O sapo desencantado
Do encanto ao beijo, do sapo ao príncipe,
parou certo sapo seu sonho na poesia
recolhendo em cada carícia esquecida
o doce perfume do coro de hosanas,
e nos transformismos eternos a dúvida
que desafia descobrir o sabor das ânsias.
Mas o sapo curvado ao passado onde
pegadas do sonho são areia ventada,
caminha seu destino sem recobrar esperança,
sem saber o que quer... oxalá soubesse
querer o impossível pelo que enlouquecer.
Aquele beijo que lhe desvelou o segredo,
apressou o porvir e afogou o mistério
no pântano outrora fauno parceiro.
Oh, tanto quis ser de novo aquele sapo,
como a dama una sereia, a verdade uma ilusão,
a lágrima uma canção, o orvalho um afago...
Quis recuperar seu sonho de amar a magia,
de enfeitar sua espera encantada. Mas não!,
jamais metamorfose com direito a sonho.
Irreverente destino concluso à mão fechada,
findou sua parceria com rouxinol amoroso
e naquele pedaço de céu espremido
atrás da colina de surpresas,
inalando aroma de sândalo,
ganhou o sapo o poder plebeu
para não mais sonhar.