O Segredo do Medalhão - Cap. 1

O segredo do Medalhão

05 de novembro de 1992

Em uma noite muita escura, onde o vento parecia ter congelado o tempo, onde as estrelas pareciam não querer brilhar mais, onde até os murmúrios dos velhos bêbados pareciam silenciados, algo incomum estava para acontecer.

Nesse cenário bem surreal, de uma noite que tinha tudo para ser a mais comum de todas, nascia uma criança, que no futuro, iria dominar tal força e poder inimagináveis, pesssoas matariam, morreriam, dariam seus tesouros mais preciosos só para terem ele.

As poucas pessoas que sabiam do nascimento da criança, estavam agora na obrigação de protege - lá de todo o mau que iria cair sobre a mesma no momento que o outro lados soubesse de sua existência. Para que a criança fosse reconhecida em qualquer lugar, independente da região, seus protetores deram para ela um medalhão que a protegeria quando ninguém estivesse por perto.

Assim, a criança, que era uma menina, cresceu e já está quase na hora de seus poderes aflorarem...

14 de Abril de 2009

Quase dezessete anos depois dessa noite misteriosa, uma manhã ensolarada está começando na pequena cidade de Beldover, localizada na encosta de uma colina no sul da Austrália. Beldover era uma típica cidade de interior, todos se conheciam, todos estudavam na mesma escola, consultavam com os mesmos médicos, abasteciam no mesmo posto... A vida de todos era muito comum, nada de diferente acontecia, mas era assim mesmo que todos gostavam de viver.

Bom nem todos....

- Sara acorda.!!

Era isso que eu escutava todas as manhãs, como eu odiava ter aula de manhã.

-já to indo mãe... – respondi de mau humor, primeiro dia de aula nunca é meu dia favorito, se bem que todos os dias que eu tenho que acordar cedo para ir assistir aulas chatas e ficar por perto daquele monte de gente que não vão com a minha cara, também não eram meus dias favoritos.

Foi com esse pensamento que me levantei e fui de arrasto até o banheiro tomar um banho, de preferência gelado para acordar definitivamente. Sai do banho enrolada na toalha, abri meu guarda roupa, peguei uma calça jeans, e uma regata branca, me vesti e abri a janela do meu quarto. Logo que abri, o sol invadiu todos os cantos do quarto, coloquei quase todo corpo para fora do quarto, procurando qualquer vestígio de vento, mas não encontrei nem senti nenhuma corrente de ar, o tempo estava parado.

Voltei com meu corpo para dentro, procurei minha pasta e numa rápida olhada a encontrei no sofá perto da porta. Passei a mão sobre ela e num puxão a tirei de cima do sofá, sai do meu quarto, sem antes verificar se a porta estava devidamente fechada, sou muito “protetora” quando o assunto é as minhas coisas, principalmente se essa coisa se encontra dentro do meu quarto, é uma vergonha raivosa, minha mãe já sabe disso, mas não sabemos que pessoas podem entrar em casa, quando se está ora dela.

Desci as escadas pensando em milhares de catástrofes que poderiam acontecer para que não houvesse aula hoje. Sem esperanças de que algum meteoro sem GPS caísse bem em cima da escola ou então que algum terrorista desgovernado colocasse uma bomba lá, entrei na cozinha e vi minha tomando café em pé, do lado da pia lendo alguma coisa no jornal que parecia realmente interessante, a julgar pelo sorriso que estava estampado em seu rosto.

- Bom dia mãe... – disse se muito entusiasmo, enquanto puxava duas cadeiras, uma para mim, outra para a minha pasta. Pego uma torrada e aproximo o vidro de geléia para perto do meu lado da mesa.

- Ah... Bom dia filha. Nem sabes o que estão dizendo aqui no jornal...-disse ela com um grande sorriso enquanto largava o jornal e o café para servir um pouco de suco em um copo e empurrá-lo em minha direção.

- Não faço nem idéia mãe, mas para ser uma noticia que tu acha que vai ser interessante para mim, deve ser alguma novidade... – respirei fundo e continuei – e se é uma novidade, isso já é para ser considerado acontecimento do ano, afinal nada de novo acontece por aqui... Estou surpresa que nenhum paciente seu ainda não ligou para anunciar o fim do mundo mãe.

