Mariana e a bolsa mágica
Em uma pequena vila não muito distante da cidade, vivia uma família muito pobre, porém trabalhadeira e feliz. Nesta humilde família havia uma linda menina que era a alegria do jovem casal de agricultores. Seu nome era Mariana e ela era tão doce quanto um favo de mel.
Apesar de felizes, a família vivia com muitas dificuldades, pois o pai tinha uma grave doença que às vezes o impedia de trabalhar. E quando isso acontecia à mãe tinha que cuidar sozinha da lavoura e ainda preparar pães doces para completar o sustento da família. A menina Mariana ia vendê-los na cidade, completando assim a renda da família e para que o pai não ficasse sem seu caro remédio.
Um dia o pai não conseguiu se levantar da cama. Teve uma grave crise de tosse à noite toda e também sentia uma intensa dor de cabeça e por isso o pobre agricultor não pôde sair para trabalhar.
O médico da cidade foi chamado às pressas. E logo após atender o agricultor, disse que o homem não podia ficar sem o medicamento que ele estava lhe receitando. E que o remédio devia ser comprado o mais rápido possível.
Dona Marina, sua esposa, procurou entre as suas economias o dinheiro que precisava para comprar o remédio do marido. Mas a quantia era tão pouca que mal dava para comprar um litro de leite.
Então ela foi para o forno à lenha e preparou seus deliciosos pães doces que muito sucesso faziam na cidade. Com o dinheiro da venda dos pãezinhos ela poderia comprar o remédio de que o marido tanto precisava.
Depois que os pães ficaram prontos, ela pediu à filha que fosse vendê-los. Mariana equilibrou o pesado cesto de pães na cabeça e lá se foi rumo à cidade. A cachorrinha Lola veio logo atrás. A menina estava determinada a vender todos os pãezinhos e trazer para casa o dinheiro que faltava para o remédio de seu papai.
Chegando a cidade, logo foi vendendo seus pães sem muitas dificuldades, pois era muito querida por todos. Era conhecida por sua bondade e simplicidade. As pessoas sabiam das dificuldades de sua família, e por isso estavam sempre dispostos a ajudá-los.
Quando chegou ao portão da casa do prefeito, Mariana se deparou com uma velhinha muito maltrapilha. A pobre mendiga apoiava- se em uma velha bengala. Suas pernas pareciam dois gravetos prestes a se quebrarem. Suas mãos sujas e feridas pareciam garras e suas unhas eram imensas e afiadas. Os olhos da velha estavam remelentos e lacrimejantes e fitaram Mariana com intensidade. Mas a feiura da velha não assustou a menina, que ainda lhe perguntou se podia ajudar em alguma coisa.
A velha disse à menina que tinha muita fome e que havia dias que não comia nada. Ela ainda perguntou se Mariana poderia lhe dar alguns dos pãezinhos que trazia no cesto, mas que não podia pagar por eles porque não trazia um centavo consigo.
Mariana pensou e se lembrou do pai que precisava muito do dinheiro da venda dos pães. Mas como seu coração era muito bom, ela se sensibilizou com a fome da velhinha. E de súbito, tomou a velha pela mão, sentou-se ao seu lado na calçada e a deixou comer até se fartar.
Ao terminar de comer a velha tirou do bolso do vestido rasgado, uma pequenina bolsa muito suja, e a entregou a menina dizendo:
_ Como você pode ver nada tenho. Mas sempre trago comigo esta pequena bolsa. Quero que a guarde com você. Dentro dela há mensagens de esperança que podem te ajudar nos momentos de tristeza e solidão. É o meu presente por sua generosidade. Mariana enfiou a pequena bolsa no bolso do vestido. A bolsinha estava tão leve que devia ter bem poucas mensagens. Por um instante ela pensou em recusar e devolver a bolsa para a velhinha. Mas achou que não seria muito educado e assim decidiu ficar com a velha bolsinha. Mariana se despediu da velha. Colocou o cesto na cabeça e saiu andando em disparada com a cachorrinha Lola em seus calcanhares. Ela tinha de terminar de vender os pães que ainda faltavam. Dona Alice, a esposa do prefeito, comprou o restante dos pães. Ela muito apreciava os pãezinhos doces feitos por dona Marina.
