quero mais ir!

– Pare com isso, Denis! Nós já combinamos esse almoço de domingo com sua mãe há meses! Se não formos ela vai achar que eu estou tentando te afastar dela aí já viu, né?

– Tudo bem. - disse com um leve sorriso, afinal sua mãe adorava criar caso.

Se arrumaram e foram. Denis o tempo todo com um aperto no coração, mas resolveu ignorar. Dirigia com cuidado e observava a estrada com atenção, mas de repente o tempo mudou e uma chuva impiedosa caía. Resolveram parar num hotelzinho de estrada, afinal sua mãe morava em outra cidade e não iriam viajar em baixo de chuva. Mas, como o destino é cruel... Um caminhão na contra-mão os jogou para fora da estrada, o caminhoneiro estava bêbado e a chuva forte não ajudou em nada.

Denis ficou alguns meses em coma e além de acordar sem sua visão, recebeu a notícia de que sua mulher e filha que ainda iria nascer estavam mortas. Sentiu o chão se abrir e lhe engolir... E naquele momento percebou que mesmo com seu coração batendo estava morto.

Presente...

Um barulho o trouxe de volta ao presente, era Elvis derrubando alguma coisa.

– Elvis! - chamou o cachorro que lhe respondeu com um latido - Chega de bagunça, vamos dormir! - disse secando algumas lágrimas.

Primeiro ele só queria trazer Cristina e sua filha de volta, mas depois de aceitar o fato de que ambas não iriam mais voltar Denis queria apenas esquecer... Talvez, tivesse sido melhor se ele tivesse morrido junto com elas naquele acidente. Por mais que sorrisse seu coração estava sempre chorando...

Seguiu para o quarto com o cachorro lhe acompanhando sempre. Retirou a camisa e jogou-se na cama, ali começou um choro sofrido como já era um costume seu de toda noite... Nunca iria ficar bem, nunca iria se sentir bem. Sentiu Elvis deitando a cabeça em seu peito e fez carinho na cabeça do animal que parecia saber que seu dono estava mal e resolveu ficar quietinho.

– Eu vou ficar bem, amigão... - murmurou fraco e em resposta sem amigo fiél apenal lhe lambeu o rosto.

– Vamos dormir parceiro, boa noite. - disse de olhos fechados e tentando pensar em outra coisa que não elas.

Sem que pudesse perceber seu novo e jovem vizinho lhe veio a mente, e acabou dormindo com um leve sorriso no rosto por pensar em Luan.

Continua?

Camylla
Enviado por Camylla em 21/03/2012
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