XII. O dia do círculo
No dia dois de dezembro a terceira aula era da professora Mônica. Ela entrou e pediu para que os alunos formassem um círculo.
Rapidamente os alunos formaram o círculo. Merari ficou admirada por ela estar fazendo isso. Uns dias atrás Merari havia perguntado se ela não iria fazer um círculo para que eles conversassem, mas ela disse que não dava para fazer. A sala não tinha condições.
Porém, assim que todos se acomodaram a professora também se juntou ao círculo e começou seu discurso:
- Esse era o único terceiro que eu não ia fazer isso, mas a pedidos de alguns...
Após dar seu depoimento, ela pediu para que algum aluno começasse a falar. Naquele momento todos ficaram calados. O engraçado é que durante as aulas todos gostavam de conversar e agora que havia dado oportunidade, ninguém se manifestou.
Até que um dos alunos se manifestou e assim sucessivamente.
Todos estavam concentrados até que a diretora apareceu à porta. Ela havia admirado a dinâmica e perguntou:
- Quem é o professor que está aqui?
Naquele exato momento, a professora Mônica se levantou e se apresentou dizendo que estava fazendo uma dinâmica com os alunos.
- Nossa, tá tão bonito! Eu sinto muito em atrapalhar, mas os alunos têm que ir ensaiar.
A professora disse que não tinha problema. Ela disse que era só para esperar um pouquinho que ela queria que todos colocassem a cadeira no lugar.
Os alunos subiram em fila até a quadra e cada um achou o melhor lugar para se sentar.
A professora resolveu sentar-se ao lado da Michelle, que estava ao lado da Merari.
- Vou sentar do lado das minhas amigas! – disse a professora sorrindo.
Em breve foi iniciado o ensaio.
Quando terminou Merari foi até a professora e perguntou se ela estava melhor. A professora disse que ainda estava com tosse, mas que já estava melhor.
Após o intervalo, novamente seria a aula da professora Mônica. Os alunos entraram e formaram o círculo.
Desta vez todos falaram. Até a Merari falou. Ela gostaria de agradecer à professora por tudo quanto ela fez por ela, mas todos os colegas estavam presentes. Merari ficou com receio que eles achassem que ela estava querendo puxar o saco dela e então resolveu falar somente o necessário.
Após encerrar sua fala, a professora ainda falou:
-A Merari vai sentir faltar de ir à lousa!
Então, Merari aproveitou essa pequena brecha para dizer que realmente iria sentir falta da lousa como também da professora.
Estava tudo maravilhoso. Estavam até filmando. Chegou um dado momento que Merari não conseguiu mais segurar suas emoções. Aos poucos lágrimas foram escorrendo e teve uma hora que não teve jeito de segurar. Tanto tempo junta com seus colegas e agora estavam se despedindo. Não teve jeito!
Na vez da aluna Aninha, ela não quis falar então alguns colegas mostraram para a sala toda a camiseta dela escrita com letras bem grandes e centralizadas: “Tiago e Aninha”.
A aluna ficou vermelha e falou:
- Olha professora, olha isso!
A professora olhou para ela e disse:
- Olha Ana, acho que você deve assumir. Todo mundo já sabe. Pra que ter vergonha?
Quase todos haviam dado seu depoimento. Quando chegou a vez da Felícia, ela por sua vez não quis dar seu depoimento.
- Por que você não quer falar, por que você é diferente? – perguntou a professora nas melhores intenções
A aluna virou para ela num tom de arrogância e disse:
-Eu não quero falar só isso. E eu sou diferente mesmo!
A partir daí começou...
A professora disse que havia aturado ela durante os três anos e não disse nada. A aluna quis cortar a professora e a mesma pediu licença que ela iria falar naquele momento.
Então, durante toda essa confusão Merari já estava chorando. Sentiu-se muito mal pelo ocorrido e a partir daí desabou a chorar.
A pressão foi tão grande, que a aluna conseguiu tirar a professora do sério.
Num certo ponto, a professora se levantou, pegou sua mochila, guardou o óculos e disse:
- Eu não vou à formatura de vocês. Vou pedir para a diretora para eu sair mais cedo.
Disse isso e saiu da sala chorando.
Merari ficou inconformada com o que acabara de presenciar. Não podia admitir que isso acontecesse. Não podia permitir que sua professora mais querida faltasse à sua formatura devido a um mal entendido entre uma aluna.
Passados alguns minutos Merari resolveu ir atrás da professora. Ela havia entrado na sala dos professores e a porta estava fechada. Merari voltou à sala de aula e foi mais tarde com algumas meninas. Mas... Uma professora pediu para que elas voltassem. Ela sabia que as meninas queriam ajudar, mas era para elas voltarem para a sala.
Merari voltou, mas não conseguiu controlar seu choro e ficou ali, sem ação.
Depois de alguns minutos, Merari saiu da sala de aula e ficou lá no pátio. Ficou ali por longo tempo. Inconformada chorava constantemente relembrando as cenas ali passadas. Pensou durante aquele vago tempo, como alunos como aqueles poderiam cometer tais atos.
Passados alguns minutos alguns colegas a chamaram para tirar foto. Merari estava tão triste, tão inconformada que decidiu que não iria tirar foto. Disse a eles que iria depois, mas na verdade não foi, pois não havia nela vontade alguma de se juntar a eles.
Depois que eles saíram, Merari foi acompanhada de sua amiga Michelle até a sala dos professores onde a professora Mônica se encontrava.
A professora estava agora sozinha, então as duas entraram e a professora falou:
- Fala Merari.
- A senhora está melhor? – perguntou Merari
A professora disse que estava sim.
Merari então tornou a perguntar:
- A senhora vai à formatura né?
- Vou Merari, pode ficar sossegada!
Merari disse ainda que não sabia o que falar da sala.
Elas ficaram alguns segundos paradas ali e a professora falou:
- Vai gente, vão pra sala!Amanhã eu estarei aqui!
Merari e Michelle voltaram para a sala. Merari não havia conseguido ainda se controlar. Chorava constantemente.
Estavam na aula de história e a diretora entrou na sala e conversou com todos. Ela acabou aplicando suspensão para a aluna.
A professora Mônica foi embora mais cedo, pois não conseguiu dar aula.
Merari foi embora no seu horário de costume. Foi para Bragança fazer seu curso. Foi de Atibaia a Bragança pensando em tudo aquilo que havia acontecido naquela manhã.
Mal via a hora de chegar em casa.
Merari chegou em casa e quinze pra oito ligou na casa da professora Mônica.
O esposo dela atendeu e ela perguntou se podia falar com a Bianca. A Bianca atendeu o telefone e Merari perguntou se a mãe dela estava melhor e se ela iria amanhã.
A filha dela disse que sua mãe estava melhor e que iria no dia seguinte.
Merari despediu-se e pôde ficar mais tranqüila.
(Merari Tavares, 2009, Minha Querida Professora)