A Suçuarana e a Onça-pintada
Em uma floresta não muito distante daqui, havia um filhote de suçuarana e outro de onça-pintada, que por terem atingido certa idade, foram abandonados pelos pais. E tentando entender que rumo tomaria o resto de suas vidas, os dois filhotes desataram uma discussão que para o macaco-prego não teria mais fim. Este que os observava a mais de uma hora, franzia a testa e revirava os olhos para cada palavra que ouvia.
– Se ele quer viver em bando, deixa-lo ir! – Disse o macaco-prego intervindo, aparentemente saturado.
– Animais como nós, não vivem em bando! – Disse a onça-pintada lançando um olhar de repulsa para o macaco-prego.
O macaco-prego sentou-se no galho, embora não parecesse particularmente ofendido.
– Animais como nós, fazem o que querem da vida! – Urrou a suçuarana com altivez. – Aliás, não estou pedindo sua permissão. – Disse dessa vez lançando um olhar gélido. – Não sou seu objeto!
O macaco-prego deixou escapar um grunhido sufocado de humor, enquanto a onça-pintada assentia lentamente sem desfazer o semblante aflito.
– Vá!
Passaram-se sete dias após a partida da suçuarana. A floresta vivia um período de escassez; a onça-pintada acabou encontrando a suçuarana bem magra e com uma tristeza profunda.
– O que lhe aconteceu?
– Como estamos em período de escassez, o líder do bando está nos obrigando a levar toda comida para ele.
E movendo-se de íntima compaixão, a onça-pintada entregou um pedaço de carne para a suçuarana comer e, logo após, convidou-a para sair do bando e viver livre novamente.
“É melhor ser cabeça de sardinha, do que calda de baleia.”
A suçuarana e a onça-pintada, 2019.