Minha mãe era a única terapeuta da cidade, e mesmo não acontecendo nada por aqui, ela vivia com a agenda lotada e a sua sala de espera nunca estava vazia, minha mãe era como se fosse um padre por lá, todos se “confessavam” com ela. Quando eu era mais nova gostava de ir ao serviço da minha mãe só pra ver a cara das pessoas que passavam por lá, por isso conheço todos da cidade e mesmo não querendo, sei dos problemas de todos também.

- Como a senhorita é engraçadinha... Mesmo assim vou te dizer, sabe os nossos novos vizinhos.??- ela nem esperou eu responder- bom aqui no jornal diz que o Senhor Robert, é o mais novo advogado da cidade.

Minha mãe só podia se maluca mesmo. O senhor Robert, havia se mudado a menos de três dias para a casa do lado da nossa, ele vivia com seus dois filhos que eu não faço idéia de como sejam, pois não saíram de casa em nenhum dia. Minha mãe adorou o novo vizinho, é um solteirão, deve ter lá seus quase 40 anos, é alto, magro, forte, e eu tenho que admitir que a primeira vez que olhei para ele, me perdi dentro dos olhos cor de mel que ele tem. Mas a minha mãe pegou apaixonite por esse homem, mesmo ele parecendo ser uma boa pessoa, eu não consigo sentir isso nele, tenho a sensação que ele esconde alguma coisa, não sei, mas minha mãe sabe tudo dele.

- Pra ta sorrindo desse jeito Senhora Vivian, só podia ser mesmo coisa do senhor Robert, não sei o que tu vê nele mãe... -disse comendo mais uma torrada vagarosamente.

- Filha, isso é bom, interagir com pessoas que vem de outras cidades, hábitos novos, costumes novos, pensamentos novos... – disse enquanto tentava prender meu cabelo que devido a genética minha inimiga me fez ter cabelos enrolados como os do meu pai e não lisos como o da minha mãe. Por serem enrolados, não aceitavam ser presos, eles se soltavam, é uma façanha prende-los e ele permanecerem assim.

- Sei sei mãe, hábitos novos...- disse com um sorriso enquanto terminava meu suco. Levantei-me, peguei uma maça, coloquei dentro da pasta.

- Mãe to indo, acho que, como sempre, vou chegar atrasada no primeiro dia de aula... – me aproximei dela, dei um beijo na bochecha e fui em direção a porta dos fundos.

- Cuide se querida.

- vê se a senhorita não chega atrasada no seu consultório em Doutora Vivian... - sai sorrindo de casa. Ouvi alguns berros, que eu tenho certeza que eram da minha mãe. Sorri mais ainda e caminhando muito lentamente, fui em direção a escola.

Na metade do caminho, com a ponto dos dedos nos bolsos da calça, estava começando a me perguntar por que eu não tinha pegado meu skate e a resposta surgiu instantaneamente na minha cabeça. Ninguém gostava de mim no colégio por vários motivos, um deles era o meu skate, que naquele fim de mundo era considerado coisa de meninos, assim como ir de calças para o colégio. E também pesava muito o fato de que minha mãe era uma mãe solteira, isso era coisa imoral para esse povo. Eles só não apedrejam a nossa casa e nos colocam na fogueira, porque a minha mãe é muita admirada e respeitada na cidade, então o fato de ser solteira passa batido, pelo menos pra ela, porque pra mim não.

Enquanto pensava, um vento repentino fez com que uma parte do meu cabelo voasse para a minha cara, me fazendo acordar dos meus devaneios e procurar o motivo da mudança de ar. O que eu procurava estava na minha frente, um garoto havia passado correndo de bicicleta por mim, o que me fez pensar que estava atrasada, o que era realidade. Cheguei 5 minutos atrasada o que me rendeu muitos risinhos dos meus “amáveis” colegas, a cara amarrada do professor de Biologia, Senhor Otávio e meu lugar ocupado.

Para não arrumar confusão logo no primeiro dia de aula, me senti no fundo da sala, bem no meio.

-Bom, como eu estava falando antes de ser interrompido pela Senhorita Lawrence – todos riram- esse ano todas as nossas aulas serão práticas e serão feita em pares pelos senhores. - disse o professor com um pequeno sorriso, enquanto mexia na folha de chamada e com um suspiro contente continuou.

- Até pediria para vocês se organizarem como bem quisessem, mas como eu sei alguém sobraria...

Uma clara indireta para a minha pessoa e como já estava acostumada com esse tratamento “bem especial”, nem dei muito bola, pelo contrário, peguei uma folha do meu caderno e com uma lapiseira comecei um desenho.

