Postulação

O cenário era a bela Salzburgo, Áustria. Estávamos numa tradicional escola católica para formação de futuras freiras. A madre superiora havia viajado para Roma para uma semana de moda eclesiástica. Tinha diversas regalias no convento por sua condição superior, dentre elas a melhor habitação, no andar mais alto do edifício.

Já a madre inferiora, logicamente, habitava o porão do mesmo. No entanto, era ela a substituta natural da madre superiora em muitas ocasiões. Isso ocorria especialmente na sua ausência por qualquer motivo ou quando estivesse viajando para Viena, o que ocorria com certa frequência.

Então, no dia em questão, a madre inferiora instruía as noviças sobre a história da Igreja Católica Apostólica Romana. Na lousa havia escrito os nomes e os períodos em que diferentes papas estiveram à frente do Vaticano, desde o início do século XX até nossos dias.

Informou às noviças que somente a partir de 1978, com a eleição do polonês João Paulo II, os papas deixaram de ser exclusivamente italianos. A lista, copiada do Google, informava:

São Pio X (1903-1914)

Bento XV (1914-1922)

Pio XI (1922-1939)

Pio XII (1939-1958)

João XXIII (1959-1963)

Paulo VI (1963-1978)

João Paulo I (1978)

João Paulo II (Polônia) (1978-2005)

Bento XVI (Alemanha) (2005-2013)

Francisco (Argentina) (2013- presente)

Na sequência a madre inferiora perguntou à classe qual deles elas acreditavam ser ou ter sido o papa mais admirado pelas fieis, as mulheres. Que sempre tiveram muito mais fé religiosa do que os homens além de frequentarem as igrejas em maior número e com mais assiduidade do que eles, por isso é que elas tinham uma vida mais longa e saudável. Palavras dela, claro.

Não houve acordo entre as postulantes: quase todos os papas listados foram citados, uns mais outros menos, até que a nociva rebelde, que logo mais faria sua estreia num musical na Broadway, levantou-se de sua carteira e decretou: “O papa mais popular entre as mulheres sempre foi e será o papanicolau.”

Esse não constava da lista e pega assim de surpresa, porque se tratava de um outro departamento de conhecimento, o da saúde feminina, a madre inferiora não teve argumentos para desmenti-la. No entanto, não perdeu o rebolado. Pediu um momento, rapidamente consultou seu notebook e em seguida aproveitou para falar às noviças sobre o exame papanicolau, criado por um patologista grego.

Como também informava o Google, seu nome era Georges Papanicolaou (1883-1962) e seu exame começou a ser aplicado nas mulheres a partir de 1928. Ele conseguia detectar lesões precursoras do câncer do colo do útero e da infecção pelo HPV, contribuindo assim para salvar a vida de muitas delas no futuro.

As noviças fizeram várias perguntas e, sempre com a ajuda do Google, a madre inferiora foi respondendo, às vezes complementada com alguma outra informação pela nociva rebelde, que não entendia apenas de música, teatro e rebelião, também de sexo. Depois, ao falar em futuro e assegurar que o das noviças seria promissor se cuidassem não apenas de sua vida espiritual, igualmente de sua saúde física e mental, ela foi intensamente aplaudida.

Então chamou à frente da classe a nociva rebelde para que ela também recebesse o aplauso das colegas da turma, já que ela havia contribuído para que o assunto fosse tratado e discutido em sala de aula e também dera alguns palpites sobre o mesmo, coisa que certamente a madre superiora não aprovaria com tanta facilidade. Ou nem aprovaria, pensando bem.

E para finalizar aquela aula memorável, a trilha sonora começou a tocar e todas as religiosas cantaram “Tico-tico no Fubá”, de Zequinha de Abreu. Que assim como o exame ginecológico era uma canção conhecida mundialmente.