Fic Twilight >>> Tinha que ser você. Capítulo 58.

N/A: Não, não tem como descrever, ou me desculpar, em relação à minha falta de responsabilidade de ter parado de postar essa fanfic. Ela foi o meu primeiro 'trabalho' assim por dizer, e foi realmente nojento da minha parte desprezar o reconhecimento de vocês e abandoná-lo, durante, sei lá, quantos meses.

Eu desanimei. Tinha pouco tempo e me empolguei demais com Presságio, acabei esquecendo-me completamente que essa fic existia. Não sei porque, sabe? Simplesmente aconteceu. Mas agradeço a todos que me estimularam a voltar, com esse capítulo, que sinceramente, considero um lixo depois de tanto tempo, mas foi o melhor que consegui. Não peço comentários, nem leituras. Só estou postando, porque acho que toda história merece seu final. E tqsv não pode ser excluída disso.

Não prometo breves continuações, estou de férias, mas acho que vai custar muito até o próximo capítulo. Sou irresponsável, eu sei. Fazer o quê, né? :/ me xinguem.

Bem, sem mais delongas, aproveitem o capítulo. Se não for pedir demais, leiam o anterior, para não ficarem boiando.

Beijos, afetuosamente,

Lívia.

Capítulo 58 - O despertar.

POV Rosalie Hale

Branco. Branco-gelo. Branco-mármore. Branco sólido. Tudo branco. Era o que eu conseguia distinguir diante de mim, ou ao meu redor. Não parecia existir mais nada além daquela tonalidade, embora parecesse que havia uma luz ofuscante acobertando-a. Mal conseguia ter ciência do meu corpo. O mundo parecia se resumir a branco. Só fui perceber que em meio a esse branco, eu existia e tinha um corpo, quando senti a órbita dos meus olhos, mudando de foco, involuntariamente, e sendo recoberta pela minha pálpebra inúmeras vezes. Nessas pequenas mudanças, também conseguia ver o branco, só que um tanto embaçado, oscilando em preto de vez em quando. Foi com muita vagarosidade, que tudo foi se mesclando de embaçado para semi-nítido. Continuava branco. E enquanto esse processo acontecia, a minha mente girava ao redor de si mesma, como se quisesse se autodescobrir, e um enorme feixe de cor começou a tomar conta dela.

Eu não lembrava de quase nada naquele momento. Só sei que, assim que minha cabeça começou a doer fiquei com vontade de dizer alguma coisa, clamar por ajuda, gritar. Qualquer coisa. Mas não conseguia fazer ou mover nada, apenas ficava eu, e aquele branco desesperador, com meus olhos fechando e abrindo num ciclo vicioso.

Perdi a conta de quantos minutos levou até que tudo fosse ganhando um pouco mais de forma. E a cada forma que ia surgindo minha cabeça parecia doer mais, e cada mínima partícula do meu corpo também. As cores demoraram para vir, muito mais do que as formas, mas quando vieram também pareciam facadas em meu cérebro, me irritando profundamente. Pareciam milênios em que eu permanecia inerte, com os olhos abertos se cerrando para o escuro de vez em quando, enquanto tudo ia ganhando forma, textura, dimensão e cor, ainda extremamente embaçadas.

Quando finalmente, consegui distinguir, o que pareciam ser pontas de um cabelo curto e rebelde, completamente reconhecível, e distante. Imediatamente aquela imagem familiar se interligou às minhas memórias obtusas, e pude concluir que quem estava, a ao que parecia ser três metros de mim, era a minha melhor amiga Alice. Queria gritar seu nome, naquele instante, mas minha voz parecia já não mais existir. Estava demasiado fraca, e quanto fiz aquela tentativa frustrada tudo pareceu piorar.

O que estava acontecendo comigo?

Onde eu estava?

O que Alice estava fazendo ali?

Aos poucos, para o meu pânico, a imagem que meus olhos captavam começou a ficar um pouco mais nítida, iluminada pelos reflexos solares que incidiam pela janela e me ofuscavam. Tentei mover o pescoço para desviar da luz, e felizmente esse movimento o meu corpo resolveu obedecer. Tentei mover outras coisas também, começando pelos dedos das mãos e dos pés, que começaram lentamente a balançar. Foi realmente animador. Mas enfim, voltando a onde eu estava, aquilo estava me apavorando. Era um quarto, definitivamente. E devo acrescentar, de uma forma não muito surpreendente, que praticamente tudo que nele estava era da cor branca. O teto. As paredes. A cortina. Os lençóis, que desviei os olhos, e vi que me embrulhavam. O sofazinho em que Alice estava, aparentemente distraída, lendo uma revista de fofocas. Era branco demais.