-... eu mesmo irei sortear as duplas para que não aja reclamações depois e não mudarei de duplas, terão que aprender a conviver em harmonia com seus pares até o final do ano. Ah isso me lembra que...

O que ele ia dizer foi interrompido, mais uma vez, por batidas na porta. Era a secretária da diretoria que pediu licença e entrou, seguida de um garoto que eu nunca tinha visto igual. Isso tudo eu só percebi, por causa dos risinhos histéricos das minhas estimadas colegas, estava tão concentrada com meu desenho que nem se uma bomba explodisse do meu lado me distrairia.

- Professor, turma, esse é o seu novo colega. Eric Winifred. Ele é novo na cidade, então espero que ele seja bem recebido por todos. – disse a secretária, que pela primeira vez na minha vida, parecida envergonhada com alguma coisa.

Eric, era um garoto fora do comum, não é todo dia que se vê pelas ruas uma pessoa como ele. Era alto, cabelo meio comprido, castanho escuro, olhos muito azuis, tipo o céu sem nuvem nenhuma em um dia de verão, sua pele era branca, mas não pálida, era só branca. Ele tinha uma cara de fechada, de poucos amigos, parecia feita de pedra. Estava usando um all star, uma calça jeans e um casaco bege. Ele olhou para toda a turma, como se com um olhar pudesse ler nossas mentes, saber de nossos segredos, descobrir os nossos medos e, por um instante, juro que ele conseguiu isso.

Quando a secretária pediu as desculpas finais e saiu, o professor estava com uma cara que dava medo, ele só guardava essa cara pra mim, então Eric estava com problemas. Eu sempre soube que o professor odiava ser interrompido no meio de uma explicação, podia ser a mais banal possível, mas ele odiava mesmo assim, principalmente se essa interrupção estava ligada a entrada de algum aluno atrasado. Isso era uma coisa que eu sabia como ninguém.

- Senhor Winifred, como o senhor consegui a façanha de chegar mais atrasado que a Senhorita Lawrence, não darei tempo para apresentaçõezinhas, sente se e desejo, profundamente, que o Senhor seja bom em Biologia, meu caro. – o professor falou muito irritado.

Eric sentou se na primeira cadeira vazia que encontro e como uma estátua não se mexeu mais.

- Bom voltando aos que eu dizia vocês esse ano, serão divididos em duplas que eu vou sortear agora. Peço que assim que seus nomes forem chamados, sentem se com seus respectivos pares e comecem a leitura do capitulo 1 do livro.

O professor passou a mão pelos seus poucos fios de cabelo, deu a volta na mesa, sentou se e começou a tirar de saquinhos pedaços de papeis, abrindo-os rapidamente e lendo-os em voz alta.

- Olivia e Rebeca... - rapidamente, as duas se juntaram e abriram o livro,mas tenho certeza que elas não estavam falando sobre método cientifico. Elas murmuravam alguma coisa e olhavam para o nosso novo colega e davam risadinhas abafadas. Isso estava me revirando o estomago.

-Senhorita Lawrence... - nesse momento todo mundo ficou quieto, eu puder ouvir alguém dizer baixinho um tomara que não seja eu. O professor abriu outro papelzinho e largo.

- Ah, claro... Senhor Winifred...

O murmurinho foi geral, eu vi caras de decepção, de alivio, de deboche entre outras. Nem precisei sinalizar que eu era a dupla do individuo. Pelo menos ele não é um tapado total..., pensei enquanto ele vinha caminhando na minha direção puxou uma cadeira e sentou do meu lado, abriu o livro e começou a ler sozinho.

Se ele não quer papo, eu que não vou dar uma de tagarela e correr o risco de falar sozinha. Voltei minha atenção para a folha que estava na minha frente e continuei desenhando. O tempo passou muito lentamente, aqueles dois períodos pareciam uma eternidade, levantei a cabeça e vi que todos estavam conversando, rindo, o professor estava lendo alguma coisa que eu não consegui ver o que era eu estava muito longe da mesa dele.

Enquanto ainda contemplava aquela cena admirável, um leve movimento do garoto ao meu lado e sem nem olhar para o lado, já sabia que ele tinha, aparentemente, terminado de ler e parecia ter reassumido a sua postura de estátua.

Com o lápis que eu estava usando para desenhar, prendi meu cabelo. Quando estava procurando dentro da minha organizada pasta, uma caneta para continuar meu trabalho, uma voz o meu lado me assustou.

