O Pássaro Seresteiro

Num pequeno vilarejo chamado Paraíso dos Cristais, existia um grande mistério que assombrava seus moradores. O vilarejo era tranqüilo, exceto nas noites de lua cheia quando um estranho acontecimento deixava todos amedrontados.

Quando arainha do universo erguia-se majestosa no céu, um silêncio pairava sobre aquele vilarejo e, era possível ouvir uma triste canção que ecoava mata à dentro, vindo da grande floresta, às margens do rio de Cristais.

A triste canção era entoada pelo que todos chamavam de o “grande pássaro seresteiro”. Ele cantava noite à dentro como num ritual e, entre soluços e lamentações clamava por alguém.

Todos acreditavam que o grande monstro era um jovem índio que fora aprisionado na floresta e transformado num enorme pássaro negro de olhos vermelhos e garras afiadas. Tudo porque se apaixonou pela virgem prometida da lua e como castigo fora obrigado a presenciar o sacrifício de sua amada. Tendo como paga por desejar e tocar a virgem da lua, fora banido da tribo e aprisionado na floresta por toda a eternidade lamentando a perda da amada.

Durante décadas nenhum morador ou forasteiro procuraram saber o que realmente acontecia. Todos temiam o ataque do monstro. Ninguém se aproximava do lugar.

Duas crianças, porém, não acreditavam naquela lenda. Eram Otávio e Bárbarah, filhos da professora do vilarejo.

Em uma noite de lua cheia, os irmãos decidiram descobrir a verdade sobre o tal pássaro seresteiro. Estavam obstinados em desvendar aquele mistério.

Deixaram que a mãe adormecesse profundamente, correram até o rio pegando uma pequena canoa e remaram em direção da grande floresta. Já bem próximos da casa do grande pássaro, a canoa virou devido a forte correnteza e maresia, atirando os irmãos nas águas geladas do rio.

Desesperados, gritaram por socorro. Seus gritos calaram o lamento do pássaro, fazendo com que todos na vila escutassem seus gritos. Foi então que a mãe das crianças percebeu que eles haviam saído e que eram deles os gritos de socorro.

Apressadamente correu por entre a mata acompanhada de um corajoso pescador. Queria salvar seus filhos.

Enquanto isso, lançados no rio, os irmãos estavam prestes a desvendar o grande mistério do pássaro. Quase sem fôlego, foram salvos por um estranho homem de rosto pintado que os retirou do rio, levando-os até sua casa na floresta. Ali ele os alimentou e os secou.

Passado alguns minutos e já recuperados ao susto, os irmãos foram indagados pelo homem que quis saber o que eles faziam sozinhos no rio durante a noite.

Os irmãos responderam que procuravam pelo monstro da mata, o tal pássaro seresteiro.

O homem de nome João com um ligeiro sorriso no rosto contou-lhes então, que não havia nenhum grande pássaro. Que o canto escutado nas noites de luar, era um ritual indígena de uma tribo que vivera ali centenas de anos, mas que havia sido exterminada pela ganância do homem. E que o ritual nas noites de lua cheia era uma homenagem aos índios protetores da vida na floresta e uma maneira de proteger a natureza da destruição humana. Ele sabia do temor que todos tinham do grande pássaro. João era na verdade, um ambientalista, um defensor da natureza.

Otávio e Bárbarah ficaram então preocupados. Se todos soubessem a verdade sobre o monstro, deixariam de ter medo e, certamente, destruiriam a natureza.

Pensaram, pensaram e, os três amigos tiveram a brilhante idéia de contar a todos que o pássaro seresteiro era o defensor do vilarejo e da natureza. E que nada aconteceria caso a natureza como um todo fosse preservada.

Assim, todos os moradores do vilarejo passaram a preservar ainda mais o meio ambiente. Aprenderam que os verdadeiros monstros são aqueles que desmatam, poluem, destruindo nosso mundo e a nossa natureza.

Anne Monteiro
Enviado por Anne Monteiro em 12/11/2007
Reeditado em 02/09/2008
Código do texto: T733901
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