E então, imediatamente, como uma associação, minhas vias

respiratórias começaram a captar aquele cheio familiar e enjoativo, que apenas os hospitais tinham.

Oh, não. Eu não poderia estar em um hospital. Que motivos eu teria para estar?

Quem sabe, Alice pudesse me explicar essa dúvida que não queria calar, assim que consegui distinguir e associar o local sórdido e apavorante em que eu me encontrava. Não sei se já ressaltei um dia, mas eu simplesmente ODEIO hospitais. ODEIO essa atmosfera trágica que os envolvem, e esse cheiro desconfortável de algo como... Sangue fresco. Resumindo, em uma confissão: Cago de medo de ter de ficar em um hospital.

E adversamente, era naquele lugar sórdido que eu me encontrava! Tentando arrumar forças para, além de mexer meus dedos dos pés e das mãos, aos poucos eu também ir movendo meu pescoço, meu tronco, minhas pernas e meus braços. Fazendo meus cílios escorregarem de cima para baixo trilhões de vezes, na esperança de acabar descobrindo que a imagem mudara, e eu não me encontrava mais ali.

Foi então que olhei para mim mesma, com cuidado, baixando os olhos aos poucos e levando meus braços a altura da visão. Uma súbita onda de temor me absolveu quando percebi que meu braço estava todo cheio de cortes, hematomas e arranhões. Havia algo que parecia um prendedor de cabelo no meu dedo indicador, algo que eu só vira em filmes e seriados. E sim, eu conseguia escutar aquele barulhinho irritante, que tilintava em : pi, pi, pi... Marcando a minha frequência cardíaca. E enquanto ia me observando, toda arranhada e machucada, completamente sem noção de como aquilo poderia ter acontecido comigo, senti algo apoiado contra a pele do meu rosto. Arrepiei-me e quase gritei com as possibilidades que invadiram minha mente, mas só o que fiz foi afastar com as mãos, que foram velozes, aquele “troço” de cima do meu nariz, para então perceber que se tratava daqueles aparelhos que transmitem oxigênio.

Tive certeza de que de alguma forma eu fora escandalosa, porque assim que expulsei aquele negócio do meu nariz, que debochava da minha capacidade de respirar, uma voz chamou por mim.

-ROSE! VOCÊ...ACORDOU! – Era Alice, e naquele instante consegui ouvir o barulho dos seus passos, embora estivesse ocupada demais para olhar para ela, preocupada com o treco de respirar, enquanto ela parecia correr em minha direção. Seu tom de voz era surpreso e animado, mas ao mesmo tempo, aflito. –O que você fez? –Ela perguntou, enquanto se aproximava, com velocidade.

Desviei meus olhos para ela, e percebi que sua boca estava escancarada, e seus olhos pareciam transmitir toda espécie de emoção do mundo, enquanto olhava para mim, extremamente próxima, mas ao que parecia nervosa demais para me tocar.

Tentei formular uma resposta, enquanto admirava os belos olhos dourados da minha melhor amiga. Apesar de estar meio sem fôlego, primeiro pelo fato de ter a plena ciência do lugar que eu me encontrava, segundo de saber que pelo menos eu estava com Alice, e terceiro por que havia arrancado aquele negócio, as palavras começaram a sair.

-Eu... Consigo... Respirar...Sem isso. –Ok, isso até saiu um pouco melhor do que realmente foi a minha primeira fala, mas demonstra bem o quanto ela foi intervalada por profundas respirações.

-Oh meu deus! Eu preciso chamar o doutor! – Ela se apressou, mas meu olhar de pavor, logo a impediu de me abandonar naquele momento.

-Não. – Resmunguei. – Estou... Bem.

O sorriso dela foi tão feliz e sincero que fiquei com vontade abracá-la, mas só o que ela fez foi tocar no meu rosto, afagando os cabelos, e percebi que por algo um tanto adventício o mínimo toque parecia desestabilizar a sensibilidade da minha pele, apesar de eu fazer esforços para não rejeitar o carinho.

-O que eu estou fazendo aqui? –Quis saber.

-Ah. Eu sabia que você iria me perguntar isso. Esse seu pavor por hospitais é patético, Rose. –Ela tentou disfarçar, mas eu soube, que naquele momento, suas principais intenções eram fugir da minha pergunta inicial. Resolvi não persistir. Ainda.

