"A PRIMEIRA GONORRÉIA A GENTE NUNCA ESQUECE"
Interior do interior de Mato Grosso do Sul.
No inverno despedinte a tardinha caia muito lenta, retardando as tão ansiadas trevas do anoitecer, onde certas verdades são questionadas, as licenciosidades são permitidas e o homo-erectus domina o sapiens.
[De hábitos noturnos, como toca de formigas, a casa da luz vermelha era ambiente proibitivo, para quem ainda não contara 9 pares de janeiros, aferidos pelos olhos vigilantes da Dona Ana, a mulher mais odiada pelas namoradas, esposas e "amantes fixas" e a mais idolatrada (e salve, e salve) pelos marmanjos daqueles cafundós, pelos judas desprezados. Ela, a casa, se situava nas cercanias da cidade, não tão perto que pudesse incomodar as "moças de familia" (como se houvesse alguma moça que não de familia) e nem tão distante que impossibilitasse a freqüência dos cidadãos, "direitos", fiéis pagadores de dízimos e impostos. A Dona Ana, pelas autoridades locais, com visível rigor, era tratada nos discursos populares (promessas de fechamento da casa, de banimento da safadeza... nunca jamais cumpridas, como de regra não as são, pelas verves politiqueiras) e a fino pão-de-ló, pelos mesmas autoridades, na intimidade das noites festivas. Eu, então moleque, a tudo assitia, sem a inteira percepção da realidade que me distava daquele paraíso terreno, destinatário de minha ansiedade acumulada pelos hormônios que se degladiavam naturalmente, e mais ouriçadamente quando, em conversas pecaminosas com "maiores de idade", tomava conhecimento de como eram e do que faziam "as meninas da dona Ana"... Embora ainda não dominasse a parte teórica do Manual do Sexo Manual (que publiquei aqui no Recanto somente no ano passado...:), na prática, era por essa cartilha que eu, e os ininiciados, perfilhavávamos... ]
A noitinha, enfim, chegou emprestando as máscaras de trevas, que nem me dei ao luxo de vesti-la com receio de perder detalhes da oportunidade (primeira e talvez derradeira) de penetrar (em todos os sentidos, os mais sórdidos, inclusive) naquele recinto sombrio e misterioso.
Não me importava em cruzar com conhecidos, afinal era "homem" (?), livre e desempedido e... no fundo, encontrar algum conhecido por ali (estranho!, na penumbra ambiente, todos passavam de cabeça baixa, virando o rosto...) seria oportunidade singular para publicizar, entre os "concorrentes", minha "emancipação", afinal embora contasse apenas 16 anos, naquele dia (no dia daquela noite) havia sido emancipado, juridicamente ou judicialmente (?), legalmente e todos os mentes possíveis...
Só faltava dizer isso à dona Ana, fugitiva da escola, e cuja única leitura que fazia era da "cara" do "freguês" (como se fosse uma balconista duma quitanda qualquer)...
- Fora daqui seu moleque, esse lugar é pra homem, não quero encrenca pro meu lado!...
- Mas dona Ana, sou emancipado, é como se eu já tivesse...
- Volte daqui a 2 anos...
- Deixa eu ver esse documento...
Soou, atrás de mim, uma voz grave e conhecida... de meu "honradíssimo" professor de matemática (que, lá, o revi em julho de 2007 e tivemos o prazer de relembrar essa história) e meu advogado constituído naquele instante, em que (usando de sua confiabilidade de frequentador assíduo) intercedeu:
- O rapaz tem razão dona Ana, com esse papel aqui ele é considerado maior pra todo efeito...
- Então se não vou ter incomodação... entra logo moleque, mas vê se vai embora logo que as 9 horas todas as meninas vão estar ocupadas!
... ufa!
- Assim, meio que rejeitado pela mãe-das-putas, adentrei solenemente naquele antro de perdição, cabeça erguida, pinto duro, empostado, feito "homem" e...
(continua... rei)