A galinha Lilinha
Era um belo dia de sol e a gente só pensava em ir pra beira da praia se encantar com o mar, curtir a brisa ou ver as cenas repetidas dos vários guarda-sóis abrigando as famílias e todo o “tralharedo”, que compõe o bem estar na areia, mas a vida, por vezes, nos surpreende com algumas cenas, no mínimo, inusitadas.
Estávamos lá trocando ideia e de repente aparece uma galinha pequenina (garnisé) passeando na areia. Pensamos que poderia ser dos pescadores que deixam suas canoas nos abrigos na praia do Canto da Vila em Imbituba, mas logo vimos que era de uma família como todas as outras que ali estavam se instalando com seus guarda-sóis e seus “tralharedos”, só que também tinham uma galinha garnisé com sua tralhinha (potinhos pra água e comidinha).
Não deu pra segurar a ansiedade e, fui logo saber que história era aquela envolvendo humanos e uma galinha. Seu João, muito gentil, foi me contando que ele e sua esposa, dona Azilda, foram visitar uns parentes lá pra bandas da fronteira do RS com a Argentina e souberam que um cão rebelde tinha atacado o galinheiro matando a mamãe-galinha e quase toda sua ninhada sobrando somente um pintinho. Quando eles viram aquele pintinho indefeso e sem a mamãe-galinha, resolveram adota-lo e o trouxeram pra casa. Estava ali a Lilinha, companheira do casal há oito meses.
A vida da Lilinha é bem tranquila, me disse o seu João. Ela dorme sobre uma cadeira no quarto, raramente faz caquinha por ali, adora ir passear no pátio do prédio onde eles moram, no município de Canoas-RS, e é muito carinhosa.
Voltei pra minha cadeira em baixo do nosso guarda-sol e pensei: é só isso? Não. Quem vê a Lilinha circulando no meio da família sente ali o elo de ligação que se criou entre os humanos e a galinhinha, mas com o seu João o elo é muito mais forte. Ela segue os passos dele: se ele corre ela acelera também, se ele se afasta chama por ela que prontamente o atende, se ele senta ela fica próxima ou no seu colo. Será a segurança, a confiança, a afetividade, ou se trata da domesticação?
Provavelmente existem várias respostas e muitos outros questionamentos, mas pra mim o que vale é ver a relação de respeito do ser humano com o animal. Até pode ser que a Lilinha veja o seu João e sua família como um ser da sua espécie, por isso se sujeita a estar próxima, etc, etc... é daí? Acredito que a recíproca é quase verdadeira, só que acrescida do cuidado e carinho daqueles humanos.
Querem saber: neste nosso mundo humano estamos com tanta falta de respeito, consideração, carinho e todos outros sentimentos fraternos entre os “sapiens”, que até pode ser que algum de nós sinta invejinha da vida que a Lilinha leva, apesar de ter perdido toda sua família de galináceos.
Só tenho uma certeza, a Lilinha foi a sensação da praia da Vila naquele dia de sol. Muitas pessoas tiraram fotos com ela, conversaram com seu João e ele deve ter repetido a história várias vezes. Ali, em baixo daquele guarda-sol, todos estavam contentes e isso é que importa, isso é que conta!