Escrevinhando...

"Nossa, querida, há quanto tempo não a vejo!"

"Verdade! Como vai?"

"Bem, e você?"

"Vou indo, ainda tentando ser escritora, não lembra? Leio tanta porcaria que sou bem capaz de escrever uma."

"È? E do quê exatamente eu deveria me lembrar?"

"Daquele livro infantil que ainda não escrevi porque me deu um branco de neve logo no começo."

"Não, sinceramente não me lembro. Mas você quis dizer que não consegue avançar na escrita porque lhe deu um branco, um bloqueio mental, não é?"

"É, mas no caso me deu um branco de neve porque o livro é sobre uma princesa da Noruega, um país onde faz muito frio, onde cai muita neve no inverno. E depois que a neve caiu e veio o verão me deu um branco total, feito uma página em branco de um livro em branco."

"Entendi... Mas você foi à Noruega em busca de inspiração para escrever?"

"Não, nem mesmo fui a Serra Negra, onde faz muito frio, mas tudo é bastante caro lá, né? Imagine então viajar para a Suécia."

"Suécia? Mas a princesa não era norueguesa?"

"Suécia, Noruega, Dinamarca, misturo tudo, nunca fui boa aluna de História..."

"Acho que você quis dizer de Geografia... Sabe, está um pouco confuso para mim, mas vai ter príncipe nessa história, não vai?"

"Claro que vai ter, mas ele é um sapo."

"Um sapo?"

"Sim, a princesa precisa beijá-lo na boca para que vire um príncipe. Ele só vai aparecer no final da história. Um dia ele foi enfeitiçado por uma bruxa que queria transar com ele, mas o príncipe se negou a ir para o motel com ela e sofreu a maldição."

"Nossa! E enquanto isso..."

"Ah, enquanto o sapo não coaxava na lagoa, a princesa se divertia no meio do mato com os oito anõezinhos."

"Espere aí, não eram sete os anõezinhos?"

"Sete? Não sei... Eu também nunca fui boa em Matemática."

"Sei... Mas você acabou me contando praticamente a história toda. Então acabou o seu branco, pode voltar para casa e colocar tudo no papel agora."

"Impossível, amiga!"

"Impossível, como?"

"Só sei escrever na telinha do celular."