Melhores amigos

O melhor amigo do homem ao longo do tempo tem sido mesmo o cão.

Embora em alguns lugares mais frios a preferência tenha sido pela companhia do uísque.

Às vezes o uísque e o cachorro ao mesmo tempo, porque não existe lei alguma proibindo que se tenha mais de um amigo no mundo.

Em países menos frios, o uísque deu vez à cachaça. Homem, garrafa de cachaça e cachorro amarrado com cordinha de barbante ou mesmo solto tem sido uma combinação muito comum.

Quanto às mulheres, o melhor amigo delas foi inicialmente um colar de diamantes, influenciadas que foram por Marilyn Monroe.

Quando o dinheiro dos amantes não deu mais para comprar diamantes, os cabeleireiros passaram a ser seus melhores amigos e confidentes daí em diante.

Hoje em dia o melhor amigo de uma mulher é mesmo o celular.

Com o celular ela pode agendar, onde estiver, hora com o cabeleireiro, a manicure, a esteticista, o tricologista, o ginecologista e outros especialistas.

Pode ainda falar com o amante, marcar um almoço com ele num bom restaurante ou, num motel, passar com ele ótimos instantes numa piscina relaxante, olhando pro céu.

Pode ainda ligar para uma famosa joalheria para saber se os diamantes baixaram de preço para que ela possa pedir ao amante que lhe dê de presente ao menos um pequeno anel de brilhante.

As mulheres nunca tiveram tantos amigos como hoje em dia. Basta ter um celular. Ou dois, depende, enquanto os maridos ainda continuarem pagando suas contas de telefonia.

Quem me disse tudo isso um dia, tempos atrás, foi uma especialista em psiquiatria, a doutora Sigmunda F. Faria. E fez muito.

Ela tratava as neuroses de Neusa, minha ex-mulher: as duas se apaixonaram durante uma sessão de terapia no teatro com Antonio Fagundes e companhia e se jantaram uma à outra depois.

Hoje meus melhores amigos são meus livros e o luar do sertão. Noite calma, sossego na alma nessa solidão sem cachaça, uísque e nem mesmo um cão.

É a vida que eu pedi. Adeus.