Popcorn kids

O Januário da Prata havia chegado, numa de suas raras visitas a Dona Inhana, a vovó. Da Prata ao Brumado eram umas boas léguas, mas havia de ser 'fichinha' praquele cavalo branco-acinzentado, amarrado no cipreste junto ao portão, sem pingar uma só gota de suor.

Quem suava era o cavaleiro, já nos seus sessenta e tantos, que ao sentar, tirou da cabeça aquele chapéu de feltro cinza, surrado e empapado, exibindo pronunciada calva, e logo cercado das boas atenções da anfitriã.

Nós foi que ficamos mais à distância, menos por receio do velhote do que pela sofreguidão que afeta as crianças no mormaço de qualquer meio dia. Na hora que as pipocas chegaram, cobrindo toda a peneirinha aí nos aproximamos mas o respeito fez-se maior que a fome e tivemos que nos contentar com a boa-educação - e com os piruás.

O piso ainda atijolado naquela época, até que bem varridinho, nos encorajou a dar uma 'varredura' sob a mesa para apanhar uma ou outra pipoca recalcitrante que por ali se embrenhara.

Por muito pouco a botina rústica do velho Januário não achata uma dessas poucas sobreviventes. Mas melhor que resgatar a pipoca, foi a deslanchar fofoca: rir baixinho, quase sem ruído e juízo, daquele velho tão feiinho, enferrujadinho.

Até que, com sua saída, vovó conosco ralhou porque daquela 'macriação' não gostou. Contudo, só o medo de contaminação por micróbio do chão nos pipocou.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 09/03/2015
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