Com o pouco dinheiro da venda dos pães, Mariana voltou para casa. Ela sabia que a mamãe ficaria muito triste com seu comportamento, pois o dinheiro não seria o suficiente para comprar o remédio do pai.
Não que Dona Marina fosse mesquinha. Mas ela precisava muito deste dinheiro.
Mas como Mariana poderia negar os pães para aquela velha faminta de olhos tristes?
Com o coração despedaçado, Mariana entrou em casa e como era de se esperar sua mãe ralhou muito com ela. Foi logo dizendo que seu pai podia morrer sem o remédio e que não tinham mais dinheiro para comprar farinha e preparar mais pães. E que o jeito agora era saírem de casa para pedirem esmolas.
Mariana entrou em seu quarto e pôs se a chorar.
Não se arrependia de ter matado a fome da velhinha. Mas estava triste porque certamente o papai iria morrer.
Lembrando-se das palavras da velhinha ela enfiou a mão no bolso do vestido e tirou de dentro dele a bolsinha de mensagens que ela havia lhe dado. A pequena bolsa parecia estar vazia. Era leve como uma pluma. Mesmo assim a menina colocou sua pequena mãozinha dentro dela. Queria ler alguma mensagem que consolasse seu coração partido.
Mas qual não foi sua surpresa quando ao puxar a mão ela saiu repleta de moedas de ouro. Mariana gritou pela mãe para mostrar a ela a pequena bolsa mágica. Sua mãe também colocou a mão dentro da bolsa pra verificar se era verdade, e ela saiu cheia de moedas de ouro.
Era um verdadeiro milagre. Bastava colocar a mão na bolsa para lindas moedas de ouro saírem de dentro dela. Mariana e sua mãe jamais viram tantas moedas. Era tanto dinheiro que teriam uma vida confortável para sempre.
Mariana, feliz e agradecida, saiu em disparada atrás da velha. Ela tinha de chegar rapidamente à cidade para agradecer a boa senhora pelo presente encantado.
De longe ela a avistou em frente ao cemitério. Mariana correu gritando por ela, temendo não a alcançar. Mas a velhinha escutou o chamado da menina e a esperou.
_Ei espere! Eu gostaria de agradecer a senhora pela bolsa mágica. Se a quiser de volta eu a devolverei, pois acho que a senhora precisa dela tanto quanto eu.
Mas à medida que a menina se aproximava da velha, uma magia acontecia. A velhinha estava se transformando em uma belíssima mulher, que olhou para Mariana e disse:
_Sou a fada Butterflay. Transformei-me em uma velha pobre e suja, para descobrir o que havia no coração dos humanos. As pessoas fugiram de mim e as crianças me atiraram pedras. Mas você com sua simplicidade cativou-me. Você me pegou pela mão e matou minha fome. Mesmo sabendo de que seu pai precisava do dinheiro da venda dos pães. Você foi incapaz de me negar o que comer! Esta bolsa é meu presente para você e sua família, para que possam ter uma vida decente e confortável para sempre. Mas atenção! Se algum dia, você se tornar mesquinha e egoísta a bolsa deixará de ser mágica e se transformará em uma bolsa qualquer.
Mariana olhou para a linda mulher e lhe prometeu que seria uma boa menina para sempre, agradecendo-lhe com os olhos cheios de amor e gratidão.
De repente a mulher começou a flutuar. Acenou em despedida para Lola e Mariana e foi se transformando numa luz azul tão forte, que a menina e a cachorrinha tiveram de fechar os olhos.
Ao abrirem os olhos não viram mais a fada. Mas sim, milhares de borboletas coloridas que voavam para o céu. Guiadas pelo pôr do sol em um belíssimo espetáculo da natureza.
FIM