A CIGARRA E A FORMIGA

A vovó entrou na sala e viu o netinho com os olhos pregados em um livro de história:

- Que história está lendo, meu filho? – perguntou a vovó.

- A cigarra e a Formiga. – respondeu o menino.

- É uma boa história. – disse a vovó.

- Sabe, vovó, eu não entendo porque a cigarra tem de pedir ajuda para a formiga. A senhora não acha que ela poderia trabalhar?

- Acho sim, mas eu te contarei como tudo começou:

Ela era uma formiga muito trabalhadeira. Passava os dias cortando folhas para guardar em sua despensa pensando no inverno que logo chegaria. Assim era a formiga Maricota. Maricota tinha uma vizinha que também trabalhava muito. Era a cigarra Sofia. Nos encontros de todas as manhãs elas se cumprimentavam sorridentes:

- Bom dia, Maricota!

- Bom dia, Sofia!

Lá iam as duas para o trabalho estafante de cortar e carregar folhas.

- Ainda bem que você pode voar Sofia. – dizia Maricota imaginando que se ela pudesse voar como a cigarra quanta folha não traria para sua casa.

- Pois é! Eu posso voar, mas não tenho a sua força. Respondia a cigarra.

Como nesse tempo Deus ainda não havia designado função para cada bicho, as duas criaturinhas, assim como os outros animais, trabalhavam demais.

- Amiga Maricota, eu estou muito cansada. Acho que não nasci para este trabalho. – reclamava a cigarra.

- Eu não sinto cansaço. Veja quantas idas e vindas eu dou durante o dia e à noite ainda organizo o estoque de comida para o inverno. – afirmou a formiga.

E era a pura verdade. Maricota era incansável. Às vezes carregava coisa com o dobro do seu tamanho. Dava gosto ver a força de Maricota. Um dia Deus, revisando a sua criação, viu as duas, Maricota e Sofia, trabalhando sem parar. Ele ficou pensativo. Minutos depois chamou um anjo e ordenou:

- Desça e diga à formiga que a função dela é a de trabalhar muito, ser precavida para não passar necessidade. Já para a cigarra, diga-lhe que a função dela é a de cantar por todo o verão para alegrar os outros animais.

- Senhor, e o trabalho? A cigarra não precisa mais trabalhar? – perguntou o anjo.

- Tudo depende dela. – respondeu o Senhor.

- Então ela pode cantar e trabalhar? – insistiu o anjo.

- Sem dúvida. – respondeu pacientemente Deus.

O anjo desceu para dar o recado do Senhor. A formiga ficou satisfeita e disse que assim faria. Já a cigarra disse ao anjo que se a função dela era a de cantar para alegrar seus companheiros, ela só faria isso. Trabalhar? Não, ela não se cansaria mais. Ouvindo a resposta da cigarra para o anjo, a formiga disse:

- Não se esqueça do inverno, Sofia. É preciso guardar para ter, e só se tem alguma coisa com muito trabalho. Só cantoria não enche barriga.

E é por isso que a cigarra canta no verão e no inverno ela não tem casa nem comida e vai pedir ajuda a vizinha Maricota.

12/05/13

(histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)