- Hum.. Senhorita Lawrence.??

Olhei para o lado, o garoto ainda estava olhando para frente, mas com uma expressão de duvida no rosto.

- Falasse comigo.??- perguntei para o garoto, segurando minha pasta com uma cara de assustada.

- Você é a Senhorita Lawrence, certo.?? – respondeu o garoto sem olhar para mime por mais incrível que possa parecer, ele não move nenhum músculo do rosto quando falou, mas eu tinha certeza que tinha falado comigo.

- Sim... Mas me chame de Sara. Senhorita Lawrence é como esse e todos os professores me chamam... - disse com uma careta de desaprovação.

- Ah, bem... Meu nome é Eric... - disse o garoto, que graças ao adorável sinal, não terminou. Saiu correndo da sala e pelos olhares indagadores dos meus amáveis colegas, eu teria muita gente no meu pé. Juntei meu material e com uma rápida olhada no meu horário, descobri que teria historia com a velha senhora Linhares. Peguei minha pasta e fui me arrastando até a mais uma aula miserável.

Ao entrar na sala, atrasada como sempre, me sentei no fundo perto da janela, mas consegui ouvir a Senhora Linhares dizer:

- Atrasada como sempre... - parecia mais um resmungo do que uma afirmação. Ela estava conversando com o Eric. Segundos depois, ele estava indo se sentar na minha frente, do lado da Olivia Rupert. Não que eu não goste dela, mas que sujeitinha mais Barbie, resumindo, oca. Ela não vai com a minha cara, eu não vou com a cara dela, simples. Fútil, burra, e muito sem criatividade, é nisso que se resume a Olivia. Mas pelo jeito meu parceiro em biologia gostava de meninas assim, eles estavam conversando e rindo como velhos amigos.

Enquanto a professora estava só falando, abri meu caderno, tirei o lápis do meu cabelo e continuei meu desenho da aula de biologia, sem antes escrever um lembrete gigante na capa do meu caderno.

→ MUDAR DE DUPLA EM BIOLOGIA.←

A aula de História terminou rápido, e agora era hora do intervalo. Olivia e Eric saíram juntos da sala e agora eu tinha certeza que a Barbie Olivia tinha encontrado o seu Ken. Rindo da minha própria piada, caminhei até a parte de trás do colégio que sempre fica vazia naquele horário, pois todos se juntavam no pátio, que era mais ensolarado, para ficar falando uns dos outros.

A parte de trás do colégio era fascinante, pelo menos para mim, tinha mesas e bancos de pedras, várias árvores, uma fonte desativada, uma estatua num canto do fundador da escola, um velho portão de ferro, todo enferrujado, que sempre estava trancado, essa área era toda cercada por um muro alto, que com a ajuda das arvores, tornava impossível do sol chegar até lá.

Caminhando mais rápido que o normal, chego à minha parte favorita da escola, que aparentemente estava vazia, pelo menos era o que aparentava. Olho rapidamente para todo o lugar e com uma ponta de satisfação percebo que tudo está como eu deixei no final do semestre passado.

Sento-me perto da fonte desativada, encostando minhas costas no murinho erguido ao redor da fonte, que servia para conter a água, imagino eu, quando ainda ligavam a fonte. Abro minha pasta, procuro meu MP, presente do meu pai. Coloco os fones, aperto play e começo a ouvir Green Day, minha banda favorita. http://www.powermusics.com/green_day/4.wma

Pego minha maça dou a primeira mordida, a musica entrava pelos meus ouvidos, como se fosse o ar para os meus pulmões, não imaginava minha vida sem musica, morreria se isso acontecesse. Com o final primeira musica, minha maça acabou também, olhei para meu relógio de pulso, faltavam cinco minutos para o final do intervalo, coloquei o meu relógio para despertar, encostei minha cabeça na parede. Um raio de sol conseguiu, heroicamente, vencer a barreira de folhas que as arvores faziam naquele lugar e tocou bem no meu rosto. Fechei os olhos, bem na hora em que começou a tocar Nickelback. http://www.powermusics.com/nickelback/6.wma

Continuaa...

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NA.: Gente é o seguinte, o primeiro cap ainda não terminou, mas pra não ficar muito grande e enjoativo, eu resolvi dividir ele.

As

Sabah
Enviado por Sabah em 14/09/2009
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