Bananas passas afanadas - aventura infantil saborosa de ler


 
ossa casa tinha um grande quintal, com um enorme abacateiro, uma goiabeira, bananeiras e até um pequeno milharal.
Meu avô semeava grãos de milho em março, no dia dezenove, o dia de São José, que era para dar “vinte espigas em cada pé” como cantava Luiz Gonzaga na sua canção São João do Carneirinho.
Também tinha um varal onde as roupas eram colocadas para coarar e também onde minha avó punha sobre uma taboa, bananas brancas para secar enquanto amorenavam para depois virarem banana-passa.
Era uma expectativa para mim e os primos, quando víamos Duzinha amassando sobre a mesa da cozinha, com uma garrafa, as bananas que seriam colocadas ao sol.  Depois de todas serem ligeiramente amassadas, eram “deitadas” sobre a taboa que iria ficar sobre o varal, ao sol.
Ficávamos todos à espreita, esperando passar uns dias, até que as bananas ficassem quase marrons. Aí sim, era a vez de atacar... Pegávamos uma a cada dia, no máximo duas. Isto porque, à medida que uma banana era retirada, o lugar na taboa, onde estava, ficava mais escuro, úmido, denunciando que fora retirada dali uma delas. Tínhamos então, que movimentar as mais próximas, de modo que, o espaço fosse eliminado e ninguém visse que faltava uma ou duas bananas. As bananas afanadas ficavam escondidas no bolso de alguém, até que a cozinha ficasse vazia e partíssemos para o segundo passo; novamente atacar e, desta vez, a lata que continha açúcar com canela, separada para mergulhar as bananas ali, até ficarem bem envolvidas com o açúcar. 
Ninguém à vista e enfiávamos na lata as bananas, uma sacudidela para envolvê-las no açúcar acanelado e... Pernas, para que te quero?  Íamos para o fundo de o quintal saborear duas bananas-passas que seriam divididas para quatro crianças ansiosas por brincadeiras e merendas.
Um belo dia, nosso “Pai João”, mãos atrás das costas, segurando a “sola disciplinar”, um pedaço de couro, com uma gravação baixo relevo e uma data histórica - Sete de Setembro - pisando como um bailarino chega até nos e...
- Peguei vocês com a boca na botija! (ele não nos batia... apenas umas lapadas de leve em nossas pernas), o que não acarretava em queixa em delegacia, nem nada. Da próxima vez que Yayá fizer bananas passa, podem ter certeza, nenhum de vocês vai comer NENHUMA!  Entendido?
Todos com cabeça baixa respondíamos; um siimm tímido e baixo.
- O quê?
- Sim.. (mais alto).
Mas nossa barriga estava em “alta”, satisfeita, não de todo, porque queríamos comer uma banana inteira.
Esperávamos por outra fileira, quando a taboa estivesse vazia.
 
 
 

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