Chorando no cinema
Não, não é aquela do Titanic.
Não mesmo?
Eu também estava enganado. Uma pesquisa universitária recente mostrou que até agora a cena mais triste registrada no cinema não é o final do filme dirigido por James Cameron em 1997, que levou multidões de espectadores às lágrimas. É uma cena de outro filme, sabia?
Não. E qual é, então?
O campeão da choradeira cinematográfica é mesmo O Campeão, de 1979, direção de Franco Zefirelli. O protagonista, um lutador de box, depois de uma luta morre em frente ao filho pequeno, que suplica: “Campeão, acorda!” A cena, dizem, é de cortar o coração de qualquer um. Não cortou o meu porque não vi esse filme ainda. Você viu?
Também não. E agora nem quero ver, Deus me livre!
Tem outro filme que aparece muito bem na lista, que ainda faz muita gente chorar, especialmente as crianças: é Bambi, dos estúdios Disney, lançado em 1942. Esse eu vi quando era criança. E você?
Também vi Bambi quando criança, não no cinema, mas em vídeo. Realmente é impossível não chorar quando a mãe do animalzinho é morta pelo tiro de um caçador. Estranho um desenho animado ter uma cena tão triste como essa, não?
De fato. Sabe qual foi a última vez que chorei no cinema?
Não. Pode contar?
Claro, mas faz alguns anos já. Foi durante a exibição de uma cópia restaurada daquele famoso filme de Billy Wilder de 1959, Quanto Mais Quente Melhor.
Mas espere aí: que eu me lembre esse filme é uma comédia, não um drama.
Bem, era um drama para quem queria conseguir bebidas alcoólicas nos tempos da Lei Seca, porque a história se passa naquela época. Concorda?
Esse negócio de drama pela proibição das bebidas é por sua conta, porque Quanto Mais Quente Melhor é comédia, uma das melhores de todos os tempos, isso eu sei. Mas qual foi a cena que fez você chorar então? Porque não me lembro de nenhuma cena triste desse filme tão engraçado.
Pois foi logo no início: cheguei um pouco atrasado na sessão, o cinema estava todo escuro, sentei numa poltrona e adivinha...
O quê?
Um filho da puta qualquer tinha colocado algumas tachinhas na poltrona e eu me sentei nelas sem querer. Vai me dizer que se isso tivesse acontecido com você não teria chorado, pouco importando se o filme fosse comédia ou drama?
Bem, isso jamais teria acontecido comigo.
Já sei: sempre que vai ao cinema você passa a mão no assento da poltrona antes de se sentar, é isso?
Não. Faz anos que não vou ao cinema. Baixo todos os filmes que quero ver em sites piratas. Economizo uma grana preta e não corro o risco de ter a bunda furada. E falando em furo já viu a nova cópia de O Dólar Furado, aquele famoso spaghetti western de 1965?
Não, nem sabia que o filme tinha sido restaurado. Você viu?
Também não, porque não tem cópia nova, eu estava brincando.
Ah é? Estava brincando? Então aproveite para rolar o bambolê, ô Bambi!