Paixões & Traições - Faço tudo por você (Capítulo 4)
(Narrado por: Bruno)
_ Alguns Dias Depois _
Já era tarde, tínhamos passado todas as aulas e o jogo de futebol diário acabara a pouco tempo. Enfim, era sexta-feira.
Eu, Renan e Erik estávamos no vestiário. Terminei meu banho e só então notei a falta de Brian, que no geral era sempre o último a sair de lá.
Ele era uma especiezinha de metrossexual, que poderia muito bem parecer outra coisa caso não fosse o cara mais galinha de nós quatro, e o único capaz de dar em cima da minha namorada. Com aquele cabelo lambido de gel e com um rain-bain se achava o maioral. Mas só um imbecil se enganaria com aquela carinha de pegador e não acreditaria que ele era o cara insuportável que era. A vida de Brian sempre foi estragar a de todos ao seu redor.
- Aí, onde que o Brian tá, hein?
- Sei lá. Mas tenta perguntar pra Ju, com certeza ela sabe - me respondeu Erik, só para zoar com minha cara; ele sabia que quando procurava por Brian, era porque também queria saber onde minha namorada estava.
A ideia de que Julia e Brian tinham uma quedinha um pelo outro me atormentava, mesmo com eles dizendo que era pura neurose minha. Era bem difícil acreditar, admito. Os dois viviam sempre grudados e todas as discussões sempre me pareciam fachada, algo que só completava a ideia de que os opostos se atraem.
Tanta dúvida só servia para Erik tirar uma comigo. Nada que me irritasse. Sabia que aquilo não passava de uma zoação da parte dele, uma metáfora para dizer que era trouxa por ficar servindo de babá pra Julia, quando estava claro que ela era louca por mim.
Fechei o zíper da mochila e joguei-a no ombro esquerdo. Fui atrás de Ka ou Samanta esperando que Julia estivesse com elas e não com o zé mané. As duas estavam sentadas em frente ao vestuário, Karine vidrada em seu Ipad e Sam saboreando as duas dúzias de doces que preenchiam seu colo.
- Cadê a Julia?
Karine sequer pareceu me ouvir, mas Sam apontou para a esquerda; onde ficavam os corredores dos armários, sem sequer desocupar a boca que estava entupida com um pirulito que pelo tamanho parecia mais uma maçã do amor.
A escola já estava vazia. Todos alunos tinham ido embora. Eu e os outros sempre éramos os últimos a sair não porque fôssemos obrigados, mas porque era o Equality o lugar onde mais nos encaixavamos; nenhum de nós tinha motivos suficientes para largar tudo e ir correndo para casa.
Eu particularmente vivia discutindo com meu pai; Julia odiava estar no mesmo lugar que a mãe, Brian ainda que em silêncio sofria por ver sua mãe trancada num quarto em extrema depressão, Sam se lastimava por ver sua avó morrer aos poucos por causa de um câncer e não poder fazer nada, Erik tinha que servir de chefe da casa, porque seu irmão só servia para "Sexo, drogas e Rock'n Roll", Karine assim como o namorado servia para colocar responsabilidade na cabeça da mãe, que incosequente só pensava em se divertir e Renan por ter nas mãos a missão de conseguir sucesso para toda sua vida, ele queria ter o que os pais não tiveram, queria ser algo mais que um motorista particular, nem ter de ver a mãe servir de governanta para ninguém. Isso tornava os probleminhas do Equality bem mais suave para a gente.
- ...e olha que a Silvia só fez a primeira parte. - Segui o eco das palavras de Julia. - O resto achei desnecessário. Como falei antes ela é inútil demais para alguém perder tempo fuçando sua vida.
- Me deixa ver - disse Brian em tom de ordem.
- Nunca. O trabalho foi todo meu! Não sei porque está interessado - respondeu Ju.
- Mas fui eu quem deu a ideia. Então passa isso aqui, faz três dias que está com isso!