-Eu sei. –Afirmei, num muxoxo. –Mas... Eles... Me deixam com sono.

-Sono? Mas você está dormindo há uma semana!

Nós duas arregalamos os olhos. Eu por de uma maneira inacreditável, ter descoberto aquele possível fato, e ela por ter a certeza de que havia falado o que não deveria.

-Uma SEMANA? – Não saiu exatamente o que eu chamaria de forte, mas foi o suficiente para ela entender o meu desespero.

Infelizmente, Alice foi salva, porque naquele instante, irromperam pela porta daquele quarto de hospital, duas pessoas incrivelmente ansiosas, que eu chamo de pais. Os dois quase surtaram ao perceber que de, provavelmente inconsciente eu havia me transmutado para semi-inconsciente. Um avanço muito grande, em suas opiniões.

-Rose! – Os dois gritaram, num uníssono, e percebi, pelos olhos da minha mãe que ela não conseguiria se refrear, começara a chorar com intensidade assim que vira que eu estava “desperta”, e então os dois, sem nem ligarem para minha possível dor, começaram a distribuir beijos pelo meu rosto.

Queria retribuir, mas achei que já estava fazendo um favor em não

gemer de dor por eles estarem encostando em mim

-Alice! Por que não nos chamou antes? Quando foi que ela acordou? – Minha mãe parecia alarmada e desesperada, mas feliz demais para ficar brava com a irresponsabilidade de Alice. Que havia sido por minha culpa, logicamente.

-Foi a pouco tempo, Sra. Hale. Mal tivemos tempo de conversar e ela retirou o oxigênio!

Os olhos da minha mãe se arregalaram profundamente, e quando percebi que se demorasse mais alguns segundos para me manifestar, ela colocaria aquele treco engenhoso no meu nariz novamente, repeli:

-Eu não quero.

-Você esta bem filha? Como está seu corpo? Está doendo alguma coisa? –Minha mãe, sempre surpreendentemente preocupada em localizar coisas que não existiam.

-Estou...Normal. Mas...A pergunta que não cala é...Por que não estaria? –Eu realmente não entendia o que estava acontecendo. Era como se parte da minha mente ainda estivesse dominada por aquele branco idiota.

-Rose... Você...Lembra de alguma coisa? Alguma coisa que aconteceu?

Um sorriso se instaurou nos meus lábios, mas havia pânico na essência dele.

-Eu deveria lembrar? –Franzi o cenho. Busquei tentar lembrar de alguma coisa, mas os detalhes me fugiam pelas arestas obtusas da minha memória de modo que a minha linha do tempo tinha se tornado hilária, como se os acontecimentos mais recentes tivessem sido apagados e eu só conseguisse me recordar de minha infância, dos meus ciúmes de Edward... Mas se eu sentia ciúmes de Edward era porque eu me apaixonara por ele...E eu me lembrava de estar apaixonada... Mas então por que agora eu não sentia nada por ele além de algo fraternal? Então, eu me esforcei um pouco mais para buscar lembranças, não infantis, as mais remotas, e a medida que fazia isso uma dor parecia querer tomar conta do meu cérebro, penetrar por cada poro da minha pele, me fazer sentir vontade de gritar e correr.

Só que eu nunca, jamais, fui de desistir fácil e por mais que doesse, eu tentava camuflar minha expressão e buscar minhas lembranças...

De repente, não que eu tivesse me esforçado mais do que antes, mas somente de repente, um sutil, mas decisivo flashback adentrou a minha mente. Um ônibus. Meus cabelos loiros serpenteando nas minhas costas. Um garoto incrivelmente bonito. Um olhar maroto. Um sorriso zombeteiro que me provocava.

Jake.

Então, tudo começou a voltar. Cada recordação voltou desesperadamente, como uma enchente invadindo minha mente sem cautela, sem preocupações, o acampamento, as brigas toscas, os beijos, o amor, a volta, a gravidez, os olhares, a...APOSTA, a irmã, a insistência, os toques, a trégua, o apartamento, o jantar, Luke e...a moto. A moto se chocando violentamente contra a grade de proteção e nossos corpos voando em milésimos de segundos.

Branco. Branco. Branco.

