O MENINO SONHADOR
Era uma vez um homem que tinha uma oficina de sapatos. Numa época em que não havia fábricas. Ele tinha dois filhos. Era um artesão que fazia com refinado cuidado, o seu trabalho. Um artista! Os meninos iam aprendendo e ajudavam na confecção dos calçados. Logo cedo, depois de tomar o café e chocolate ; e comer o pão que a mulher fazia em casa; e ainda a geleia de morangos, o homem abria sua lojinha na frente da casa, onde morava com a família. E se punha a trabalhar. Junto com os filhos, Betinho e Juquinha, que chegavam logo depois.
Os meninos tinham que cortar o couro que já era curtido e preparado para o serviço. Tinha também a pelica de várias cores. E deviam se ocupar das gavetas onde ficavam as fivelas, as linhas para as costuras, as correntinhas e fitas para laços que enfeitariam os sapatos. E cuidavam das ferramentas também.
Juquinha gostava mais de limpar a oficina e arrumar as prateleiras, colocando os calçados que estavam sendo preparados e os que já estavam prontos para a entrega. Ele ficava encarregado também de anotar os pedidos e entregar as encomendas.
Mas era o seu irmão Betinho quem tirava as medidas dos pés dos clientes. E já estava começando a executar com perfeição, lindos exemplares de sapatinhos femininos infantis.
Um dia, uma senhora muito elegante entrou na loja com uma menina que usava um bonito vestido azul cheio de estrelinhas bordadas. Trazia uma fita de veludo nos cabelos loiros. Tinha as faces bem rosadas; e brilhantes olhinhos cor de mel. A mulher queria justamente encomendar um par de sapatinhos azuis para a filha.
Depois daquele dia, Betinho começou a sonhar com a garotinha. Imaginava estar passeando com ela e brincando com bolhas de sabão, que saíam coloridas pelo ar e depois se desfaziam. Via-se soltando pipas sob os olhares risonhos da linda menina. E correndo, a se esconder, para por ela ser encontrado. Betinho se imaginava com ela, à beira de algum lago, onde peixinhos dourados nadavam sem parar.
Esses devaneios aconteciam quando ele estava preparando os calçados dela. Procurou fazer o melhor que soube. Feito pelas mãos de um menino sonhador, aquilo se tornou uma obra de arte.
E olhos curiosos ou não, apressados ou não, fatigados ou não, sempre se encantavam com a visão daqueles delicados sapatinhos. Que foram feitos com um carinho a mais. E tudo que é feito com amor é sempre maravilhoso.
Mas a doce menininha, nem de longe, soube que um dia inspirara os sonhos daquele menino. E que por isso mesmo, os seus sapatinhos ficaram mais bonitos e charmosos do que os de qualquer princesa no mundo.