Diário de um Formando - parte I
Todos olham-se contentes, os fotógrafos não param os flashs, cada feicho de luz é um salto no coração, somos importantes, somos heróis, nos formamos na faculdade após muitos pesares, olho para meus colegas de sala e de anos de estudo, sei que não os verei novamente, é a realidade, cada um segue seu caminho.
Meus pais me olham como um vitorioso, e em meio a abraços e palmas, despedidas e prêmios, a formatura vai chegando ao fim, e num retumbamte momento de alegria e alívio, todos em unisono dão um grande grito e arremçam seus chapéus para cima.
FIM
É, até então era isso que eu achava, fim, acaba-se as torturas da faculdade, e começa-se a vida boa, emprego bem remunerado, lazer, vida mansa, namorada, amor, e viver feliz para sempre. Leigo engano, oito meses depois e ainda não consegui emprego algum. Na faculdade, pelo menos, haviam os trabalhos de escraviário, pois é, muitos chamam de estagiário, mas na realidade você torna-se um funcinário cheio de obrigações e mal pago de alguma empresa aproveitadora, mas minha vida está prestes a mudar, recebi uma carta me convidando a fazer uma seleção, palavra esta que por sinal vem do inglês: Select que quer dizer “Sistema de Eliminação Lerda e Estressante Com Testes”.
É, hora de partir, estou mais cheiroso que maleta de barbeiro, minha mãe diz que pareço um executivo. Bem, ao meu ver visto uma roupa de super herói e saio na minha jornada para salvar a minha vida do tédio e da dependência dos pais.
Vou chegando ao local da seleção, estou empolgado, finalmente vou me “fazer na vida”, é só dobrar a esquina e...UM INFARTO, é isso que eu quase tenho ao ver a quantidade de gente amultuada na minha frente, sem chance, deve haver mais de mil só da área que eu me formei, fora o restante de almofadinhas que estão encostados em seus carros importados, cercados de mulheres lindas,.......calma, digo a mim mesmo,......sem inveja, afinal, são todas pessoas ignorantes e sem conteúdo, se bem que minha longa lista de atividades, que se resumem a assistir filmes e jogar xadrez não me dão tanta cultura assim.
Bem, vamos lá, procuro meu lugar na fila, são só duas voltas no quarteirão, besteira, nada que umas 6 horas em pé não resolvam. Na primeira hora chegam mais 500 pessoas, dois conversam comigo, Luiz e Daniel, o primeiro formado em Administração e o segundo em Psicologia. Já estou a mas ou menos 50 pessoas da grande entrevista, estou nervoso, me sento no chão enquanto Luiz e Daniel conversam sobre a empresa, começam a falar coisas como: é uma multinacional, vem do oriente, o dono tem descendencia hebraica, no nome da empresa tem uma palmeira, e bla bla bla e bla bla bla.
Estou cansado, meus olhos pesam, após 7 horas na fila você começa a pensar se as pedras no chão são realmente gostosas. E, em meio ao barulho da multidão eu à vi, um anjo, linda, fantástica, indescritível, seu sorriso parava o tempo para que o sol e o vento podessem adimirar...nossa...penso eu....não acredito que alguem assim precise de emprego, deve ser uma filhinha de papai, ou deveria estalar os dedos e selecionar qualquer partido rico que quisesse, mas é real, ela está lá. Me levanto rápidamente, desamasso minha roupa, me ponho em postura de homem que sou, forte, viril, determinado e desiludido, pois ela acaba de abraçar um homem que a esperava na fila.... pois é, Luiz põem a mão no meu ombro e diz – Pode esquecer, aquela ali até o ar que respira é importado, - logo Daniel discorda – Ela pode estar querendo impressionar assim como você, - sem chance, penso eu e volto a me largar ao chão para esperar minha vez.