Parei num ponto distante, onde podia vê-los. A parte boa era que não estavam se pegando. A parte ruim, é que eu não sabia por que estavam discutindo por meia dúzia de folhas que estavam nas mãos de Julia. Esperei.
- O que quer com isso?
- Pegar o telefone dela, o que mais poderia fazer com um bando de informação dessas? - respondeu Brian.
- Pois eu diria que a garota pode não ser uma Miss Universo, mas tem capacidades intelectuais que podem nos fazer bem caso alguém resolva interferir na nossa eleição para o grêmio deste ano. Bom, Bruno deve ter te dito que uma menina queria entrar na disputa.
- Na verdade acho isso tudo muito bom. É claro, que ninguém ganha essa competição além de nós. Mas seria bom ver alguém perder. Há anos ninguém se inscreve contra nós.
- Na verdade isso é muito ruim, Brian! Se alguém entrar vai ter de ficar junto com a gente. Foi isso que meu pai falou. Enquanto não tivermos todos os membros, os novatos ficarão na nossa chapa. Afinal, isso me lembra que Sam abriu a boca demais... Ela merece um castiguinho.
- O que fiz já basta - falou Brian.
- E o que fez?
- Estou enchendo ela de doces... No fim do mês ela vai estar mais gorda que o Jô Soares.
Os dois riram. Como eram infantis!
- Agora me dá isso! - disse Brian parando logo com a risadinha e partindo para ignorância.
- Não vou dar! - guinchou Julia. - Estou falando sério Brian, o que você tem aqui é meu e pronto acabou! Fui eu quem tive a ideia de tirar a Silvia do amoremcristo.com e fazê-la encontrar isso e apesar de ter sido você quem me avisou fui eu quem consegui tudo! Além de quê não confio em você, sei que pode muito bem inventar algo desprezível para o Bruno.
- Bruno não vai saber de nada disso! Na verdade ele nem deve saber!
De certa maneira a conversa me convidava... Então fui até eles!
Julia levou um susto ao me ver e escondeu as folhas atrás das costas. Depois mudou de assunto:
- Então, a gente pode passar ali na CNS, vi uns sapatos lindos Brian. A sua cara... Bruno! - fingiu surpresa. - Estava falando com o Brian, podemos ir fazer umas compridas não? Ter um colégio em plena avenida paulista, nos da certos privilégios. O que acha de passarmos na CNS agora hein?
Eu odiava comprar sapatos! E se tratando de Julia e Brian ao meu lado, eu odiava ainda mais.
- Dessa vez não Julia - falei seriamente afim de não demonstrar irritabilidade na frente de Brian. - Deixa o Brian ir sozinho, sei que ele é igual você não perde uma liquidação - Completei com escárnio.
- O que aconteceu? Você está sério - disse ela.
- Brian sai daqui - falei. Não ia começar mais uma discussão na frente de ninguém.
Ele não disse nada. Só saiu. E quando tinha sumido de vista falei:
- Que história é essa? O que eu não posso ver, e desde quando anda de segredinhos com o Brian, Julia?
Ela me olhou assustada e sem palavras.
- Er...eu... - gaguejou.
- Não importa! Me dá as folhas que está escondendo!
- Não, é que eu... - meu celular a interrompeu. Não quis atender mas pela música e persistência indicavam que era meu pai.
Respirei fundo. Atendi.
- Jantar as sete no SKYE - disse rápido antes que eu pudesse dizer alô.
- Mas...
- Sem mas Bruno! Já falei, as sete no Skye. Um dos meus novos sócios estará lá, é imprescindível passar sua imagem na empresa também. Ah! E leve Julia, ela vai dar a impressão de que é mais velho e mais focado no futuro.
Ele desligou antes que respondesse.
- Droga - rosnei.
- O que aconteceu?
- Tem como ir no Skye hoje? - pedi.
- Deixa eu advinhar: jantarzinho de negócios dos Giorgios.
Assenti.
