AS DUAS PANELAS

Cansada de viver sobre o fogo cozinhando sem parar, uma panela de ferro propôs a uma de barro que fugisse daquela casa. A panela de barro desculpou-se dizendo:

- Acho mais sábio ficarmos por aqui.

- Não seja boba! Nesse caso continuaremos a ser exploradas e queimadas todos os dias de nossas vidas. – assegurou a panela de ferro que continuava a tentar a de barro para acompanhá-la na arriscada aventura.

- Imagine nós duas em outro lugar, outra casa, onde seríamos tratadas com delicadeza, viveríamos em uma prateleira limpa de um armário envidraçado, sem fogo, cinzas e colheres violentas dentro de nós. Imagine, imagine! – insistia a panela de ferro.

Pensando em sua fragilidade e nos perigos da viagem a panela de barro disse:

- Amiga, você tem a pele dura. Pobre de mim! Como poderei aguentar mudança tão brusca se a minha pele é tão frágil?

- Não se preocupe! Eu a protegerei durante a viagem.

Convencida pela panela de ferro, a panela de barro concordou com a fuga.

Antes do amanhecer as duas entraram na carroça do dono da casa, que todas as manhãs levava o leite fresquinho para a cidade vizinha. Acomodada entre um barril e a panela de ferro, a de barro estava confortável. E começou a viagem pela estrada esburacada. A carroça corria. Era solavanco aqui, solavanco ali até que o barril perdeu o equilíbrio rolando para fora da carroça e junto foram as duas panelas. A de barro virou um monte de cacos, a de ferro sofreu grandes arranhões. Depois de alguns minutos e com a carroça já bem distante, a panela de ferro chamou pela de barro:

- Amiga, você está bem?

- Não! Sou apenas um montão de cacos. Eu te falei da fragilidade da minha pele. Eu preferia estar naquele fogão cozinhando, cozinhando sem parar, porém inteira. Quem deixa o certo pelo duvidoso sofre as consequências.

Abandonada na estrada, foi assim que terminou a triste aventura da panela de ferro que não queria mais cozinhar.

12/05/13

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

https://hildaalao.blogspot.com