Nenhuma reação poderia ser racional após me lembrar com tanta intensidade, em uma só dose, de tudo que havia acontecido, e foi como se eu estivesse revivendo cada momento, ao mesmo tempo em que uma enorme carga de pânico começara a transparecer em meus olhos dourados. Minhas mãos começaram a tremer, de modo que tive que segurar a ponta do lençol para controla-las, e um enorme grito se sufocou em minha garganta. Coloquei, instintivamente, as mãos na barriga, com um temor tão grande que aí não dava mais para segurar, algumas lágrimas começaram a se formar no canto dos meus olhos.

-Não...Não pode ser verdade... –Comecei a murmurar mais para si mesma do que para os outros, o mundo lá fora parecia estar se derretendo na verdade diante da tragédia que era ter a mais pura e assustadora consciência dos fatos, embaralhados, confusos e horríveis.

- Vamos chamar o doutor! – Ouvi alguém exclamar, mas não consegui ao menos compreender ao certo e muito menos tive forças para protestar. Sabia que minha boca estava escancarada ao extremo e conforme ia absorvendo e revivendo cada detalhe ia apertando ainda mais os dedos contra a pele de meu abdomen e murmurando nãos involuntários, tomada por um desespero que jamais achei que poderia sentir. Por um momento, tudo pareceu ser idiota, o que estava vivendo era tão amedrontador que me desistabilizava tanto psicologicamente quanto fisicamente, pois quase não tive forças para manter o fôlego.

Ao meu lado, alguém murmurava:

-Vai ficar tudo bem, Rose. Tudo bem.

~~’’’~~’’~~

Mas, definitivamente, não ficou tudo bem. Depois que todas as lembranças voltaram a acometer a minha mente, de uma vez só, perdi a ciência de meus próprios atos. Tive uma crise emocional muito forte, e não me lembro exatamente dos detalhes, só sei que apenas o que conseguia fazer era pressionar os dedos contra minha barriga, com medo de que algo pudesse ter acontecido com meu bebê, e só fui me tranquilizar depois que deram-me um calmante intravenoso. Mas mesmo eu aparentando estar mais calma externamente, as batidas de meu coração pareciam não ter o anseio de se acalentarem, e eu não deixava de evidenciar meu nervosismo com o que havia acontecido quase me comprimindo em uma boca, com os dedos das mãos sofrendo graves crises de tremores. Eu não conseguia prestar atenção no que me falavam para me acalmar, enxergava seus rostos e ouvia múrmurios, mas logo não conseguia compreende-los, e tudo parecia me sufocar.

Somente quando senti a firmeza de duas mãos em torno de meus ombros, e senti o calor de dois enormes olhos me fixando, azuis de uma forma tão penetrante e singela que pareciam capazes de desvendar tudo o que eu sentia, e ao mesmo tempo ir minimizando essas aflições.

A forma com que a bolinha preta dos olhos dele se movia de um lado para o outro conseguia me distrair, e percebi que agora o silêncio ponderava naquele quarto monótono e branco de hospital.

Eu não fazia a mínima ideia de quem era o cara que me encarava, eu só sabia que os olhos dele me acalmavam, e era por isso que eu não estava gritando. Ainda.

-Rosalie. –Ele me chamou. Ele sabia quem eu era e eu também tinha uma remota ideia de quem ele era, já que ele usava um jaleco que não fazia contraste algum com as paredes daquele quarto monótono. Minha cabeça girava um pouco.– Pode me ouvir? –Questionou, aflito.

-Posso. –Limitei-me a responder, num sussurro que custou a sair.

Ouvi um suspiro de alívio da parte dele, e fiquei um pouco alarmada com isso.

-Está melhor?

Bem, se melhor significava que eu já não estava mais prestes a ter outro surto e sair dando gritos histéricos, eu estava melhor. Talvez até sentisse meu físico funcionando de uma forma mais saudável agora.

Mas sem dúvidas, aquelas lembranças e incertezas faziam a minha situação ir mudando de drástica para irremediável. E não havia o que responder ao cara, ao médico, naquela situação.

-Estou. Eu acho. –Isso foi o melhor que consegui. E não foi bom ter dito isto, porque no exato momento senti um farfalhar de angústia subindo pela minha garganta, que quase me fez agarrar em um daqueles surtos mais uma vez. Era a minha principal preocupação, algo que ficava assolando minha mente de uma forma tenebrosa.

Queria saber, de uma vez por todas se tudo estava perdido. Mas não era forte o suficiente para fazer a pergunta. Eu temia uma possível resposta. Mas era involuntário as minhas mãos se firmando na barriga, mais uma vez, como uma espécie de proteção, ao que poderia, já há muito tempo, não estar mais ali.

Engoli em seco.

