POEMA-TARTARUGA

Duda, meu amor lindo! Foi tão bom te rever hoje pela tarde. Teu rostinho pálido, de abóbora escondida do sol, e esse teu jeito de rosa branca em botão... Gostei tanto do abraço meio desajeitado que tu me ofereceste que agora estou criando um poema-tartaruga pra cochichar a mim mesmo que crianças são um universo pouco penetrável, pois nem sempre o coraçãozinho é de quem pensa que o possui. E a gente arrasta uma vontade-garatuja, de nome indefinido... Eu gosto de tua estampa, da carinha de boneca sempre do mesmo jeito, sorrindo tão pouco. Porém hoje, eu consegui ver os teus dentinhos num sorriso. Já é um bom começo. Fiquei feliz pelo amor que tu dás a nós – os que amam as crianças e os bichos – e, enfim, aos outros todos que somente veem na criança o futuro. Eu te vejo mais: percebo o presente em teus cinco dedos doces de chocolate, um desenho que fica em minhas retinas antigas. Poesia é um ser muito amoroso. Mesmo com a boquinha dizendo nada ou fazendo caretas, tu supres de amor outras meninas dos olhos, tal os meus já tão gastos de belezas. Porém o Belo sempre acorda os dorminhocos...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.

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