João Macarrão em: A casa Mal Assombrada!
Em Pequenópolis havia um casarão muito antigo, um dos primeiros construídos no povoado. Isso lá pelos confins do século XX. Diz uma lenda urbana que esse tal casarão é mal assombrado, dizem que por lá morava um casal, em que o homem era um senhor muito rico, bem mais velho que sua esposa, que era ainda uma criança quando se casaram. O Senhor Custódio Casagrande era um rico fazendeiro, austero aos extremos, irredutível perante suas decisões. Seus colonos estavam sempre presos a ele pelas infindáveis dívidas acumuladas anos a fio. Eram empréstimos, financiamentos, fiados na vendinha, etc. Dizem que um desses colonos, seu Tonho Garcia, desesperado por não ter mais como quitar seus débitos, deu sua única filha, Isaura, que na época tinha somente doze anos, como pagamento. Assim a jovenzinha se casou com o viúvo, trinta anos mais velho que ela, e tornou-se a senhora Isaura Casagrande. Dizem os mais velhos que ele desconfiou que sua esposa o traía com seu filho mais velho e que, sem nem mesmo tirar a prova, matou os dois e depois se matou! E assim o casarão acabou ficando abandonado, quando o restante da família mudou-se de lá, com medo dos possíveis fantasmas!
João Macarrão adorava ouvir as histórias que seu avô Liberato contava sobre os sustos que a molecada levava, quando insistia em explorar o casarão dos “Casagrande”. Eita coisa boa que era! Reunir a turma e acampar no quintal do vovô! Enquanto ele ficava contando histórias em volta da churrasqueira, a vovó preparava o melhor chocolate quente do mundo, que eles bebiam acompanhado de um delicioso espetinho de pão de alho e queijo!
E nessas rodas eles davam vazão à lenda do casarão, cada um com sua história, um diz que me disse danado! E depois iam dormir com um baita dum medo, mas que ninguém admitia! E logo amanhecia e com a noite ia-se o medo embora, como se o Sol afastasse as assombrações pra longe deles!
Certo dia, eles estavam jogando vôlei num campinho próximo ao "Casarão Casagrande", e Bento Passarinho deu um Jornada tão alto, que a bola foi parar dentro da casa, entrando por uma janela sem vidros. Aliás, a casa estava toda depredada, o mato tomava conta do ambiente, o que assustava mais ainda. E agora? Quem seria o corajoso que buscaria a bola? Ninguém piscava! Olhos arregalados para o lado do casarão, mas iniciativa que era bom, nada! Aí Milena falou: - E agora? Essa era a nossa última bola, o que faremos? Nossos pais já disseram que não comprariam mais bolas pra nós, caso perdêssemos essa!
O silêncio permanecia! Só se ouvia a respiração descompassada dos adolescentes apavorados! Foi aí que João decretou: - Vamos todos! Ou todos, ou nenhum, ficar sem bola é que não podemos! E lá foram eles, a passos miúdos, quase nem respiravam, tamanho era o medo que sentiam! Ao chegarem às escadas que davam pra varanda, eles pararam, entreolharam-se e Zé Picolé, quase urinando nas calças, disse: Ai, meu Jesus Cristinho, valha-me Deus! Acuda esse seu servo! Ao que todos responderam em coro: - Amém! E assim subiram. Foi João, querendo impressionar a quase namorada, que atreveu-se a empurrar a pesada porta de madeira, que abriu rangendo alto, pela ferrugem das dobradiças. O barulho deixou-os ainda mais assustados e o que sucedeu depois, teria deixado qualquer pessoa traumatizada, não fosse a grande descoberta de Bento Passarinho.
Ao entrarem na casa, um barulho fantasmagórico ecoou pelo ambiente! Milena pulou em cima de João, Ana Pipoca tapou o rosto com as mãos, Zé Picolé fez até xixi nas calças. E Bento já estava quase se borrando todo, quando avistou, num canto da sala, quase escondido pela poeira e teias de aranhas, um ninho de corujas, cheinho de filhotes, e a mãe, soltava gritos para assustar os intrusos e proteger os filhotes! Desfeita a confusão, eles soltaram uma sonora gargalhada e foram em busca da bola, que estava ali mesmo naquela sala. Porém, por aquele dia, eles esqueceram o jogo de vôlei e puseram-se a explorar o velho casarão. Zé Picolé virou motivo de piada por alguns dias, mas o tesouro encontrado por lá foi maior que o mico pago pelo amigo por ter molhado as calças! E o tesouro? Ah, isso fica pra uma outra hora, pra um outro conto!