Os ultimos dias com ela *) p.9

Haviam varias crianças, negras, brancas, japoneses... E apesar de todos aqueles conflitos de raças crianças só queria se divertir, brincar, ser feliz.

- O que houve com a sua perna? – perguntou uma menininha. Ela era morena, tinha os olhos castanhos, não era muito alta, e não tinha cabelos. Não parecia uma criança.

- Eu quebrei, quantos anos você tem? – eu perguntei

- 13. E que te fez vir aqui? Pessoas da sua idade só pensam em futilidade, não ligam pra pessoas como nós. – ela perguntou.

- Eu fui atropelado, quebrei a perna e agora estou aqui, e você o que te faz vir aqui? Que eu saiba essa é uma festinha para crianças e não para a sua idade. – eu disse

- Você quer saber o que me traz aqui? – ela perguntou. – Sabe eu era linda, tinha os cabelos negros e muito longos, era popular na escola, tinha vários amigos, e cantava, e todas as pessoas que me ouviam cantar falavam que eu “com certeza seria uma estrela” – ela parou e pensou um pouco – eu cantava todos os dias, cantava na escola, em festas, meu destino já estava traçado. Mais de uma hora para a outra fiquei rouca, com dores de garganta, meu pescoço ficou inchado, e comecei a tossir sangue. Primeiramente eu pensei que fosse só uma gripe muito forte, mais isso durou varias semanas. Então minha mãe me levou ao medico, ele começou a fazer vários testes. E um dia eu estava em casa, e recebi um telefonema, era o medico dizendo que já tinha o resultado dos exames. Eu e minha mãe fomos para o hospital, e quando chegamos lá o medico disse. “ Sinto muito dizer mais você esta com câncer” – ela parou – “Câncer na garganta”. Depois dessas palavras eu não sabia o que fazer, eu sabia que teria que cortar o cabelo,sabia que minha voz ficaria horrível, e sabia que por causa dessas coisas meu sonho nunca iria se realizar. Eu não contei para ninguém da escola, ninguém da família. Eu tentava evitar falar no assunto. E um dia minha mãe me disse “Você precisa cortar o cabelo, eu não quero que você o veja caindo, não quero que você sinta essa dor.” E eu fui cortar. Eu fiquei fechando os olhos, por que eu tinha esperança que tudo aquilo seria um pesadelo. E quando eu os abri eu estava careca. Eu chorei, eu chorei muito. Perdi todos os meus amigos, todos falavam mal de mim na escola, não conseguia falar, e comer muito menos. – eu não sabia o que fazer, eu nunca ouvi ninguém falar assim, eu não estava preparando pra tudo isso. Eu fiquei imaginando como as pessoas podem ser tão rudes a ponto de “zuar” uma pessoa por ter câncer? A humanidade esta realmente perdida – depois comecei a fazer tratamento. E infelizmente houve complicações, e o medico disse que talves eu pararia de falar. Ou coisas do tipo – uma lagrima caiu do seu rosto. E eu a sequei – E agora estou aqui. Os médicos disseram que foi muita sorte, minha voz voltar. Estou em tratamento, e se tudo der certo tudo vai voltar ao normal, daqui a alguns anos. – ela parou – Agora você já pode sentir pena de mim, igual a todas as pessoas, agora você pode rir, ou fingir que se importa.

- Eu nunca iria rir de você, sabe eu nuca pensei em como seria viver uma vida com câncer. Eu nunca nem pensei em como seria viver assim. E agora penso que todas as vezes em que pensei e as vezes até falei que odeio a minha vida eu estava sendo idiota e imaturo. Eu sinto muito por você ter isso, e espero muito que você melhore logo, e quando você for uma cantora de sucesso, eu serei um dos primeiros a ir te assistir. – eu sorri. – Agora eu preciso ir, as criancinhas me esperam, eu preciso deixar elas felizes, por que eu sou o palhaço da festa, e tenho muito orgulho disso.

- Adeus – ela disse.

- Até mais. – e depois eu fui para o lado das criancinhas. Elas eram muito legais, era fácil as animar, contei varias piadas e fazemos “chapelzinho vermelho” e ela ficaram super entretidas, e eu queria que a cada dia elas rissem como estavam rindo naquela hora.

Então fomos embora.

