João Macarrão em: O Tesouro da Casa Mal Assombrada
Naquela noite, quando saiu do casarão “Casagrande”, a turma de João Macarrão não pensava em outra coisa, a não ser no “tesouro” que eles haviam encontrado por ali. Na verdade, se eles pudessem, passariam a noite por ali mesmo, não fosse a falta de segurança, a sujeira e o péssimo estado de conservação da casa, eles organizariam um acampamento naquela noite mesmo.
Ao chegarem em casa, mais tarde do que o costumeiro, cada um ouviu dos pais um sermão de tirar o fôlego, onde já se viu chegar em casa quase nove da noite sem avisar e, ainda por cima, num domingo, amanhã tem aula, é cedo, fora que quase morremos de preocupação, pois vocês sumiram, sem avisar nada pra ninguém!
Dona Margarida, mãe de João, estava aos prantos quando o filho chegou. E assim que o avistou, pegou o chinelo e foi pra cima dele! João se esquivou, mas lógico que mãe não bateu né! Abraçou o filho e não sabia se ficava feliz ao vê-lo ou se brigava com ele pelo atraso, mas o sermão foi o mesmo. E João, assim que conseguiu se desvencilhar dos braços da mãe, pôs-se a contar a verdadeira aventura que eles haviam passado, graças àquela bola de vôlei que ele segurava debaixo do braço. João falou do medo que tiveram de entrar lá, da coragem que tiraram não se sabia de onde, da audácia, do susto e dos descobrimentos que haviam feito por lá. Dona Margarida e seu João Pedro ficaram maravilhados e intrigados com tudo o que o filho narrou naquela noite!
Ao chegar à escola, João reparou que tinha sido o primeiro, que madrugou mesmo, tamanha ansiedade de colocar em prática os planos idealizados pela turma no dia anterior. E assim que Milena chegou começaram a trocar idéias sobre o “Tesouro”. E aos poucos a turma foi chegando e a reunião estava formada. Todos ansiosos para conseguir conversar com a Dona Maria das Rosas, diretora da escola, a fim de explanar os fatos. E assim foi, mal dona Maria colocou a cara na escola, já foi abordada pela turma, que a acompanhou até sua sala.
- Dona Maria, disse João, nós fizemos uma descoberta incrível! Sabe o casarão dos “Casagrande”? Então, não é mal assombrado, o barulho que se ouve vem dos ninhos de coruja que tem de monte por lá, nós descobrimos isso ontem, quando tivemos que entrar lá pra pegar a nossa última bola de vôlei, a única que ainda não havíamos perdido!
- Mas isso eu sei, disse dona Maria das Rosas, rindo das crianças. Sempre soube que as assombrações eram somente lendas criadas ao longo dos tempos, mas era só isso que vocês tanto tinham pra me contar?
- Não, disse desta vez Milena, é que nós descobrimos algo fantástico lá dentro, a senhora não tem idéia, não mesmo!
E o que foi, então, de tão intrigante que tem lá naquela casa velha e abandonada?
Dessa vez foi Ana Pipoca que elucidou: - Ah, dona “das Rosas”, começando pelo mobiliário antigo que tem lá, parece coisa de cinema, coisa saída dos livros que eu leio aqui na escola! Tudo empoeirado, cheio de teia de aranha, uma judiação, só vendo! E tem também o “baú”, que está lotado de roupas de época, masculinas, femininas, chapéus, plumas, assessórios, apetrechos, espartilhos, uma infinidade de coisas que nos serviriam e muito nas aulas de teatro!
Dona Maria das Rosas abriu a boca pra falar algo, mas foi interrompida por Bento Passarinho: e sabe, dona “das Rosas”, que nós tivemos um idéia fantástica! Bem que aquela casa poderia nos servir de museu, contando a história de Pequenóplis, o que a senhora acha, será que é impossível?
Dona Maria das Rosas ficou extremamente satisfeita com a consciência cultural de seus alunos e prometeu ajudá-los nessa empreitada. E a primeira coisa que fez foi puxar todo o histórico da referida casa lá no cartório da cidade. Descobriu que o imóvel foi transferido para os domínios da prefeitura local pela não quitação dos impostos, o que a deixou mais exultante ainda, pois assim tudo ficaria mais fácil. Com a papelada em mãos, dirigiu-se à prefeitura para ter com o prefeito e colocá-lo a par da idéia brilhante dos seus pupilos.
A idéia foi aceita e aplaudida pelo prefeito, e a casa iria passar por uma restauração para ficar exatamente com a aparência que tinha no início do século anterior. Lá funcionaria um verdadeiro centro cultural, e na inauguração, a turma de teatro da Escola “Gênios de Pequenópolis” fariam uma apresentação especialíssima! E assim foi, o casarão estava lindo, parecia uma viajem ao século passado, coisa de cinema mesmo! E quanto à peça, ah, isso vocês vão ter que esperar, que contarei numa outra oportunidade!