Tino comercial
Vendi limões. A quatro por um cruzeiro. Das moedinhas àquela nota do Tamandaré. Não me lembra agora se houve comprador, mas sim, saí à rua em vendedor.
Os nossos limões, produzidos por um único limoeiro, que se espraiava por inteiro junto à porta da cozinha, eram bonitos, abundantes e cheirosinhos. Ainda estou por ver limoeiro tão generoso. Verdade que os da Sicília são mais perfumados, a ponto de entorpecerem o juízo do visitante. Mas o nosso, sem um Etna a fornecer solos vulcânicos, e sem um Mediterrâneo para espalhar aquela brisa inebriante, confesso-lhe, não ficava muito distante.
Nosso uso doméstico, por mais que caprichássemos na bebeção de refresco, era contudo, muito limitado, já diríamos de intestino empanzinado, tanto ponche degustado.
E veio a idéia brilhante de papai, decerto como um decreto: não pode deixar esperdiçar. Hora é de labutar. E naquele solão brumadense, ir pra rua com uma baciinha de limões não parecia o melhor refresco. Mas não podia deixar as manas mais velhas sozinhas no mormaço. E me lancei no pedaço, compelido pela solidariedade, ou melhor falado, pra não passar por folgado.
Rodei, rodei aquelas seis ou oito ruelas empoeiradas e de pidriguio tomadas, e nem sei se tive coragem de oferecer a mercadoria batendo de porta em porta, ou abordando um eventual passante. E depois, querem me convencer que limão é refrescante. Ou que sou nato comerciante. Avante?