Ao meu lado, sem eu mesma nem saber, o médico avaliava todas as minhas reações desesperadas. E em um segundo repentino, sua voz suave interrompeu o silêncio, em um anúncio.

-Você não precisa se preocupar, Srta. Hale. Seu filho não correu riscos nem por um segundo, e também não sofrerá. Você teve apenas alguns ferimentos leves.

Fiquei tão tranquila após ouvir isso. Minha respiração foi tão alta que pareceu ecoar entre as quatro paredes. Um suspiro enorme, que pareceu emanar do fundo da minha alma. Lancei um olhar apaixonado para minha barriga, e a acariciei...

Então, Graças a tudo que é mais sagrado, meu...”Jake Junior” estava a salvo. Esteve a salvo o tempo todo. Todo aquele desespero fora em vão. Engraçado como agora, eu não me importava em nomeá-lo daquela forma. “Jake Junior”. Chegava a ser patético ter repelido aquele nome. Era tão gracioso, tão incrível, tão perfeito. Um sorriso bobo brincou pelos meus lábios. Sentir alívio era tão bom agora.

Só que pensando em Jake Junior, no nome dele em específico, lembrei-me de que, ele sendo a minha primeira preocupação, havia alguém ocupando o posto de segunda. E com certeza não era eu mesma, porque eu pouco me importava com a minha situação agora...Eu pensava nele...Jake.

Quem diria que o destino nos pregaria uma peça daquelas? Tudo parecia que correria bem, era apenas um jantar, em Seattle, nada de tão fora do comum, e de repente, lá estava eu acordando em hospital, uma semana depois. Parecia-me que tudo era tão inesperado quando se tratava de nós.

O bebê havia sido algo inesperado. A diferença, era que isso era bom, e o acidente era a pior tragédia que poderia ter nos acometido.

E mesmo sabendo que estava tudo bem com o bebê, e que eu estava bem também, havia algo, uma parte de mim, talvez a mais negativa, que insistia em sentir algo estranho...Como se eu soubesse que não estava tudo certo de alguma forma. Como um mal-presságio.

E toda vez que eu me lembrava de Jake, risonho, dirigindo comigo naquela pista...Com segredos ainda não revelados e com a adrenalina nos envolvendo-o de forma mútua...Eu sentia um aperto no estômago, um bolo se formando na minha garganta. As minhas mãos tremiam.

Eu precisava, como uma necessidade vital, saber o que havia acontecido com ele. Agora, enquanto sentia aquele trauma em minha pele era difícil acreditar em todas as tosquices a qual meus princípios eram baseados...Brincadeiras infantis e algo como apostas, e truques, agora não me significavam nada, como eu sabia que já haviam significado há algum tempo...

De alguma forma, embora parecesse impossível, era como se tudo

tivesse mudado, como se algo em meu passado e em meu futuro tivesse sido alterado de repente, assim como a meu jeito de enxergar as coisas. Eu só não sabia dizer se isso era bom ou se era ruim.

E eram tantas perguntas que eu tinha necessidade de fazer. Milhares delas. Eu nem sabia o nome daquele médico, eu só confiava que ele pudesse resolver essa aflição também. Havia MUITA COISA para ser perguntada. “O que aconteceu com ele depois do acidente?” “Ele está bem?” “Ele sente minha falta?” “Ele realmente ainda me ama?” “Ele perguntou de mim? “Perguntou do J.J?” “Será que ele me perdoa por ter sido tão infantil e deixado que algo idiota como uma aposta pudesse nos separar?...”

Mas acabou, que de repente, tudo isso se resumiu, como num passe de mágica, fluindo pelos meus lábios.

-E o Jacob? – E o MEU Jacob?

Inclinei minha cabeça para que pudesse olhar para o homem, de meia-idade, e olhos muito claros e persuasivos. Ele ajustava agora, uma máquina que tinia ao lado da minha cama, e assim que eu fiz a pergunta, ele passou a me encarar, com algo de dúvida no arco de suas sobrancelhas. Algo que me compeliu a franzir as minhas também. Eu o encarava forte, e a cada segundo que passava, aquela sensação angustiante, parecia soltar um risinho de escárnio pelos meus ouvidos.

Segurei mais forte o lençol, a respiração voltando a falhar. O que aquilo significava? Tudo bem, eu estava sendo boba de esperar uma resposta tão fácil, boa e reconfortante quanto a que recebera em relação à J.J, mas por que o médico estava me fitando, em dúvida, e demorando tanto para responder...?

