A lenda do indiozinho surdo

Há muitos anos, em uma tribo indígena, nasceu um lindo indiozinho. Seus pais ficaram muito felizes com o seu nascimento, pois ele era o primeiro filho do casal. Resolveram colocar o nome de Guaracy no pequeno indiozinho, pois seus olhos pareciam expandir a luz do sol, nos dias quentes.

O tempo foi passando e todos os índios da tribo perceberam que Guaracy não se encantava com o canto dos pássaros, nem se assustava com o barulho dos trovões quando estava em sua oca. Quando cresceu, Guaracy não conversava com os outros indiozinhos de sua idade, não aprendia a língua que os outros falavam. Perceberam, então, que Guaracy era surdo.

Era costume na tribo de que os índios nascidos com alguma deficiência deveriam ser sacrificados. Os pais de Guaracy ficaram muito tristes, pois não queriam perder o único filho que tinham. Decidiram não cumprir com o ritual, mas mesmo assim o menino não poderia ficar mais com eles. Foram ao encontro de Mayara, a mulher mais velha da tribo, e ela disse para que o casal deixasse Guaracy próximo a uma Japyra, e rogassem a Rudá, pois ele seria misericordioso e cuidaria do pequeno Guaracy, até que ele pudesse voltar à tribo e provar que era um grande Guaryny. E assim foi feito.

Dezesseis anos depois, um dia antes do Grande Ritual para que os jovens índios se tornassem Guaryny, Guaracy aparece na tribo. Seus pais choram de alegria e agradecem ao grande Rudá, mas logo se entristecem novamente: Os jovens índios terão que ir até paraybúna, sobreviver aos encantos da Yara e voltar com vida para a tribo.

Chega o grande dia e todos os índios jovens se preparam para o ritual. Estão preocupados, menos Guaracy, que já sabe como se livrar dos encantos da mãe-d’água. Na hora que o sol aponta no meio do céu, Mayara encaminha todos os jovens até o início da floresta. Lá eles entram, e esperam o momento de encontrarem com a Yara no rio.

Guaray retira alguns cipós que encontra pelo caminho e leva consigo. Quando estão na margem do rio, ele amarra todos os índios juntos com os cipós e os prendem em uma árvore. A bela Yara aparece.

A linda sereia começa a cantar e a atrair todos os jovens índios para perto do rio. Guaracy, que é surdo e não se encanta com a beleza de seu canto, segura forte o cipó, impedindo que seus companheiros sejam levados para o fundo do rio e, assim, salvando a vida de todos.

Ao retornar à aldeia, os jovens Guaryny ainda se encontravam perturbados pela linda voz de Yara, exceto Guaracy que foi quem os trouxe no caminho de volta. Todos ficam felizes com o retorno dos jovens. Mayara desfaz o feitiço que Yara lançou nos jovens Guaryny e Guaracy é reconhecido por todos da tribo como o maior Guaryny que ali já existiu.

Vocabulário

Guaracy: Sol, verão

Guaryny: Guerreiro, lutador

Japyra: Cabeceira do rio

Mayara: A sábia

Oca: Cabana ou palhoça; casa de índio.

Paraybuna: Rio escuro que não serve para navegar

Rudá: Deus do Amor

Yara: Sereia, mãe d’água.