O CORDEL DO DENTE DE LEITE

Pedrinho era um menino

Filho de Maria e Firmino,

Tinha maravilhosa saúde

Ser obediente era sua virtude.

Jogava bola, corria muito,

E era o seu grande intuito

Vencer seu belo cão pastor

Por quem tinha muito amor.

Sentado no chão de terra batida

Ele pensava que numa subida

Venceria o esperto Adamastor

Aquele esbelto cão pastor.

Outras vezes sentado no balanço

Se via gritando: corre que eu lanço!

A bola nova do irmão mais velho

Pedindo aos santos do evangelho

Proteção para que a bola linda

Não virasse, no meio da berlinda,

Uma carcaça de couro triturado

Pelos dentes do cão habituado

A ganhar sempre do pequeno.

Um dia, brincando ao sereno,

Sentiu balançar um dentinho.

Gritou desesperado Pedrinho:

Corre mamãe vou perder um dente!

Disse a mãe, criatura tão paciente:

Perder dente nessa idade é natural

Com um puxão eu resolvo esse mal.

Pedrinho esperneou, chorou de medo:

No meu dente ninguém põe um dedo.

O pai disse com calma e diplomacia:

Filho, eu quero ver no seu rosto alegria,

Vou levá-lo ao senhor dentista

Em resolver problema um especialista.

Chegando os dois à grande sala de espera,

Foram recebidos pela assistente Vera.

Choramingando Pedrinho dizia:

Essa dor será a grande agonia,

Não quero tirar meu dentinho,

Pois ficará na boca um buraquinho.

Foi aí que aquele esperto dentista

Dando uma de grande artista

Mostrou ao menino a figura de um bicho.

Tentando vencer aquele capricho.

Sabes que bicho é este aqui na figura?

Pedrinho respondeu com toda candura:

Sim. É um grande elefante dentuço.

Sei, pois a revista do meu irmão eu fuço.

Sorrindo o dentista na parede afixou

A figura do elefante e perguntou:

Sabes por que ele tem dentes grandes?

Não. Pergunte ao meu irmão Alexandre.

O elefante não quis tirar o dente que balançava

Como você ele gritava e aos santos clamava:

Não posso perder meu dentinho

Pois na boca não quero um buraquinho.

Contando a história o boticão preparava

E ao menino interessado ele perguntava:

Queres ter dentes iguais aos do elefante?

Não. Respondeu Pedrinho balbuciante.

Então abra essa bela boquinha

Que eu quero dar uma espiadinha.

Boca aberta e o boticão na mão

Lá se foi o dentinho num safanão.

E foi assim que história terminou

Do menino que um dia acreditou

Que o elefante tem dente comprido

Por não ter tirado o dente amolecido.

27/12/17

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

(Blog: https.//hildaalao.blogspot.com)