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Entre os humanos, quando os irmãos ganham um doce, fica aquela disputa para ver se todos são do mesmo sabor e tamanho, pois sempre se acha injusto quando um sai ganhando a mais. Além disso, nos humanos, costumamos cuidar até o jeito de comer de cada um. Uns comem rapidamente, outros aos pouquinhos – para render. Aquele que comeu rápido fica “secando” o do outro, principalmente se sabe que esse outro é coração mole e vai dividir um “cadinho” com ele. Já se o outro é coração de pedra o momento – doce – vira em briga. Quem não vivenciou isso um dia?!
Pois observando uns irmãos felinos, podemos nos deparar com uma situação bem diferente, como a que aconteceu com o gato Alcides e sua dona, a Regina.
Uma gatinha abandonou, na casa da Regina, dois filhotinhos, que receberam os nomes de Faísca e Filó. Eles foram alojados numa sacada, onde tinham caminha, pratinhos para a ração, água e a caixinha de areia, é claro. Só não tinham autorização para habitar o interior da casa. Dentro de casa só poderiam ficar o Alcides e o gato mais velho, pelo menos era o que a Regina pensava.
Mas, como se diz por ai – que se tira a criatura da rua, mas não se tira a rua da criatura, adivinhem se os dois não se atiravam para dentro, quando sentiam o cheiro da comida do Alcides. Sim, porque o gato Alcides era muito exigente no paladar e preferia comer um pouco de comida temperadinha, no capricho, para depois complementar com a ração.
O Alcides era um gato muito calmo e adotou o Faísca e a Filó como irmãos. As vezes ficava tomando sol com eles na secada, assim, de boa.
Um belo dia, a Regina serviu o prato do Alcides e, por um descuido, a dupla da rua avançou no pratinho e o “mano velho” não teve dúvidas em deixar os maninhos se deliciarem. Mas quando o Alcides se deparou com o prato vazio, foi logo encher os ouvidos da Regina pedindo o seu quinhão de comida.
A Regina teve que conversar sério com o gato. Sim, ela me disse que a conversa foi assim:
- Alcides, tu sabes que os pequenos devem comer só ração;
- “minhéu, minhéu”, que em gatez quer dizer – eu sei, mas como tirar a comida da boca deles? São duas crianças!
- hum sei, mas dá vontade de te deixar sem comida!
- “nhéu!”, que quer dizer em gatez – ah, não faça isso comigo!
E o “nhéu” continuou por algum tempo, até que a Regina se rendeu aos encantos do gato amarelo comilão de comida temperadinha.
- tá bom, Alcides vais ganhar um pouquinho mais por teres um coração tão bom.
Regina me disse que não teve como dizer não para aquele que soube partilhar.
Hum, acho que o Alcides ensinou alguma coisa aqui!