- Mas tínhamos combinado de ir até a casa do Erik. Hoje é sexta o Kaique vai fazer mais uma festa daquelas!
- Eu sei. Mas é meu pai, Ju... Não tem como dizer não.
Ela respirou fundo. Depois sorriu.
- Odeio servir de acompanhante. Mas vou sim. Só deixa eu pegar minha bolsa ali, e avisar meu pai que vou dormir em sua casa.
- Na minha casa?
- Qual é? A acompanhante tem que fazer o serviço completo. Me espera aí. - Ela se foi.
Encostei na parede esperando Julia voltar.
ACORDO DA SEMANA: GRUPO GIORGIO FECHA CONTRATO DE MAIS DE UM MILHÃO DE REAIS.
Essa era a manchete do jornal que estava numa lixeira próxima. Não sabia que meu pai andava apostando tão alto ultimamente, e embora os negócios dele nunca me chamavam a atenção, e do jornal estar no lixo o peguei para ler.
De dentro do jornal caíram várias folhas. As mesmas que Julia me escondera. E o nome Jasmine Castelli estava em todas elas.
Não acreditei.
Um histórico repleto de 10, recebidos numa escola chamada Santa Cecília no Rio de Janeiro. Xerox de RG, certidão de nascimento. Aquela era a menina que eu procurava, mas não nos papéis, ou na análise do psicólogo do Equality que dizia que ela era uma garota participativa, mas também era muito retraída. Mas o que Julia tinha com aquilo?
- Confesso que se fosse o Brian eu pisava na cabeça! - Olhei para cima. Era Sofia. - O que está fazendo no chão Bruno?
- Oi - disse me levantando e beijando seu rosto. Sofia era de veneta as vezes ela falava com você, outras vezes ela SÓ te odiava. - Não sabia que estava falando comigo.
Deu de ombros - Sempre falei com você. Só não te conheço quando está perto da sua namorada. Porque perto dela você é outro!
- Porque não leva isso para o seu tio hein? Tenho que falar uma coisa com a Julia - pedi jogando em suas mãos os papéis, e saindo.
- Entããão tááá - disse lentamente. - Você nem pediu, mas eu entregou sim.
Sofia era prima de Julia. Uma coisa que elas não revelavam a ninguém. Eram muito diferentes, não só fisicamente; já que Julia fazia o tipo garota sensual, enquanto Sofia era toda jogadona; mas se diferenciavam também no jeito, Sofia era mais simples e não costumava se dar bem com a monarquia que Julia colocava sobre o colégio. A loura do meu tamanho, morava na casa da prima enquanto os país moravam na França, Sofia era modelo e só estava aqui pelo trabalho.
- Prontinho! Vamos?
- Julia, porque estava com a ficha da Jasmine?
Ela franziu a testa.
- Foi uma coincidência, papai...
- Sem mentiras! - interrompi cruamente.
- Só queria saber quem é ela. Quer dizer, você estava todo interessado nessa menina vai lá saber o que queria com ela.
- E você acha que que seu eu tivesse algo com ela estaria informando na matrícula dela?
Ela deixou o rosto cair. Envergonhada.
Por mais que quisesse, não conseguia sentir raiva de Julia. Ao mesmo tempo que era tão incosequente, era tão doce ao ponto de me fazer perder a pose de carrancudo.
- Olha, não precisa tudo isso tá. Nem estou querendo achar essa menina mais! - disse prendendo-a em meus braços. - Isso é tão infantil Julia!
Ela tocou em meu rosto, e me pediu perdão com seus expressivos olhos azuis.
- A ideia de te perder me faz fazer isso! - sussurrou.
- Você não vai me perder. Só me promete que não vai mais fazer isso.
Ela não respondeu. Parecia ter medo de me prometer algo.
- Está bem Julia? Nunca mais! - falei alto, mas ainda assim não me respondeu.
Promessas era algo que não costumava sair da boca de Ju. Mas ainda assim acreditava que ela não poderia mexer com isso de novo.