- Gostou? – Isabella me perguntou.

- Sim, me fez pensar muito sobre minha vida, como nós somos fúteis, reclamamos da vida por qualquer coisa, e pessoas que estão doentes não reclamam tanto.

- Isso é uma verdade. Sabe ver aquelas crianças rindo me fez penar que apesar de eu ir embora daqui a algum tempo, eu vou ser feliz, não importa onde eu esteja, no hospital, em um pais diferente.. eu vou e eu quero ser feliz. Junto com você.

Entao fomos para a o meu quarto no hospital.

- Quanto tempo você ainda vai ter que ficar aqui? – ela perguntou.

- Amanha eu já vou embora. – eu repondi.

- Sua mãe deixou você ir comigo, na casa do meu pai?

- Nossa, esqueci completamente de perguntar para ela, mais com certeza ela vai deixar.

- Eu estou com um pouco de medo, eu não sei como vai ser ver meu pai, e saber que vou passar um bom tempo sem vê-lo.- ela disse.

- vai ficar tudo bem. Não precisa ter medo, eu estarei lá para te proteger de tudo, sempre que você precisar. – Ela me deu um abraço.

- Você não tem medo de nada ? – ela perguntou.

- Eu tive hoje, e ontem.

- Teve?

- Achei que iria perder você.

Ela me deu um grande beijo, eu nunca iria me acostumar com aquele beijo, por que era o melhor, e sempre havia algo diferente. As vezes, tristeza, as vezes raiva, e muitas vezes amor. Ela me cobriu e me deu um beijo na testa. Eram 8:00 da noite.

- Por que você gostou de mim? Por que demorou tanto tempo para assumir isso? – ela perguntou,

- A gente da risada. Você me faz rir. Você me faz feliz. Me faz voltar a ser criança, por que crianças são inocentes. Crianças amanha sem culpa. E a nossa amizade era exatamente assim : uma brincadeira de gente grande – aquela frase não era minha, mais apesar disso, ela dizia tudo o que eu queria dizer. – Sabe eu nunca pensei que eu gostasse de você dessa forma, mais eu gosto. E eu só fui entender esse “gostar” no dia em que eu entendi que se você fosse embora eu ficaria sozinho, no dia em que eu descobri que você faz uma grande diferença na minha vida. No dia em que eu descobri que você era o meu mundo.

Ela começou a rir. E chegou perto de mim

- Tchau, esta tarde. Eu preciso ir embora. – ela me deu um beijo e ia saindo pela porta.

- VOCE ME ESPERA? – eu perguntei, e ela abriu a porta – Você me espera? Quando tudo isso acabar, na primeira chance que eu tiver eu irei atrás de você. Você me espera?

- Sim, e depois nós casaremos, teremos 2 filhos, e envelheceremos juntos. – ela parou para pensar – Eu irei te esperar. Eu não ficarei com ninguém que não seja você, por que eu confio em você, e eu não me vejo com outra pessoa que seja você. Eu amo você.

- Eu também te amo.

Ela me deu outro beijo. E depois saiu e falando.

- Não esquece de falar com a sua mãe sobre meu pai. Eu vou pra casa dele depois de amanha. Até logo. – e depois foi embora. E de repente quando ela acabou de sair minha mãe entrou.

- Eu achei que você já tinha ido embora.

- Meu dever de mãe é ficar com você no hospital. – e nós dois rimos.

- Mãe eu posso ir na casa do pai da Isabella depois de amanha? – eu perguntei

- Filho você sabe muito bem que se você for pra casa dele, ira revelar nosso segredo, eu não quero que ele faça teste de DNA e nenhum outro teste para saber se voce é o filho dele, nós finalmente estamos bem, não vamos estragar isso. – ela estava com a mão na minha perna.

- Eu juro que não vou falar nada, prometo – eu disse – confie em mim.

- Tudo bem, a escolha é sua, mais não faça coisas que você pode se arrepender depois.

- Tudo bem, vou tentar – e começamos a rir.

Minha relação com a minha mãe mudou completamente, agora eu gostava dela, eu passei tanto tempo a odiando por motivos inexplicáveis que agora eu não consigo falar EU TE AMO para ela. E talves nunca irei conseguir.

M splash
Enviado por M splash em 11/11/2010
Código do texto: T2610403
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