NA MIRA DA MINISSAIA
Alguns compromissos me levam a embarcar na estação Marechal Deodoro do Metrô. A propósito, em matéria de andar sempre por baixo, o Metrô é a mais rica expressão da engenhosidade humana, depois do salário mínimo.
Prefiro não ocupar nenhum dos lugares vagos, porque o trajeto é curto e, principalmente, porque viaja à minha frente uma bonita moça. Isso não é novidade, já que todas as mulheres são bonitas; o que difere é o tipo de beleza que enxergamos nelas. Mas a moça a que me refiro, dentro da sensualíssima minissaia, faz até santo duvidar da vocação (e pecador, como eu, usar clichê).
Nesse instante iluminado, chego a pensar na figurinista inglesa Mary Quant. Quando ela lançou a minissaia, por certo nem imaginava que algumas décadas depois um paulistano, cruzando a Metrópole por baixo da terra, estaria lhe rendendo uma homenagem.
Depois de breves minutos de deleite e fantasia, já nas escadas rolantes da estação Sé, perco de vista a usuária seminua.
Ao entrar noutra composição, agora com destino à Liberdade, a visão se repete: a mesma moça, transbordando da minissaia, novamente diante de mim. Bendita coincidência!... Ou maldita? A segunda hipótese é a mais provável, porque deixo para trás a Liberdade, por distração e alumbramento, e vou saltar mesmo é na estação seguinte, a exemplo da moça, que desaparece entre os passageiros aglomerados na plataforma.
Que outro remédio senão embarcar de volta à Liberdade? Agora, não esperando mais pelo acaso, meus olhos é que vasculham os quatro cantos do vagão. E o que vêem? Eles vêem, sim, muitas mulheres… Nenhuma de minissaia! Ninguém com menos de trinta! Só balzaquianas, quarentonas, sexagenárias... Mas o alívio acaba sendo maior que o desapontamento.
O jeito é tocar a vida, empurrado por meus compromissos, e afastar de vez a possibilidade do terceiro encontro, que também não sou de ferro, né?
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