-Você se refere ao rapaz do quarto 251?

-Ao que estava comigo.

-Jacob Black?

-É. É exatamente a ele que me refiro. – Confirmei, com um tom de voz suplicante, exigente, mas emocionado. Eu estava num impasse. Era complicado ficar calma, pela forma aflita e duvidosa que o médico permanecia me olhando, a expressão apesar disso ilegível, e ao mesmo tempo, era mais relaxante não haver a barreira do silêncio entre nós.

Ele hesitou um pouco. Pareceu estar incomodado com alguma coisa, como se alguém estivesse lhe tentando puxar o jaleco. Meu coração começou a acelerar, eu pude saber disso pelos sons que ouvi da máquina ao meu lado, e quando os lábios do homem estavam prestes a formular palavras, a porta se abriu, vagarosamente, rangendo e interrompendo toda a atmosfera de tensão

O rosto da minha mãe estava desconfortavelmente aflito ao lançar seu primeiro olhar para dentro do quarto, e me ver, tecnicamente, normal, pude vê-la frenética.

-Está tudo sob controle, doutor?

Bem, para ele, não poderia estar melhor. Acabara de se livrar das minhas perguntas intimidadoras.

-Está sim, Sra. Hale. Pode entrar.

-Meu marido e Alice podem me acompanhar?

-De certo que podem. Rosalie está mais calma agora, não está?

-Sim, estou. – Afirmei. Mas não consegui reprimir o nervosismo no tom de voz. Tentei olhá-lo de uma forma suspeita, mas ele não me correspondia com os olhos.

-Ótimo. Podem entrar.

Os passos de um eram o oposto dos três. O médico seguia até a porta, enquanto minha mãe, seguida por meu pai, e depois por uma afobada Alice. Me perguntei onde estaria Jasper, afinal, ELE ERA MEU IRMÃO, e eu ainda não o havia visto...E Edward também, porque ele não deixava de ser parte da família...Mas não importava agora, eu sabia que não conseguiria conversar, com nenhum dos três e suas caras de afobados aflitos se AQUELA QUESTÃO maldita, continuasse me agoniando...Mal eu vi o rosto de Alice se repuxando num sorriso, e ela fechando a porta do hospital, as palavras vieram como uma enchente, escorrendo pela minha garganta:

-Olha, eu não quero ser mal-educada com vocês, eu agradeço muito a preocupação, amo vocês e fico contente que estejam aqui comigo, mas antes de me perguntarem, qualquer coisa, e me mimarem, eu preciso, de qualquer forma, saber, o que houve com o Jacob. – E quando percebi seus olhos arregalados, suas expressões prestes a hesitarem, já completei: - E não quero que me achem fraca demais para isso. O que quer que for, vou conseguir lidar.

Eu não me lembrava de ter proferido palavras fortes como aquela antes. Sei lá, era como se eu me encontrasse agora. Aquela Rose fútil do meu passado estava se desintegrando, se fundindo com uma versão mais lógica, uma versão que agora, perdia o fôlego, tentando ficar pronta, para qualquer coisa. Qualquer mesmo.

-Rose, eu não quero que você sinta...

-Não, Alice, por favor. Eu preciso saber. –Interrompi, antes que com seu rosto suplicante, e desesperado ela me forçasse a esquecer essa necessidade.

-Mas...

-Diga. O que foi que aconteceu com ele? Com Jake? –Eu proferi as palavras, cortando as dela novamente. Não havia tempo para protestos, porque, uma vez obtida a resposta, não haveria tempo para arrependimentos. Porque de alguma forma, eu sabia...Eu iria me arrepender por perguntar.

A simples forma triste que Alice me olhou, logo ela, tão feliz, tão entusiasmada, me fez perder o fulgor, perder a linha de raciocínio, o chão, o ar, a fala. Vi ela reprimindo um soluço, e de alguma forma, eu soube, no segundo antes de ela me revelar, apesar dos olhares inafiançáveis e assustados de meus pais, a verdade, que ela não hesitaria dessa vez. E também não mentiria para mim. As faíscas de seus olhos, agora, de certo, poderiam ser lâminas. Eu nunca havia sentido, e visto-a daquele jeito. Meus olhos tão perdidos no movimento trêmulo de seus lábios, que quase nem prestei atenção nas palavras que eles formavam.

Até elas tirarem meu mundo fora da órbita.

-Jacob entrou em coma, Rosalie.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 03/12/2011
Código do texto: T3369488
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