QUERO SER CRIANÇA

Não sei correr, levar tombos,

Ralar os joelhos, choramingar.

Vejo lá longe matas todas floridas,

Árvores onde cantam os passarinhos.

Desajeitado, quero subir num tronco,

Vendo nos galhos frutas para colher,

Com o desejo imenso de saboreá-las,

Tendo a certeza que serão saborosas.

Não tenho forças para alcançar um galho,

E envergonhado volto para meu mundo virtual,

Onde na sua tela aparecem algumas cenas,

Algumas ingênuas, outras até violentas.

Horas vão passando e esqueço quem sou,

Absorto num mundo criado pela tecnologia,

Sem imaginar que um dia ele se modificará,

E aí quando adulto poderei recordar a infância?

Queria correr solto no chão de terra batida,

Tendo como coadjuvante uma bola de futebol,

E com muitos amiguinhos fazendo travessuras,

Correndo adoidados e soltando gargalhadas.

Conhecer quem sabe um bezerrinho mamando,

Na teta da mãe onde sai o leite generoso,

Pois na minha mente ele já vem embalado,

É só abrir a borda da caixa e misturar no café.

Queria um dia escorregar numa suave corredeira,

Do rio que me convida a mergulhar no remanso,

E depois de refrescante banho onde vou me deliciar,

Olhar no alto e ver a cachoeira caindo mansinha.

Esse mundo das brincadeiras inocentes,

Com crianças sorrindo e correndo descalças,

Parece para mim coisas bobas do passado,

Mas quem viveu jamais dele se esquecerá.

02-07-2014