O MENINO SÁBIO
Conta a história que um dia Jesus, ainda menino, estava entre homens sábios ouvindo com atenção a tudo que eles diziam. Eles discutiam sobre livros, leis e outros assuntos. Falavam, falavam e nunca chegavam a um acordo. Era como um duelo onde um feria o outro com a espada da palavra. Depois de muito palavrório, um deles notou aquele menino quietinho que observava a discussão e perguntou:
- Diga-nos, menino, qual é a melhor lei: a dos judeus ou a dos romanos?
Outro homem, com ar de pouco caso, falou:
- Acha que uma criança entende de lei? Não seja ridículo! Nem você entende e quer que esta criança entenda.
Levantando-se calmamente, Jesus começou a falar:
- Senhores, conta a lenda indiana que existiu um marajá que conhecia livros e leis. No entanto a maior parte dos seus súditos não sabia nada. Eram pessoas ignorantes e perdiam muito tempo discutindo nulidades como fazem os senhores aqui presentes. Cansado de ver ouvir tanta besteira, o marajá mandou reunir todos os cegos da corte e deu uma ordem que os soldados acharam muito estranha: “Levem os cegos aos elefantes.” Os soldados obedeceram e levaram os cegos para junto dos elefantes guiando-lhes as mãos para que pudessem tocá-los. Um cego pegou uma perna, outro a cauda, outro a raiz da cauda, outro mexeu na barriga, outro numa presa, outro na tromba, outro na cabeça, outro no lombo, outro no dorso, outro na orelha. Depois de cumprir a ordem, os soldados levaram os cegos de volta à presença do rei que lhes perguntou: “Então senhores, viram os elefantes?” “Nós vimos perfeitamente.” – respondeu um dos cegos. “E com que se parece um elefante?” – perguntou o marajá. O que mexeu na perna disse que era um tubo torneado, o que manuseou a cauda disse que o elefante era como uma vassoura. O que tinha tocado na raiz da cauda afirmou que o bicho era como um bastão. O que tinha tocado na barriga disse que o elefante era como um grande tambor. O que tinha mexido no lado do corpo jurou que era como um muro. O que tinha mexido no lombo disse que o elefante era como uma mesa muito alta. O que tinha tocado na orelha comparou o elefante a um pedaço de couro esburacado. O que tocou a cabeça do elefante disse que era como um grande dosador de grãos. O que tocou a presa afirmou que o elefante era como um grande chifre, e o que tocou a tromba disse: “Oh, sábio marajá, o elefante é como uma grande corda grossa.” Depois os cegos começaram a discutir ruidosamente sobre os elefantes. Cada um dizia que a sua definição era a correta e que a do outro era incorreta.
Por isso eu lhes digo senhores: vocês são como os cegos da história que contei. Cada um pensando que sabe mais que o outro e querem fazer valer essa opinião. Vivem preocupados em saber qual lei é a melhor. Lembrem-se que se a lei dos homens não for pautada na lei de Deus ela será uma lei falha, tirânica. O verdadeiro sábio é aquele que se aplica em conhecer a verdade que vem do Pai. Fora disso são como os cegos tateando elefantes.
A multidão foi crescendo e, em silêncio, ouviam as palavras daquele menino que falava de igual para igual com aqueles homens sábios que, boquiabertos, não acreditavam no que ouviam.
No meio da multidão um casal preocupado procurava o filho que estava desaparecido havia algumas horas. Circulando entre as pessoas, Maria e José chegaram até onde Jesus falava.
- Jesus, meu filho, que fazes no meio desses homens letrados? Tu és uma criança.
Jesus se levantou e caminhou em direção a sua mãe que o abraçou feliz e chorosa.
01/09/11
(histórias que contava para o meu neto)