*O Branquinho de Pata Torta*
Papai tinha um monte de passarinhos em gaiolas dependuradas no quintal e de noite, eu e minha irmã tínhamos que subir na cadeira e recolhê-las para o quartinho.
Tinha Pinta Silva, Curiós, Azulões e Canários Belgas...Eu adorava acordar com os pássaros a cantar, era muito lindo, massss...
Todas as manhãs, tinha que soprar e colocar alpiste, colocar água fresquinha, verduras, ovos eeeee...Trocar o jornal cheio de sujeirinhas, de craquinhas(eca, arg, humpft) que eles faziam aos montes, ainda bem que não era fedido.
Um dia, Papai colocou uma fêmea junto com um macho numa gaiola com uma casinha pequenina e também um ninho de palha e ficamos super felizes, porque depois de um tempo, ela botou três ovinhos.
Não víamos a hora de nascer, ficávamos toda hora olhando.
Finalmente nasceram dois filhotes, mas eram tão feios e peladinhos, não tinham penas.
Os dias passando e os filhotes crescendo, mas o branquinho com topete amarelo não era tão experto quanto o amarelinho que já batia as asinhas e subia no poleiro.
No fim de semana Papai veio cuidar dos pássaros e eu falei do branquinho que não voava.
Ele pegou a gaiola e eu e minha irmã ficamos observando, enquanto ele examinava o branquinho. Então ele falou uma coisa que nos fez chorar.
A patinha direita era menor e os dedinhos eram tortos e que teria que sacrificá-lo, porque senão ele iria sofrer muitas dores a medida que fosse crescendo e ficando mais pesado.
Saímos correndo para pedir a Mamãe para não deixar o Papai matar o branquinho. Entramos chorando muito e Mamãe deu até água com açúcar para a Jane. Contamos que Papai queria fazer ruindade com o branquinho só porque ele tinha uma patinha torta.
Mamãe tentou explicar que seria melhor assim, mas, eu falei que Papai do Céu não gosta de gente má que mata passarinhos e então ela foi falar com Papai.
Eu e a Jane ficamos de longe ainda chorando, quando Mamãe voltou com uma gaiola velha e dentro dela, estava o branquinho...Falou que agora nós teríamos que cuidar dele e que isto exigia muita responsabilidade, mas, que talvez ele não sobrevivesse por muito tempo.
Pulamos de alegria e beijamos Papai e Mamãe e fomos cuidar do branquinho.
Ele foi crescendo mansinho e nós brincávamos com ele fora da gaiola. Queríamos que ele aprendesse a voar e voasse bem alto, porque a Jane não queria acordar e ver ele morto na gaiola.
Depois de um ano, ele dava pequenos vôos, subia nos vasos, subia nas outras gaiolas, mas não fugia...Era nosso companheirinho de todos os dias. Virava e mexia ele tombava para o lado, então o pegávamos e fazíamos carinhos e mais carinhos.
Ele cantava um pouquinho, era muito engraçado e limpinho...A gente o beijava e ele bicava o nosso nariz, nossa orelha, fazendo cócegas. Eu adorava colocar ele no meu carrinho vermelho e puxar com o barbante, passeando por todo o quintal, a Jane cortava as unhas dele, que cresciam muito rápido.
Ele foi nosso amiguinho por três anos, até que um dia, ao acordarmos ele estava durinho. Corremos chamando a Mamãe. Ela falou que ele havia ido para o céu e que lá, tinha um médico que iria curar a patinha dele e que ele iria voar para todos os lados...Teríamos que enterrar o corpinho dele, mas a alma dele, voava feliz para o Paraíso dos Pássaros.
Pegamos uma caixa de bombom e o enterramos no jardim. Mamãe fez uma oração de despedida enquanto eu e Jane chorávamos.
Durante dias eu olhava para o céu e dava tchau para o Branquinho e sonhava com ele voando no meio de um monte de irmãozinhos, brincando com o vento, atravessando as nuvens e pegando bichinhos no ar.
Eu e Jane choramos muito no começo, mas, Mamãe falou que lá no céu, ele estava com as patinhas iguaizinhas, feliz da vida no meio dos irmãos e dando risadas, porque, atravessar as nuvens fazia cócegas...CMRS.