Diz, apontador...!
Ele chegou em casa pelas mãos obreiras de papai em petição de miséria: a base que o prendia a uma eventual escrivaninha havia-se quebrado e não havia mãos que conseguissem dar-lhe a firmeza necessária para que voltasse a cumprir o seu papel, que era apontar lápis. Os dois tubinhos rotatórios com suas lâminas, a capa de proteção, a manivelinha, está tudo lá - menos a base de sustentação.
Não dá pra soldar não, foi a nossa primeira e derradeira questão. Não, respondeu papai, sentencioso: é de antimônio e essa liga é quebradiça não dá solda. Tanto é que lá na fábrica ele foi jogado no lixo e, assim, peguei o bicho.
E o bicho ficou, guardado na gaveta da mesa preta que ornava a nossa copa. Volta e meia, enquanto se fazia um dever de casa, ele era retirado, examinado e, de novo, experimentado. Diante do acesso negado, passava-se a uma lâmina, ou uma faca de cozinha para se concluir o trabalho do apontamento.
E todo o cuidado era louco - a gente era advertido, e era até divertido - para se evitar um acidente enquanto se descascava o grafite de um lápis. O duro era quando já quase pronta aquela preta ponta e, um golpe em falso, tava logo quebrado o grafite.
E nova operação se iniciava, reduzindo lápis e seu apontador às suas verdadeiras dimensões. Sem senões. Era quando se ouvia silente, o risinho sarcástico daquele inabilitado aparato de antimônio, que diabo, o demônio...